Sofrimento mental leva a autorização de eutanásia na Holanda

Uma jovem recebeu no final de abril autorização para passar pelo processo eutanásia após aguardar 3 anos por ela. O caso aconteceu na Holanda, país que possui legislação sobre o tema há mais de 20 anos.

No Brasil, a prática é considerada crime, e até mesmo questionar o assunto é muito temido pelos médicos.

Muitas vezes, com medo de estarem praticando uma possível eutanásia, profissionais lançam mão da distanásia

A eutanásia, conhecida como boa morte em seu sentido original, é a situação em que o paciente e/ou familiar pedem pela morte (e esse pedido é atendido).

No Brasil a prática é considerada crime e, por isso, temida pela grande maioria dos profissionais médicos. Em face disso, muitos, com receito de serem acusados de tal prática, acabam indo ao outro extremo e praticando a distanásia que é o prolongamento do processo de morrer. Ou seja, lançam mão de diversos artefatos, caminhos e procedimentos, que não trazem qualidade de vida ao paciente e apenas aumentam seu sofrimento.

Essas questões que permeiam o campo da ética e da bioética costumam vir à tona em casos de pacientes onde a cura não é mais possível e, especialmente, nos pacientes que são submetidos aos cuidados paliativos.

E, num momento em que o Brasil apresenta aos seus habitantes e ao mundo sua Política Nacional de Cuidados Paliativos, a discussão sobre esse tema é importante e necessária.

Sofrimento mental leva a autorização de eutanásia na Holanda

O tabu de falar sobre a morte

Nascemos e a única certeza que temos em vida é que um dia morreremos. Sabemos que todos possuímos o livre-arbítrio sobre nossas escolhas. Não seria, então, um direito de o paciente decidir sobre seu fim de vida a depender das condições em que se encontrar nele?

Sabemos que nossa sociedade ainda enxerga a morte como um tabu. O que dizer então da eutanásia, entendida por muitos como uma abreviação da vida. A vida, dom divino, dádiva que nos é concedida…

Mas, e se olhássemos por outro ângulo? E se enxergássemos a eutanásia como uma abreviação do sofrimento?

cuidados paliativos

Paciente em busca de alívio

Zoraya ter Beek, a paciente que abre esse texto, possuía diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA), depressão crônica, ansiedade e transtorno de personalidade, tendo declarado que estava submetida a “sofrimento mental insuportável” e por isso optado pela eutanásia.

Antes de tomar essa decisão, Zoraya passou por quase 10 anos em processo de acompanhamento psiquiátrico e psicológico. Em entrevista ao britânico The Guardian, a jovem informou que no início teve medo de magoar sua família, porém que não se via voltando atrás em sua decisão e que via ela como algo que lhe trazia “grande alívio”.

No filme Como eu era antes de você assistimos ao drama da jovem moça que se apaixona pelo paciente que cuida e que não entende, num primeiro momento, a escolha dele pelo caminho da eutanásia. Ao final da história conseguimos compreender que, embora para nós pareça uma escolha egoísta, para o paciente era o melhor caminho. O mesmo vale para Zoraya.

Eutanásia
Zoraya ter Beek, 28, together with her partner in the living room of their home in Oldenzaal, the Netherlands, on March 25, 2024.

Antes de encerrar esse texto, quero registrar que de nenhuma maneira meu objetivo aqui é defender a prática de eutanásia. Jamais poderia fazer isso pela prática ser crime, e por ter um compromisso com a vida enquanto médico e ser humano.

Mas, é fato, que é justamente esse compromisso com a vida que me faz refletir, questionar e abordar esse tema. Afinal, diante de um quadro irreversível, em que a possibilidade de cura não é palpável e que os cuidados se mostram insuficientes para assegurar qualidade de vida ao paciente e sua família, seria a eutanásia uma abreviação da vida ou a chance de suprimir esse sofrimento de uma forma planejada e com o enfrentamento da indesejada das gentes de peito aberto?

Sofrimento mental leva a autorização de eutanásia na Holanda

Referências:

THE GUARDIAN. Dutch woman, 29, granted euthanasia approval on grounds of mental suffering

 

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