O Ácido Úrico é um composto nitrogenado produto do catabolismo das purinas. Concentrações elevadas podem fazer com que o composto se deposite nos tecidos moles e articulações, cursando com um quadro conhecido como “Gota” (Artrite Gotosa).
Veja mais sobre o exame que avalia a concentração de ácido úrico na corrente sanguínea.
Entendendo o exame
As purinas são bases nitrogenadas dos ácidos nucleicos, e podem ser derivadas de alimentos (carnes, sardinhas, anchovas, frutos do mar, aves domésticas, miúdos, legumes, cervejas) ou podem ser produzidas endogenamente.
As purinas sofrem um processo de degradação formando a hipoxantina e na sequência xantina, que por sua vez (sob ação da enzima xantina oxidase) forma o ácido úrico.
Níveis elevados de ácido úrico na circulação sanguínea acabam se depositando como cristais de urato monossódico em diversos tecidos do corpo (como pele), na forma de tofos. Quando há depósito nas articulações, os neutrófilos buscam fazer a fagocitose desses cristais levando a liberação de citocinas inflamatórias desencadeando um processo inflamatório. Essa quadro é denominado de gota ou artrite gotosa.
Leia também: Gota: sinais e sintomas, diagnóstico e tratamento.
A hiperuricemia ocorre por duas causas: aumento da produção do ácido úrico ou redução da eliminação – esta última em 90% dos pacientes. A diminuição de eliminação renal é explicada por diversos motivos, entre os quais se destacam: ingestão de álcool, uso de diuréticos (principalmente tiazídicos), obesidade, síndrome metabólica, hipertrigliceridemia e cetoacidose.
Quais os valores de referência?
Para homens, o valor de referência deve estar entre 3,5 e 8 mg/mL.
Em mulheres, 2,7 a 7,3 mg/dL.
Idosos podem ter valores basais um pouco mais elevados.
Em recém-nascidos, a referência é entre 2,5 e 5,5 mg/dL, e em bebês maiores e crianças, 2 a 6 mg/dL.
Acima de 12 mg/dL estamos falando de valores críticos.
O quadro de gota ocorre usualmente com valores acima de 7 mg/dL em homens e 6 mg/dL em mulheres. No entanto, deve-se deixar claro que a gota pode se desenvolver com níveis séricos menores que o limite superior da normalidade. E por outro lado, mesmo que os valores estejam altos, isso não é sinônimo de artrite gotosa.
Limitações do exame
O aumento do ácido úrico não é observado exclusivamente na gota. A hiperuricemia também pode ser vista em outras condições clínicas, como síndrome de lise tumoral, rabdomiólise, aumento de ingestão de purinas, doença renal crônica, hipotireoidismo etc. Além disso, estresse pode aumentar os níveis do composto.
O uso de contrastes recentes para exames de imagem, por outro lado, podem reduzir os níveis séricos. Além disso, é importante conferir os medicamentos que o paciente usa, pois algumas drogas podem interferir nas concentrações séricas basais.
Por fim, lembrar que a concentração do ácido úrico normalmente é maior durante o dia, e menor pela noite.
E os níveis na urina em 24 horas?
Parte do ácido úrico é eliminado pelas fezes (25%), porém a principal forma de excreção é pela urina (75%). Nos rins, ele é reabsorvido nos túbulos proximais, secretado na porção distal dos túbulos proximais e reabsorvido nos túbulos distais.
A eliminação pela urina depende de 3 pontos: nível de ácido úrico no sangue, filtração glomerular e a secreção tubular de ácido úrico na urina. O aumento dos níveis de ácido úrico na urina é denominado Hiperuricosúria. Nessa situação, o ácido úrico pode ficar supersaturado na urina e cristalizar formando cálculos renais.
Para avaliar o ácido úrico na urina, utiliza-se um frasco coletor apropriado, e todo o volume urinário produzido em 24 horas deve ser coletado.
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Referências:
Pagana, KD; Pagana TJ. Mosby’s Manual of Diagnostic and Laboratory Tests. 6 ed. – Elsiever – 2017.
Caquet, René. 250 exames de laboratório: prescrição e interpretação / René Caquet; tradução de Laís mEDEIROS, Bruna Steffens e Janyne Martini – 12. Ed. – Rio de Janeiro – RJ: Thieme Publicações, 2017.