Relato de caso: Um raro quadro de Tuberculose Esofágica

tuberculose

INTRODUÇÃO

A tuberculose é uma doença infectocontagiosa provocada por uma bactéria chamada Mycobacterium tuberculosis que afeta principalmente os pulmões, mas pode também acometer outros órgãos tais como rins, ossos, meninges, pericárdio, intestino e esôfago.

Na grande maioria dos casos, cerca de 85% deles, o acometimento é pulmonar. Neste artigo veremos um caso raro de tuberculose em que o paciente apresentou comprometimento esofágico. O caso foi relatado por P. Presant e sua equipe do Departamento de Tuberculose da Faculdade de Medicina de Amritsar, Índia.

TUBERCULOSE EXTRA-PULMONAR

A infecção do trato gastrointestinal pela M.tuberculosis pode ocorrer em qualquer local do seu trajeto, contudo, os locais mais frequentes são o íleo terminal, o ceco e o peritônio. O comprometimento do esôfago na tuberculose é um evento extremamente raro ocorrendo somente em 2,8% dos casos gastrointestinais da doença, casos que por sua vez também não são comuns.

A tuberculose esofágica primária, ou seja, quando o local inicial da infecção se dá no esôfago, apresenta pequena incidência devidos aos inúmeros mecanismos de proteção que este órgão apresenta, principalmente pela presença de um epitélio escamoso estratificado recoberto por um muco protetor.

Assim, na maioria das vezes, a infecção esofágica é secundária à infecção de estruturas adjacentes. Essa infecção em tecidos vizinhos é a maior causa do sintoma mais comum da tuberculose de esôfago, a disfagia (dificuldade para deglutir), devido a extensão dessas estruturas e compressão sobre o tubo digestivo superior.

A tuberculose extrapulmonar localizada no esôfago deve ser sempre uma hipótese diagnóstica a se considerar em quadros de ulceração esofágica pois a doença pode acarretar diversas complicações com sua evolução. Entre essas complicações estão perfurações, fístulas, hemorragias, hematêmese (vômitos sanguinolentos), estenoses, divertículos e pneumonia por aspiração.

O PACIENTE

O paciente deste caso é um homem de 50 anos que procurou o atendimento hospitalar com uma queixa de dificuldade para deglutir que apareceu há cerca de 4 meses. Ele relatou grande dificuldade principalmente para engolir alimentos sólidos.

Entre os sintomas associados durante esse período, o paciente disse apresentar quadros recorrentes de febre baixa, anorexia (perda de apetite) e redução do peso. Ele também negou qualquer sintomatologia respiratória como tosse, expectoração, dispneia (falta de ar) ou dores torácicas.

O paciente não apresentava história de contato com pessoas acometidas pela tuberculose, não fazia uso de bebidas alcoólicas, porém, era fumante há 25 anos com carga tabágica de 12,5 anos-maço (5-10 cigarros por dia).

O estado clínico no momento da admissão hospitalar era o seguinte: afebril, taquicárdico e taquipneico. Os exames laboratoriais demonstraram leucocitose (12.800) e velocidade de hemossedimentação (VHS) elevada (110 mm/1ª hora). A rotina infecciosa para hepatite C, B e HIV foi negativa. O exame de escarro para BAAR também foi negativo.

Nos exames de imagem o paciente apresentou radiografia de tórax normal. A tomografia computadorizada utilizando contrates demonstrou espessamento esofágico distal com estreitamento luminal e poucos linfonodos mediastinais aumentados. Uma endoscopia foi solicitada e nela foram observadas ulcerações friáveis e com nódulos com limites na junção gastroesofágica.Relato de caso: Um raro quadro de Tuberculose Esofágica

O exame histopatológico não demonstrou malignidade das lesões que apresentavam granulomas epitelioides com células gigantes e necrose caseosa. A detecção da M. tuberculosis foi possível depois de um teste de amplificação de material genético (PCR).

O TRATAMENTO

Após o diagnóstico de tuberculose ser confirmado, o paciente foi submetido ao tratamento com isoniazida, rifampicina, pirazinamida e etambutol. O paciente também foi orientado a permanecer realizando o tratamento durante os próximos 6 meses.

CONCLUSÃO

Em pacientes com quadros suspeitos de tuberculose e que apresentam disfagia ou odinofagia (dor ao deglutir), o diagnóstico diferencial de tuberculose esofágica sempre deve ser considerado, principalmente quando as lesões esofágicas são negativas para malignidade. O PCR para tuberculose pode ser muito útil nos casos em que a suspeita persiste mesmo após o exame do escarro negativo. Negligenciar o diagnóstico de tuberculose esofágica pode levar a muitas complicações que somente poderão ser manejadas com intervenções cirúrgicas.

Agora, depois de conhecer mais sobre a tuberculose esofágica, aproveite e leia também o relato de caso de uma paciente que apresentou urina de coloração verde – RELATO DE CASO: EXISTE URINA VERDE?

REFERÊNCIAS

Prasant P, Kajal NC, Dadra R, Nithin KT, Kaur J. Esophageal tuberculosis: A rare case report. Int J Mycobacteriol. 2019 Oct-Dec;8(4):409-411. doi: 10.4103/ijmy.ijmy_133_19. PMID: 31793516.

Ketata W, Rekik WK, Ayadi H, Kammoun S. Les tuberculoses extrapulmonaires [Extrapulmonary tuberculosis]. Rev Pneumol Clin. 2015 Apr-Jun;71(2-3):83-92. French. doi: 10.1016/j.pneumo.2014.04.001. Epub 2014 Aug 15. PMID: 25131362.

Golden MP, Vikram HR. Extrapulmonary tuberculosis: an overview. Am Fam Physician. 2005 Nov 1;72(9):1761-8. PMID: 16300038.

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