

A dieta para Síndrome do Intestino Irritável tem um papel fundamental no manejo dos sintomas dessa condição, que afeta significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Diversas abordagens nutricionais têm sido estudadas, incluindo a dieta com baixo teor de FODMAP, a dieta sem glúten e a Dieta Mediterrânea. Mas, entre essas opções, qual é a melhor dieta para a Síndrome do Intestino Irritável, capaz de proporcionar maior alívio dos sintomas e bem-estar ao paciente?
Dietas para a Síndrome do Intestino Irritável – Comparando FODMAP, Sem Glúten e Mediterrânea
A síndrome do intestino irritável (SII) é um distúrbio gastrointestinal diagnosticado por uma constelação de sintomas, incluindo dor abdominal, distensão abdominal e hábitos intestinais alterados. Sua etiologia precisa é desconhecida, afetando aproximadamente 10–15% da população global e criando um impacto na sua qualidade de vida.
O tratamento farmacológico é uma opção; entretanto, a farmacoterapia com anticolinérgicos, antiespasmódicos e antidiarreicos geralmente é inadequada. Como resultado, mudanças no estilo de vida e intervenções dietéticas são reconhecidas como a base para o controle dos sintomas.
Entre as diversas abordagens dietéticas, a dieta com baixo teor de FODMAP (oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis, LFD) e a dieta sem glúten (GFD) surgiram como estratégias promissoras para o alívio do desconforto relacionado à SII.
Metanálise compara estratégias dietéticas no manejo da Síndrome do Intestino Irritável
Em uma metanálise recente, 23 ensaios clínicos randomizados foram avaliados, abrangendo um total de 1.689 pacientes. Os artigos compararam as seguintes dietas: dieta LFD (low FODMAP diet), GFD (glúten free diet), com baixo teor de lactose, com baixo teor de carboidratos, à base de tritordeum (TBD), dieta mediterrânea, LFD em combinação com GFD e LFD com adição de fibras.
As principais comparações realizadas foram:
Dieta LFD vs. Dieta Padrão: LFD demonstrou superioridade em relação à dieta padrão quanto à severidade dos sintomas, interferência na vida geral, insatisfação, distensão, frequência de evacuações.
GFD vs Dieta Padrão: não houve significância estatística.
GFD vs LFD: não houve significância estatística.
Com relação à melhora da severidade dos sintomas, tanto a dieta LFD quanto a dieta mediterrânea apresentaram boa eficácia, sendo que a dieta mediterrânea apresentou a maior melhora na pontuação, seguida pela combinação LFD/GFD e pela LFD.
Low FODMAP e a Síndrome do Intestino Irritável: como a estratégia reduz sintomas e melhora a qualidade de vida
FODMAPs consistem em carboidratos de cadeia curta que são mal absorvidos no duodeno, resultando em fermentação por bactérias intestinais e exacerbando gases e secreções, o que contribui para os sintomas da SII. A dieta LFD (Low FODMAP Diet, ou dieta baixa em FODMAP) concentra-se na restrição de alimentos que contêm esses carboidratos específicos, levando à melhora dos sintomas.
A dieta rica em FODMAP aumenta a fermentação e a produção de gases, aumentando assim o volume do cólon e levando a dor abdominal, distensão e inchaço. Para indivíduos com SII, que frequentemente apresentam hipersensibilidade visceral, esses sintomas podem ser exacerbados.
A LFD resulta em uma redução em frutose probiótica e galactoligossacarídeos (GOS), diminuindo assim o substrato disponível para a fermentação do cólon. Essa redução é corroborada por uma diminuição na liberação de gases como hidrogênio e metano pela flora normal do intestino grosso.
Posteriormente, essa intervenção dietética leva a uma melhora na dor abdominal e no inchaço, melhorando, em última análise, a qualidade de vida dos pacientes.
Além disso, a LFD demonstrou ser uma opção melhor, em comparação com outras dietas, para melhorar a frequência das evacuações: isso é atribuído à diminuição de substâncias osmoticamente ativas, incluindo ácidos graxos de cadeia curta derivados da fermentação de FODMAPs por bactérias no trato alimentar.
Papel da Dieta sem Glúten na Síndrome do Intestino Irritável
A dieta sem glúten (GFD – glúten free diet) concentra-se na eliminação de alimentos com alto teor de glúten, incluindo trigo, cevada e centeio. Essa abordagem pode ajudar pacientes com SII com sensibilidade ao glúten não celíaca ou doenças celíacas coexistentes, e foi relatado que alivia os sintomas gastrointestinais em alguns pacientes com SII.
No entanto, o papel do glúten na patogênese e nos sintomas da SII não está totalmente esclarecido, e as evidências sobre a eficácia da dieta sem glúten permanecem incertas.
Leia também: Síndrome do intestino irritável – o glúten não é mais um vilão?
Com relação à GFD, a metanálise não observou diferença estatisticamente significativa nos sintomas da SII, como distensão abdominal, escore de insatisfação e escore de interferência na vida.
O efeito da dieta sem glúten em pacientes com SII permanece ambíguo, visto que alguns estudos indicam melhora nos sintomas e na gravidade da doença. Essa melhora pode ser atribuída não apenas à redução do glúten na dieta, mas também à diminuição no consumo de alimentos industrializados com açúcares fermentáveis, como os frutanos.
Portanto, pode ser o efeito combinado da redução do glúten, além de outros componentes do trigo, como inibidores de amilase tripsina (ATIs), lectina e frutanos, que contribui para esses resultados.
Outro aspecto a ser explorado é a combinação de dieta livre de lactose e dieta sem glúten, pois parece haver melhora na gravidade dos sintomas da SII com uma abordagem de combinação dietética.
Essa melhora foi atribuída à redução da inflamação intestinal e às alterações na microbiota intestinal. Muitos pacientes com SII evitam lactose, independentemente de apresentarem ou não deficiência de lactase. A intolerância à lactose, distinta da deficiência de lactase, é comum entre pacientes com SII.
Evidências do uso da Dieta Mediterrânea na Síndrome do Intestino Irritável
A dieta mediterrânea foi bem tolerada pelos pacientes com SII, sendo baseada em vegetais e caracterizada por um suprimento equilibrado de carboidratos, proteínas, lipídios, fibras, frutas, pães, cereais, leguminosas, nozes e azeite de oliva. Esta dieta desempenha um papel crucial na prevenção de um excesso de FODMAP, mitigando assim a exacerbação dos sintomas da SII.
Além disso, essa abordagem reduz o risco de doenças cardiovasculares e câncer, e alivia os sintomas de depressão. A dieta mediterrânea melhora os sintomas gastrointestinais ao influenciar a composição do microbioma, bem como a desregulação entre o intestino e o cérebro, reduzindo assim a ansiedade e a depressão.
Quais as limitações do estudo?
As limitações deste estudo incluem a heterogeneidade dentro dos estudos examinados, com relação ao desenho do estudo e às medidas de desfecho. Entretanto, muitos dos fatores de heterogeneidade são inerentes a estudos sobre nutrição.
Além disso, desfechos autorrelatados, como sintomas subjetivos e qualidade de vida, são suscetíveis a viés de memória. No entanto, isso se assemelha às práticas da vida real de recomendação de dietas para pacientes.
A ausência de comparações diretas para dietas como a dieta mediterrânea representa uma lacuna notável na literatura, lembrando a necessidade de pesquisas futuras nessa área.
Também é importante observar que existem muitas limitações em relação à dieta mediterrânea e sua definição. Enquanto a dieta mediterrânea tradicional se concentra no azeite de oliva como a principal fonte de lipídios e no consumo moderado de peixes e aves, alguns estudos observaram que os principais componentes são a ingestão semanal de peixes, leguminosas e nozes, e uma consumo de azeite de oliva > 4 colheres de sopa por dia. Portanto, a falta de uma definição padronizada da dieta mediterrânea é uma limitação.
Afinal, qual é a melhor dieta para Síndrome do Intestino Irritável?
Os autores observaram a superioridade da dieta com baixo teor de FODMAP no manejo dos sintomas da SII e na melhoria da qualidade de vida. A dieta mediterrânea também surgiu como uma abordagem alimentar alternativa.
Pesquisas futuras devem se concentrar em conduzir comparações diretas da dieta mediterrânea com a dieta com baixo teor de FODMAP e explorar os efeitos a longo prazo da adesão às intervenções dietéticas.
A melhor dieta para a Síndrome do Intestino Irritável deve ser individualizada, levando em conta as particularidades de cada paciente, as evidências científicas disponíveis e a viabilidade de adesão a longo prazo. É fundamental que o acompanhamento seja feito por um nutricionista, já que uma abordagem eficaz para um paciente pode não ser adequada para outro.
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Referências:
HAGHBIN, H. et al. Efficacy of Dietary Interventions for Irritable Bowel Syndrome: A Systematic Review and Network Meta-Analysis. J. Clin. Med. 2024, 13, 7531. https://doi.org/10.3390/jcm13247531.