Essa semana, mais um trabalho trouxe esperança para o tratamento da infecção por HIV-1.
Pesquisadores investigaram o uso de um anticorpo monoclonal contra o HIV-1, administrado em indivíduos recém diagnosticados. Essa administração precoce alterou o curso da doença e induziu controle virológico de forma eficaz, além de mais rápido em comparação ao uso de antirretrovirais.
Os resultados deste novo ensaio clínico foram publicados na Nature Medicine no último dia 17.
A partir do final de 2013, o Ministério da Saúde estimula tratamento para todas as pessoas vivendo com HIV/AIDS, independentemente da contagem de CD4 e sintomas. Isso ajuda a diminuir a transmissão do vírus, além de aumentar a sobrevida.
Dessa forma, o início da terapia com antirretrovirais (TARV) deve ser feito o mais precoce possível, e o objetivo do tratamento é buscar uma carga viral indetectável (menos de 50 cópias/mL). Porém, a terapia não induz a cura.
O paciente pode permanecer assintomático por até 10 anos, em fase de latência clínica. Inclusive, em pacientes não tratados, o HIV-1 segue replicante e ao superar o sistema imunológico, o paciente entra em fase de AIDS.
Logo, na interrupção da TARV, há uma vantagem para o vírus, que volta a se replicar, o que implica no uso do medicamento ao longo de toda a vida, para efetivamente suprimir a replicação viral e prevenir a progressão da doença.
Além disso, a reconstituição imune (com aumento do CD4) pode levar a um quadro clínico de caráter inflamatório exacerbado, ocorrendo principalmente em pacientes com níveis de CD4 muito baixos. Essa piora “paradoxal” pode ser explicada por doenças que estavam “latentes” e voltam a ser combatidas. Essa síndrome tem início cerca de 4-8 semanas após o início dos medicamentos.
No trabalho, o grupo fez diversas comparações terapêuticas, incluindo TARV de forma isolada, e diferentes combinações com anti-HIV-1 e romidepsina (um inibidor de histona-desacetilase). A análise de carga viral também foi dividida, em três tempos: fase 1, até 10 dias; fase 2, de 10-24 dias; e fase 3, > 24 dias.
Como primeiro resultado, os pesquisadores observaram que o uso do anticorpo já no início da TARV permite uma eliminação viral eficaz na primeira fase de infecção, além de um decaimento mais rápido do RNA viral na segunda fase. Até então, nenhuma outra intervenção havia proposto respostas tão rápidas.
Essa melhora na eliminação viral foi atribuída a capacidade de ligação direta do antígeno ao anticorpo, visto nos ensaios moleculares e celulares.
Vantagem dos anticorpos em comparação a TARV – manutenção de resposta
A capacidade específica de ligação de anticorpos resulta em uma “resposta vacinal”. Isso é particularmente interessante para superar as barreiras de descontinuação do uso de TARV.
Como comentamos, devido à persistência do reservatório do HIV-1, a replicação viral é retomada rapidamente após a interrupção do uso de TARV.
A formação de imunocomplexos estimula a captação e apresentação de antígenos pelas APCs em tecidos linfoides, resultando no aumento das respostas adaptativas T CD8+. Essa manutenção imunológica pode ser importante nos pacientes HIV+, a fim de garantir controle pós-tratamento.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 40 milhões de pessoas já morreram em decorrência da infecção por HIV, sendo um problema de saúde mundial. A história natural da doença, sem o tratamento adequado, pode levar o paciente a óbito em cerca de 12 anos após o diagnóstico.
Nesse sentido, há grandes esforços em busca do tratamento para a doença. Em julho desse ano, o quarto caso de remissão prolongada foi anunciado com o uso de células tronco em um paciente de 66 anos.
Enquanto não há uma cura definitiva, seguimos em busca da melhora na qualidade de vida dos pacientes, evitando o surgimento da imunodeficiência.
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Referências:
Gunst, J.D., Pahus, M.H., Rosás-Umbert, M. et al. Early intervention with 3BNC117 and romidepsin at antiretroviral treatment initiation in people with HIV-1: a phase 1b/2a, randomized trial. Nat Med (2022). https://doi.org/10.1038/s41591-022-02023-7
Ministério da Saúde. PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS PARA MANEJO DA INFECÇÃO PELO HIV EM ADULTOS. Brasília 2013.