Um estudo recente trouxe dados interessantes quanto a prevalência de disfunção erétil em pacientes com diabetes. Os pesquisadores notaram diferenças importantes entre os diferentes subgrupos de pacientes, indicando o diagnóstico pode estar sendo subestimado em alguns casos.
Disfunção erétil e diabetes: há relação?
A disfunção erétil é definida como a incapacidade persistente de obter ou manter uma ereção peniana durante a relação sexual. É um distúrbio que afeta principalmente homens com mais de 40 anos, e está associada a diversos fatores, como má qualidade do relacionamento, baixa satisfação pessoal e baixa autoestima.
Homens com diabetes são mais suscetíveis a desenvolver a disfunção erétil do que aqueles sem a doença (cerca de três vezes mais), associado à idade mais avançada, estilo de vida sedentário e presença de síndrome metabólica. Os dados epidemiológicos disponíveis na literatura relatam uma prevalência maior do distúrbio em homens com diabetes tipo 2 do que aqueles com diabetes tipo 1.
Um estudo publicado no fim do ano passado buscou avaliar a prevalência da disfunção erétil nos diferentes subgrupos de diabetes. De acordo com os autores, o subgrupo designado diabetes insulina-deficiente tem a maior prevalência de retinopatias e neuropatias, sugerindo a possibilidade de maior prevalência de disfunção erétil nesse grupo – visto que há uma associação conhecida destas comorbidades com o distúrbio erétil.
Além disso, o subgrupo com diabetes resistente à insulina apresenta o maior risco cardiovascular e os níveis mais altos de biomarcadores de inflamação, incluindo proteína C reativa de alta sensibilidade, o que pode levantar a hipótese de que esse subgrupo também possa apresentar maior prevalência de disfunção erétil.
O estudo
Os participantes fazem parte de um estudo maior, conhecido como German Diabetes Study (GDS). Nesse estudo observacional, participam indivíduos com diabetes com duração conhecida de <1 ano e idade entre 18 e 69 anos. Formas secundárias de diabetes, gravidez atual e doenças cardíacas, hepáticas, renais ou psiquiátricas crônicas agudas ou graves estão excluídas.
A disfunção erétil foi definida utilizando o respostas autorreferidas pelo Índice Internacional de Função Erétil (IIEF-5), em homens que tiveram pelo menos uma tentativa sexual nas últimas 4 semanas.
Os participantes responderam a cinco perguntas para avaliar sua capacidade de alcançar e manter uma ereção suficiente para uma relação sexual satisfatória sem qualquer tratamento. As opções de resposta incluíram ‘nunca’, ‘raramente’, ‘às vezes’, ‘principalmente’ e ‘sempre’ e foram classificadas de 1 a 5, e pontuações mais baixas do IIEF indicando pior função erétil.
A disfunção estava presente em 23% de todos os homens com diabetes. Como o esperado, homens com o distúrbio eram mais velhos, tinham valores mais altos de IMC, HOMA2-IR e PCR. No entanto, apresentaram níveis de colesterol HDL mais baixos. O controle glicêmico, tabagismo, valores de TFGe, hipertensão e prevalência de depressão foi semelhante entre os grupos com e sem a disfunção.
Prevalência de disfunção erétil nos diferentes subgrupos de diabetes
A prevalência da disfunção foi diferente entre os grupos de pacientes, assim como algumas características basais:
Diabetes insulinorresistente: pacientes com TFGe mais baixa, níveis de triacilglicerol mais altos, hipertensão mais frequente e PCR mais alta; 52% apresentaram disfunção.
Diabetes insulina-deficiente: pacientes com pior controle glicêmico, menor HOMA2-B e maior prevalência de neuropatia cardíaca autonômica; 31% apresentaram disfunção.
Diabetes relacionada a meia idade: pacientes mais velhos; 29% apresentaram disfunção.
Diabetes relacionada à obesidade: pacientes com maiores valores de IMC; 18% apresentaram disfunção.
Diabetes autoimune: homens mais jovens; 7% apresentaram disfunção.
O subgrupo caracterizado por obesidade e pronunciada resistência à insulina foi associado a maior risco relativo (RR) para disfunção erétil prevalente do que todos os outros quatro subgrupos, particularmente quando comparado com o subgrupo caracterizado por obesidade, mas não por resistência à insulina.
Este achado reforça que a resistência à insulina aumenta o risco de disfunção erétil e explica a alta prevalência da disfunção na síndrome metabólica, que é frequentemente caracterizada pela resistência à insulina como uma característica chave. Os autores comentam quanto a associação entre resistência à insulina o distúrbio envolvendo disfunção endotelial nas artérias penianas, diminuindo sua síntese e liberação de óxido nítrico endotelial.
Outro ponto levantado pelos autores é sobre a resistência à insulina preceder a diabetes, e o desenvolvimento da disfunção erétil pode ter começado durante o estágio pré-diabético. No entanto, o estudo não investigou a fundo tal relação.
O estudo é válido e importante no sentido de mostrar que os diferentes subgrupos de diabetes têm diferentes prevalências de disfunção erétil, bem como sugerir a possibilidade de um rastreamento abrangente e tratamento precoce nos grupos mais acometidos.
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Referências:
Disfunção erétil no diabetes é subestimada – Medscape – 3 de junho de 2022.
Maalmi, H., Herder, C., Bönhof, G. J., Strassburger, K., Zaharia, O. P., Rathmann, W., Burkart, V., Szendroedi, J., Roden, M., Ziegler, D., & GDS Group (2022). Differences in the prevalence of erectile dysfunction between novel subgroups of recent-onset diabetes. Diabetologia, 65(3), 552–562. https://doi.org/10.1007/s00125-021-05607-z