Obesidade: qual a parcela de culpa da microbiota intestinal?

obesidade criança

As taxas de obesidade e sobrepeso seguem crescendo em adultos e crianças. Atualmente, a obesidade é um problema epidêmico mundial, com mais de 4 milhões de mortes por ano relacionadas a doença.

Já falamos um pouco disso em um post anterior. Confira aqui.

Apesar dos fenótipos da obesidade serem bem evidentes, ser considerado metabolicamente saudável vai um pouco além do óbvio. Os pontos de cortes para obesidade (como IMC por exemplo) podem não corresponder necessariamente a heterogeneidade fenotípica associada ao metabolismo da população. E isso pode ser culpa da microbiota intestinal!

Disbiose

Uma alteração do equilíbrio das bactérias patogênicas e não patogênicas intestinais resulta numa condição chamada disbiose, e já foi associada à diversas doenças.

A microbiota intestinal tem funções imunomoduladoras importantes, que podem estar prejudicadas na disbiose. Ainda, as bactérias intestinais auxiliam na quebra polissacarídeos extracelulares complexos em açúcares mais simples que são mais facilmente absorvidos pelo hospedeiro. Na disbiose, essa absorção é prejudicada.

A relação entre a microbiota intestinal e a perda de peso já tem sido estudada há algum tempo e gerado resultados um tanto controversos. No entanto, um novo estudo publicado no início de outubro pode trazer um novo direcionamento.

obesidade

Bactérias intestinais e metabolismo: qual a relação?

Inicialmente, foram avaliados 105 participantes de um programa de emagrecimento por 12 meses. Cada indivíduo teve dados de um questionário aplicado, bem como exames laboratoriais coletados, incluindo proteômica e metabolômica sanguíneas e das fezes.

Os pacientes foram divididos em dois grupos: aqueles que perderam pelo menos 1% do peso a cada mês, e aqueles que mantiveram o peso estável durante todo o estudo.

O grupo que perdeu peso ao longo do estudo apresentou um aumento em algumas proteínas relacionadas à saúde metabólica, como a adiponectina* (e a APOE também!). Assim, além de reduzirem o IMC durante o período de intervenção, esse grupo tornou-se metabolicamente e imunologicamente mais saudável.

*Relembrando: a adiponectina apresenta funções metabólicas regulatórias na manutenção da glicemia e catabolismo de ácidos graxos. É associada a prevenção do acúmulo de lipídeos e melhora da sensibilidade à insulina.

Os autores propõem uma modulação pelas bactérias intestinais, sugerindo que estas são responsáveis pela modulação da absorção de calorias da dieta do hospedeiro e potencialmente têm impacto na inflamação intestinal.

Neste trabalho, a síntese da parede celular e dos lipopolissacarídeos foi positivamente associada à perda de peso, o que sugeriu que a divisão celular, a produção de biomassa e o potencial de crescimento de bactérias Gram-negativas podem ser importantes. Ainda, os autores observaram que o gênero Prevotella esteve presente apenas no grupo de perda de peso. Quando associado a uma dieta rica em fibras, a presença de Prevotella-bacteroides em altas proporções está associada a uma maior facilidade em perder peso.

As taxas de replicação bacteriana intestinal foram reduzidas naqueles que eram resistentes à perda de peso, independentemente do IMC. Isso pode permitir que o epitélio do hospedeiro absorva uma fração maior de produtos de degradação de polissacarídeos extracelulares no lúmen. Logo, não há a transformação em subprodutos de fermentação (como ácidos graxos de cadeia curta), que auxiliam na redução da inflamação e melhoram a saúde metabólica intestinal. Ou seja, a inflamação não diminui – e já vimos que a obesidade é um processo inflamatório.

 

Conclusão

Altas taxas de replicação bacteriana parecem modular a resposta à perda de peso, bem como a resposta imunológica. Projetar a capacidade funcional da nossa microbiota e associar o uso de probióticos pode ser uma alternativa para otimizar as intervenções dietéticas e perda de peso.

 

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Referências:

Diener, C. et al. Baseline Gut Metagenomic Functional Gene Signature Associated with Variable Weight Loss Responses following a Healthy Lifestyle Intervention in Humans. 2021.

Zatz, M. Microbiota intestinal pode ajudar ou dificultar perda de peso, sugere pesquisa. 2021.

 

 

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