Paracetamol – todo mundo usa!
O paracetamol é um medicamento com propriedades antipiréticas e analgésicas, e tem seu uso amplamente recomendado para dores leves ou moderadas – salvo algumas situações específicas.
O primeiro uso clínico ocorreu no ano de 1893, mas seu uso comercial ocorreu somente após 1950. Durante os anos 60 e 70, aumentou-se a preocupação com a toxicidade que medicamentos analgésicos poderiam causar em pacientes, e na ocasião o paracetamol apresentou bons resultados de segurança. Entretanto, sua consolidação só ocorrera de forma efetiva na década de 80, após outro analgésico famoso a época (a aspirina) ter seu uso associado a síndrome de Reye.
Atualmente, o uso de paracetamol é recomendado para uma variedade de pacientes, como crianças, gestantes e idosos. Ainda assim, o preciso mecanismo de ação não está totalmente elucidado, bem como todos os efeitos adversos relacionados ao seu uso.
Você sabia que a intoxicação por paracetamol é bastante frequente? No nosso anterior post comentamos um pouco sobre o que é, como age este medicamento, e algumas condutas a serem tomadas em caso de intoxicação.
O uso durante a gestação oferece riscos?
Dores intensas causadas pelo parto, bem como o estado febril da mãe, podem impactar de maneira danosa o feto. Outras drogas anti-inflamatórias baseadas em opioides ou anti-inflamatórios não esteroidais possuem riscos conhecidos ao feto, mantendo o uso de paracetamol como primeira linha nessas pacientes.
Embora já seja conhecido a transferência pela placenta, o paracetamol ainda é considerado um medicamento seguro, e cerca de 65% das gestantes fazem uso.
Estudos recentes sugerem que o uso de paracetamol durante a gravidez pode aumentar os riscos de desenvolvimento de algumas doenças, como distúrbios de neurodesenvolvimento, reprodutivos e urogenitais. Algumas publicações evidenciam associação entre a administração em gestantes e complicações neonatais, como insuficiência cardíaca e hipertensão pulmonar.
É importante destacar que os dados utilizados para suporte das hipóteses até o momento partem de estudos in vitro e in vivo. Dessa forma, tais dados ainda não podem ser extrapolados para a realidade em humanos, somado ao fato de não existirem estudos epidemiológicos robustos quanto ao uso de paracetamol e possíveis complicações durante a gravidez.
Há alguma recomendação específica?
Pesquisadores alertam que diversos órgãos de saúde como o Instituto Nacional de Saúde do Reino Unido, a Agência Europeia de Medicamentos e o FDA reconsiderem seus posicionamentos sobre a prescrição indiscriminada de paracetamol durante a gravidez. Ainda que as principais agências de saúde do mundo não façam alertas significativos sobre o tema para as grávidas, tais possíveis adversidades deveriam ser pelo menos mencionadas.
É preciso ter cautela ao realizar afirmações clínicas baseadas em dados de pesquisas cientificas ainda em fases não tão avançadas de desenvolvimento. Avaliar as relações entre dose-resposta, momento gestacional e a utilização do medicamento também são parâmetros que devem ser considerados em uma análise.
Embora não sejam recomendações propriamente ditas, os estudos atuais podem servir de guias para os próximos trabalhos, e um direcionamento às práticas clínicas.
Gostou desse conteúdo? Fique sempre atualizado sobre Farmacologia no nosso Portal!
Referências:
BARRIO, B.C. et al. Consumption of paracetamol during pregnancy. 2020
Caution needed: paracetamol use in pregnancy. Nat Rev Endocrinol (2021).