A Síndrome Serotoninérgica é uma complicação grave e potencialmente fatal resultante da estimulação excessiva de receptores serotoninérgicos. Pode ser pelo uso isolado de algum medicamento com potencial serotoninérgico, mas o mais comum é decorrente da associação entre eles.
Veja mais como ocorre a condição, e como identificar e tratar um paciente com a síndrome de serotonina.
Como ocorre a Síndrome Serotoninérgica?
A serotonina é um neurotransmissor (substância bioquímica que comunica um neurônio ao outro) que está relacionado a modulação de funções cognitivas, termorregulação, broncoconstrição.
A Síndrome Serotoninérgica está relacionada a estimulação excessiva de receptores (principalmente 5-HT1A e 5-HT2A). Esse descontrole geralmente decorre da ingestão de dois medicamentos serotoninérgicos simultaneamente ou da ingestão de serotoninérgico juntamente com inibidores da enzima monoamina oxidase.
Quais os medicamentos que podem causar a síndrome de serotonina?
A associação mais frequente e grave é de inibidores da recaptação da serotonina (ISRS) com IMAO (inibidores da monoaminoxidase). Os medicamentos com potencial serotoninérgico incluem:
- Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS): Fluoxetina, Paroxetina, Sertralina.
- Inibidores de Recaptação de Serotonina e Norepinefrina (IRSN): Desvenlafaxina, Duloxetina.
- Antidepressivos tricíclicos: Amitriptilina, Imipramina.
- Antidepressivos tetracíclicos: Mirtazapina.
- Inibidores da monoamina oxidase (IMAO): Seleglicina, Fenelzina.
- Simpaticomiméticos: Metilfenidato, Anfetaminas.
- Outros: Trazodona, Lítio, Valproato, Metoclopramida.
- Drogas ilícitas: LSD, cocaína, psilocibina (encontrada em cogumelos).
Como identificar um paciente com a síndrome serotoninérgica?
O diagnóstico da síndrome da serotonina é essencialmente clínico, com anamnese detalhada, exame físico completo (incluindo parte neurológica). A condição pode estar presente em todas as idades, e é caracterizada pela tríade: mudança do estado mental, anormalidades neuromusculares e hiperatividade autonômica.
De forma mais direcionada, pode-se utilizar os Critérios de Toxicidade Serotoninérgica de Hunter – história de consumo de agente serotoninérgico + qualquer um dos seguintes achados: clonias espontâneas; clonias induzidas + agitação ou diaforese (transpiração intensa); hiperreflexia + tremor; hipertonia + febre (> 38ºC) + clonias oculares ou musculares; ou clonias oculares + agitação ou diaforese.
Importante lembrar que a condição pode estar relacionada a tentativa de suicídio. Dessa forma, deve-se questionar ativamente sobre o uso de medicamentos, quais as doses tomadas, bem como considerar a avaliação psiquiátrica no momento da consulta.
Leia também: Escala SAD PERSONS estima o risco de suicídio: veja como utilizá-la.
Como tratar?
É importante estar sempre ciente de que se trata de um quadro potencialmente fatal, e deve ser inicialmente tratado em unidade de terapia intensiva (UTI). O cuidado intensivo deve levar em conta vários fatores como o controle da desidratação, controle hidroeletrolítico, controle hepático, suporte respiratório etc. Além disso, sempre suspender a droga serotoninérgica.
Sugere-se a prescrição de benzodiazepínicos para controle da agitação – lorazepam, clonazepam. Paciente mais graves ou refratários podem se beneficiar de medicamentos antagonistas da serotonina, como a ciproeptadina.
Caso o paciente apresenta um quadro de hipertermia (> 41.1°C), é recomendada a imediata sedação e entubação. O uso de antipiréticos não é indicado, pois a causa da febre está ligada a desregulação do set-point hipotalâmico, e esses medicamentos podem levar a outros efeitos colaterais, piorando o quadro.
Prognóstico
O prognóstico é favorável, desde que o quadro seja diagnosticado precocemente e se inicie o tratamento adequado. Os sintomas geralmente se resolvem em até 24 horas após a parada do agente serotoninérgico.
Não há necessidade de um seguimento específico para a Síndrome Serotoninérgica. No entanto, sempre lembrar de evitar o uso de associações farmacológicas que possam cursar com tal patologia.
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Referências:
Geoffrey Isbister, BSc, MBBS, FACEM, MD. Síndrome serotoninérgica. BMJ Practice. https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br/991
Simon, L. V., Torrico, T. J., & Keenaghan, M. (2024). Serotonin Syndrome. In StatPearls. StatPearls Publishing. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29493999/