Já é conhecido que a COVID-19 se manifesta com sintomas respiratórios e sistêmicos. Ainda, os sintomas gastrointestinais e a liberação de RNA do SARS-CoV-2 nas fezes apontam para o trato gastrointestinal como um possível local de infecção viral.
Aqui, vale uma dica: você já leu nosso post sobre Proteína intestinal como biomarcador prognóstico para COVID-19? Neste artigo, comentamos sobre o envolvimento do sistema gastrointestinal e a doença e como o marcador identificado (I-FABP) pode estar relacionado.
Pesquisadores da Universidade de Stanford avaliaram a dinâmica viral do material fecal de pacientes com COVID-19 leve a moderada ao longo de 10 meses após o diagnóstico. Os autores descobriram que a liberação de RNA viral fecal estava correlacionada com sintomas gastrointestinais, mesmo em pacientes que já haviam curado a infecção respiratória.
Nesse estudo, também foi observado que a eliminação fecal pode continuar até 7 meses após o diagnóstico.
SARS-CoV-2 é detectado em amostras fecais em até sete meses após a infecção
Um grupo de pesquisadores estudou a dinâmica de liberação do RNA viral nas fezes de pacientes até 10 meses após o diagnóstico de COVID-19 leve a moderada. O objetivo foi identificar a presença do SARS-CoV-2, bem como correlacionar o RNA fecal e os sintomas da doença. O artigo foi aceito para publicação no início do mês de abril, e está em ajustes finais para a publicação na revista Med.
Foram coletadas amostras fecais de 113 pacientes em diferentes intervalos de tempos. O RNA do SARS-CoV-2 foi detectado em 49,2% dos participantes na primeira semana após o diagnóstico. Quatro meses após o diagnóstico, 12,7% dos participantes continuaram a liberar RNA de SARS-CoV-2 nas fezes, mesmo sem a detecção orofaríngea. Após sete meses, cerca de 4% dos pacientes ainda apresentavam positividade para SARS-CoV-2 em amostras fecais.
Quanto aos sintomas gastrointestinais, dor abdominal, náusea, vômito foram associados positivamente a detecção fecal de SARS-CoV-2. Ou seja, pacientes que apresentavam RNA viral nas fezes eram mais suscetíveis ao aparecimento desses sintomas em comparação àqueles que não tiveram detecção viral.
Além disso, os sintomas respiratórios e sistêmicos também estiveram relacionados à presença de SARS-CoV-2 nas fezes dos pacientes. Dores de cabeça, dores no corpo e coriza estiveram mais presentes em pacientes com RNA fecal detectado.
Os autores suportam a hipótese de que infecções prolongadas que afetem o sistema gastrointestinal podem resultar em alterações mais sistêmicas, visto o padrão imunoativado do tecido. Eles chamam de fenômeno “long COVID” ou PASC (do inglês, post-acute sequelae of SARS-CoV-2), no qual os pacientes sofrem diversos sintomas incomuns, mesmo após a recuperação da infecção viral.
Considerações finais
Muitas descobertas foram feitas quanto a excreção do SARS-CoV-2 nas fezes durante a infecção ativa. Porém, pouco se sabia sobre a excreção a longo prazo, especialmente naqueles com sintomas leves. Além disso, a maioria dos relatos de liberação de RNA fecal não correlacionava esses achados com sintomas gastrointestinais.
Ao identificar a liberação de RNA viral nas fezes de pacientes diagnosticados com COVID-19 até 7 meses após o diagnóstico, esse trabalho evidencia a importância dos sintomas pós-infecção (PASC). Com a cobertura vacinal e a redução do número de casos, os centros médicos podem direcionar seus esforços para as consequências dessa pandemia, especialmente as de longo prazo.
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Referências:
Dennis Thompson. Coronavirus found in human feces up to 7 months after infection. April 18, 2022. MedicalXPress. Diseases, Conditions, Syndromes.
Natarajan, A., Zlitni, S., Brooks, E.F., Vance, S.E., Dahlen, A., Hedlin, H., Park, R.M., Han, A., Schmidtke, D.T., Verma, R., Jacobson, K.B., Parsonnet, J., Bonilla, H.F., Singh, U., Pinsky, B.A., Andrews, J.R., Jagannathan, P., Bhatt, A.S., Gastrointestinal symptoms and fecal shedding of SARS-CoV-2 RNA suggest prolonged gastrointestinal infection, Med (2022), doi: https:// doi.org/10.1016/j.medj.2022.04.001.