Radioterapia em câncer de mama e os riscos cardiológicos de longo prazo

câncer de mama

O câncer de mama e a radioterapia

O câncer de mama é o câncer com maior taxa de incidência mundial, fenômeno que não é diferente no Brasil. Segundo a Organização Mundial de Saúde, esta neoplasia possui uma incidência de cerca de 47.8 casos a cada 100.000 habitantes.

Apesar disso, a mortalidade do câncer de mama vem caindo, sendo atualmente o segundo com maior taxa de mortalidade, perdendo apenas para o câncer de pulmão. Em 2012 a cada 100.000 pessoas com câncer de mama, 15,2 morriam em decorrência da doença. Em 2020, esse número reduziu para 13,4/100.000.

Esta queda na taxa de mortalidade deve-se ao desenvolvimento de diversas estratégias terapêuticas contra a doença, ao melhor entendimento de seu surgimento e desenvolvimento, mas também à detecção precoce e maior acesso a saúde pública de qualidade que no passado.

Mesmo com tendência de queda na mortalidade, a incidência da doença segue alta, o que requer cuidado especial para com a detecção e tratamento do câncer de mama.

Neste contexto a radioterapia pode ser uma das indicações terapêuticas para os pacientes. A radioterapia consiste na aplicação de radiações ionizantes, com a finalidade de destruir ou inibir o crescimento de células mutadas que formam um tumor. Pode ser utilizada após cirurgia conservadora de mama, para diminuir os riscos de recidiva, após mastectomia e em casos de metástases para outros órgãos.

Existem diversas estratégias de aplicação da radioterapia, sendo as mais utilizadas, radioterapia externa, irradiação acelerada da mama, radioterapia da parece torácica, radioterapia linfonodal, entre outras. Sua utilização pode ser alinhada a demais tratamentos como quimioterapia, e imunoterapia, uma vez que contribuem para a diminuição do tamanho do tumor, aliviando pressões, dores e hemorragias.

Radioterapia – um contexto histórico

Ao final do século XIX, a ciência alcançou duas grandes descobertas, sendo que seus desdobramentos mudaram a forma com que a medicina lida de diversas doenças até os dias de hoje.

A primeira destas descobertas foram os Raios – X, descobertos em 1895 pelo físico alemão Wilhelm Röntgen. A segunda descoberta foi a radioatividade, descoberta em 1898, pelo então casal Curie (Maria Skłodowska – mais tarde conhecida por Marie Curie, e por seu marido Pierre Currie) e por Antoine Henri Becquerel. Tais descobertas, geraram inúmeras aplicações, impensáveis a época.

Nas décadas seguintes, diversas pesquisas aprimoraram os dados já presentes sobre os Raios – X e da radiação, sendo que os primeiros aparelhos de Raios – X surgiram no início do século XX, e os primeiros equipamentos voltados a radioterapia, surgiram na década de 50. Desde então a aplicação e utilização de ambas vem sendo cada vez mais compreendida e aprimorada pelo uso médico.

No Brasil, o primeiro centro de radiologia e radioterapia foi o Colégio Brasileiro de Radiologia, fundado em 11 de setembro de 1948 na cidade de São Paulo – SP. Conforme a modernização dos equipamentos ocorria, as primeiras aplicações oncológicas foram realizadas, sendo as unidades de cobalto, os aceleradores lineares, os simuladores, os sistemas computadorizados de planejamento e os equipamentos de alta taxa de dose, equipamentos unicamente dedicados ao tratamento de neoplasias malignas.

Risco cardíaco tardio associado à radioterapia

Embora a morte por doenças cardíacas possa ser causada por inúmeros fatores, diversas pesquisas que acompanharam pacientes com câncer de mama submetidas ao tratamento com radioterapia demonstraram um aumento na incidência de morte por doenças cardíacas.

Ao comparar a a mortalidade cardíaca de mulheres que receberam radioterapia do lado direito vs lado esquerdo da mama, foi descoberto que as mulheres que receberam a radiação do lado esquerdo apresentaram maiores taxas de doença cardíaca e morte. A taxa de eventos coronários maiores parece aumentar 7,4% para cada aumento de 1Gy na dose média de radiação fornecida ao coração.

Ainda, problemas isquêmicos de longo prazo associados com a radioterapia mostraram como fator de influência a presença de doenças cardíacas prévias. Dessa forma, este é um fator que deve ser avaliado na escolha da estratégia terapêutica do paciente.

É preciso, no entanto, levar em consideração que estes estudos foram conduzidos com dados de pessoas que foram tratadas com radioterapia a um certo tempo, visto que de lá para cá as tecnologias empregadas neste método de tratamento de desenvolveram muito, sendo muito mais assertivas e específicas que anteriormente.

É de bom tom utilizar tais dados levantados pelas pesquisas como guia para melhorias futuras na implementação de estratégias terapêuticas e riscos. Ainda, levarmos em consideração que atualmente as tecnologias empregadas são mais sofisticadas do que há 15 ou 20 anos atrás.

 

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Referências

BROWN, Lindsay C.; MUTTER, Robert W.; HALYARD, Michele Y. Benefits, risks, and safety of external beam radiation therapy for breast cancer. International journal of women’s health, v. 7, p. 449, 2015.

DARBY, Sarah C. et al. Risk of ischemic heart disease in women after radiotherapy for breast cancer. New England Journal of Medicine, v. 368, n. 11, p. 987-998, 2013.

EQUIPE ONCOGUIA (Brasil) (org.). Radioterapia para Câncer de Mama

INSTITUTO NACIONAL DE CANCER (Brasil). Radioterapia. 2021.

WHO. (org.). Cancer Today. 2021.

 

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