O Cloridrato de Metilfenidato (Ritalina®) é um medicamento indicado, primariamente, para transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Quando prescrita adequadamente, essa anfetamina auxilia a reduzir a impulsividade e a hiperatividade e aumentar a atenção nestes pacientes.
Porém, muitos indivíduos usam estimulantes como o metilfenidato de forma inadequada. Ainda que com prescrição médica, 80% do uso não médico é de fonte compartilhada com família e colegas. Com o uso indevido, há alto risco de abuso e dependência.
Veja mais sobre as principais indicações de uso da Ritalina®, orientações de prescrição e principais riscos associados.
Como funciona a Ritalina
O metilfenidato (Ritalina®) é uma anfetamina. Acredita-se que as anfetaminas bloqueiem a recaptação de norepinefrina e dopamina no neurônio pré-sináptico e aumentem a liberação dessas monoaminas para o espaço extraneuronal. O resultado disso é a estimulação no sistema nervoso central.
Por via oral, é rapidamente absorvida, e tem pico de concentração de 1-2 horas. Há formulações de liberação prolongada (Concerta®), nas quais o pico é estendido.
Por se tratar de uma substância psicotrópica, o receituário é do tipo A3 (amarelo).
Orientações de prescrição
O metilfenidato é indicado para o tratamento de pacientes com Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH) e narcolepsia. No entanto, cada caso deve ser avaliado individualmente, e nem todo paciente com TDAH se beneficiará do tratamento.
Leia também: TDAH: como diagnosticar e tratar o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade.
Também há indicação do uso do metilfenidato como adjuvante no tratamento da depressão, em casos resistentes e quando as outras opções já foram esgotadas. A droga pode ser utilizada como uma estratégia para potencializar os efeitos dos antidepressivos, mas a avaliação do risco/benefício deve ser criteriosa.
A dose usual sugerida começa em 10 mg via oral 2 vezes ao dia. Pode ser necessário aumentar, sem exceder 60 mg ao dia. Para TDAH, é possível utilizar comprimidos de liberação prolongada, ou cápsula de liberação modificada. Nesse caso, iniciar com 10-18 mg via oral 1 vez ao dia, ajustando até o máximo de 54 mg ao dia.
A Ritalina® é um medicamento que pode ser inadequado aos idosos, devido as possíveis interações medicamentosas e doenças de base – que podem piorar o quadro. Não obstante, pode levar frequentemente à insônia.
Para quem não prescrever?
Além de pacientes com hipersensibilidade ao metilfenidato e a qualquer outro componente da fórmula, pacientes com risco de reação de idiossincrasia a aminas simpaticomiméticas também não devem utilizar o medicamento.
Durante ou 14 dias após o uso de inibidores da monoamina oxidase (iMAO) o risco também é superior ao benefício da prescrição. Além disso, outras condições contraindicam o uso, como hipertireoidismo, glaucoma, ansiedade importante e estados de agitação, Síndrome de Tourrete (história familiar ou do paciente).
Alterações cardiovasculares também contraindicam o uso, especialmente sintomáticas ou insuficiência cardíaca, arteriosclerose avançada e hipertensão moderada a grave.
Por fim, pelo risco de abuso e dependência, é contraindicado para pacientes com histórico de abuso de drogas.
Mantendo a monitorização adequada
É importante lembrar que o uso do medicamento requer monitorização intensa e regular.
No início da terapia e em cada aumento de dose é necessária a monitorização da pressão arterial e frequência cardíaca e sinais de vasculopatia periférica. Na presença dor torácica por esforço, síncope inexplicada e qualquer sintoma de doença cardíaca, realizar avaliação cardíaca, incluindo histórico médico ou familiar de morte súbita ou arritmia ventricular e ECG.
Também é importante avaliar altura, peso e apetite em crianças e presença de comportamentos agressivos. As alterações comportamentais e de sono sempre devem ser avaliadas. Sinais e sintomas psicóticos devem ser monitorados, assim como pensamentos ou ideações suicidas. É importante triar para transtorno bipolar e risco de crises de mania antes da prescrição.
Por fim, reforçamos que há risco abuso, tolerância, dependência ou uso indevido. Sempre avaliar durante o acompanhamento do paciente.
Leia também: Riscos do uso indevido de Ritalina devem ser mais claros na bula, exige FDA.
Como orientar os pacientes?
Além de salientar todos os riscos associados, e de manter a prescrição de forma adequada, algumas advertências devem ser reforçadas.
Sugerir a administração 30-45 minutos antes das refeições, visto que o jejum aumenta a absorção da droga. A última dose da noite, tomar preferencialmente 6 horas antes de deitar-se para dormir.
Evitar consumir produtos com cafeína e chocolate, além de bebidas alcoólicas durante o tratamento. O álcool aumenta a taxa de liberação da droga. Também informar sobre as potenciais alterações neurológicas, mantendo cuidado ao dirigir ou operar máquinas. Há risco de tontura, sonolência, visão embaçada e outras reações adversas.
Há relatos de priapismo que podem necessitar de intervenções cirúrgicas. Informar o paciente que, em caso de ereções prolongadas e dolorosas, procurem imediatamente auxílio profissional.
Por fim, reforçar os riscos de sintomas psiquiátricos, como psicose e mania, comportamentos agressivos e desenvolvimento ou exacerbação de tiques. Em caso de pensamentos ou ideações suicidas, orientar que o paciente procure imediatamente auxílio profissional.
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Referências:
RITALINA® e RITALINA® LA. (cloridrato de metilfenidato). Novartis Biociências SA. Bula de medicamento. 2022.
UpToDate®. Methylphenidate: Drug information. 2022.
Shellenberg TP, Stoops WW, Lile JA, Rush CR. An update on the clinical pharmacology of methylphenidate: therapeutic efficacy, abuse potential and future considerations. Expert Rev Clin Pharmacol. 2020 Aug;13(8):825-833. doi: 10.1080/17512433.2020.1796636.