Intolerância às estatinas é menos prevalente do que parece

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A intolerância às estatinas continua sendo um importante desafio clínico e está associada a um risco aumentado de eventos cardiovasculares. Uma metanálise recente estimou a prevalência geral da intolerância às estatinas, considerando diferentes critérios diagnósticos e em diferentes contextos de doença. E os pesquisadores afirmam que os diagnósticos atuais são superestimados.

Uso de estatinas e intolerância medicamentosa

A hipercolesterolemia é uma condição metabólica na qual há alteração de determinadas lipoproteínas no plasma sanguíneo: aumento de colesterol (LDL, IDL, VLDL) e/ou aumento de triglicerídeos e/ou redução de HDL. Dessa forma, é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares e AVC.

As estatinas são consideradas a primeira escolha no início e manutenção do tratamento de hipercolesterolemia. Atuam inibindo a HMG-CoA redutase, reduzindo a síntese de colesterol. Dessa forma, aumenta em média 5-10% do HDL e reduz de 20-60% do LDL e 10-30% dos triglicerídeos.

Tipicamente se inicia com a menor dose possível e os primeiros efeitos são observados em média de 3-4 semanas. As opções mais potentes são Atorvastatina (Lipitor®) e Rosuvastatina (Crestor®), enquanto as menos potentes Pravastatina (Pravacol®) e Fluvastatina (Lescol®).

Como regra geral, as estatinas são bem toleradas. Eventualmente, pode haver aumento de transaminases, miopatia, constipação e (raramente) rabdomiólise. Cerca de um em cada dois pacientes para de tomar estatinas, reduz a dose ou toma-as irregularmente porque acredita que os medicamentos causam dores musculares e outros efeitos colaterais.

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No entanto, um novo estudo com mais de 4 milhões de pacientes mostrou que a real prevalência de intolerância a estatinas em todo o mundo está entre 6-10%. Os autores da pesquisa, publicada no European Heart Journal em fevereiro desse ano, dizem que suas descobertas mostram que a intolerância às estatinas é superestimada e superdiagnosticada.

O estudo

A metanálise realizada pelo grupo estimou a prevalência geral de intolerância às estatinas de acordo com uma série de critérios diagnósticos (desfecho primário), identificando possíveis fatores de risco que podem aumentar o risco dessa condição (desfecho secundário).

Um total de 176 estudos com mais de 4 milhões de pacientes foram incluídos na análise, e a prevalência geral encontrada de intolerância a estatinas foi de 9,1%. Quando critérios diagnósticos adicionais foram aplicados, esses resultados foram ainda mais baixos: 7% por NLA (National Lipid Association), 6,7% por ILEP (International Lipid Expert Panel) e 5,9% por EAS (European Atherosclerosis Societyhttps://www.eas-society.org/).

Ainda, a prevalência da condição de intolerância em estudos randomizados, aqueles de maior evidência, foi significativamente menor em comparação com estudos de coorte (4,9% vs. 17%).

Alguns parâmetros foram associados positivamente a intolerância às estatinas, com aumento de risco variando de 22% a 48%. Mulheres, pessoas idosas, ancestralidade asiática ou negra, ou presença de doenças associadas como obesidade, diabetes, hipotireoidismo e insuficiência hepática/renal crônica, aumentam o risco à intolerância. Agentes antiarrítmicos, bloqueadores dos canais de cálcio, uso de álcool e aumento da dose de estatina também foram associados.

 

Considerações finais

Com base nesse estudo com mais de 4 milhões de pacientes, a prevalência de intolerância às estatinas é baixa quando diagnosticada de acordo com as definições internacionais. Esses resultados apoiam o conceito de que a prevalência completa pode ser superestimada em até 90% dos casos, e destacam a necessidade de avaliação cuidadosa de pacientes com sintomas potenciais relacionados.

Referências:

European Society of Cardiology. Statin intolerance is over-estimated and over-diagnosed. MedicalXPress. Medications, Cardiology. Feb 2022.

Ibadete Bytyçi, Peter E. Penson, Dimitri P. Mikhailidis, Nathan D. Wong, Adrian V. Hernandez, Amirhossein Sahebkar, Paul D. Thompson, Mohsen Mazidi, Jacek Rysz, Daniel Pella, Željko Reiner, Peter P. Toth, Maciej Banach, on behalf of the Lipid and Blood Pressure Meta-Analysis Collaboration (LBPMC) Group and the International Lipid Expert Panel (ILEP), Prevalence of statin intolerance: a meta-analysis, European Heart Journal, 2022;, ehac015, https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehac015

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