A teníase é uma doença parasitária causada pelos vermes platelmintos Taenia solium (presente em suínos) e Taenia saginata (presente em bovinos). A infecção pela forma adulta do parasita causa poucos sintomas, como dor abdominal, diarreia ou náusea, e a mortalidade associada é baixa, visto que a condição é geralmente leve e tratável.
No entanto, a forma mais grave relacionada a esse ciclo parasitário é a neurocisticercose – decorrente da ingestão de ovos de tênia, e que pode causar sintomas neurológicos graves e até mesmo fatais.
Revisando o ciclo de vida da Taenia, o agente etiológico da Teníase
A teníase é causada pelos vermes Taenia solium e Taenia saginata, que podem ser adquiridos a partir da ingestão de carnes bovinas/suínas mal-cozidas.
As tênias possuem uma estrutura hermafrodita chamada de “proglote”. As proglotes distais são eliminadas pelas fezes, e quando caem no solo, liberam ovos (denominados “oncosferas”).
O hospedeiro intermediário (bovinos para a Taenia saginata e suínos para a Taenia solium) ingerem os ovos. Nesses animais, as oncosferas penetram através do intestino chegando até a circulação sanguínea, se disseminando para vários órgãos e tecidos – principalmente musculatura esquelética. Nesses tecidos, ocorre maturação das oncosferas em cisticercos (larvas císticas que medem até 2 cm).
Quando o ser humano (hospedeiro definitivo) se alimenta dessas carnes mal-cozidas ou mesmo cruas, esses cisticercos são liberados no lúmen intestinal, se fixando no intestino delgado, reiniciando o ciclo.
Eventualmente, ao ingerir ovos de taenia, o ser humano torna-se hospedeiro intermediário, desenvolvendo o quadro de cisticercose – uma condição grave que pode resultar em alterações importante no sistema nervoso central.
A neurocisticercose pode ser causada pela ingestão de ovos de tênia, e causa cerca de 50 mil mortes por ano
A Teníase (a presença do verme adulto no intestino) raramente leva à morte diretamente, Com o tratamento precoce adequado, o prognóstico é muito bom, e são raros os casos envolvendo complicações. Já a cisticercose tem prognóstico mais reservado.
A incubação da cisticercose humana é de cerca de 15 dias após a infecção, e a principal apresentação é a Neurocisticercose – presença de cisticercos no tecido encefálico, que acabam sendo irritativos ao tecido.
Alguns pacientes apresentam calcificação da forma infectante sem outros achados, enquanto outros podem evoluir com quadro de epilepsia para o resto da vida, ou mesmo agudamente com encefalite, hipertensão intracraniana e óbito.
A neurocisticercose é a principal causa evitável de epilepsia em regiões endêmicas, especialmente na América Latina, África e Ásia. Segundo a OMS, aproximadamente 50 mil mortes por ano ocorrem devido a complicações associadas à cisticercose / neurocisticercose.
A teníase é uma condição que deve ser sempre tratada
A infeção pelo agente etiológico da teníase deve sempre ser tratada, ainda que os pacientes não apresentem sintomas. O tratamento da teníase é simples, e consiste em uso de antiparasitários via oral.
A primeira opção é o Praziquantel (Cisticid®), um anti-helmíntico capaz de penetrar no tegumento do parasita, causando um distúrbio de permeabilidade. A indicação é via oral, em dose única de 5-10 mg/kg de peso do paciente, até um máximo de 600 mg. Outras opções incluem: niclosamida, mebendazol e albendazol.
Além do tratamento, é essencial orientar sobre as necessidades de cozimento correto das carnes, de lavagem correta dos alimentos, e medidas sanitárias adequadas para evitar novas infecções.
O tratamento da neurocisticercose depende da gravidade da condição
Pacientes acometidos com neurocisticercose devem ser avaliados por exame de imagem (preferencialmente com Ressonância Magnética) para verificar se o cisticerco está calcificado (processo inflamatório já isolou o parasita) ou se os cistos ainda são viáveis.
No caso de estar calcificado e o paciente esteja sintomático, o tratamento deve controlar os achados, que na maioria das vezes são episódios convulsivos.
Por outro lado, nos pacientes com o quadro “agudo” (cisticercos viáveis), o tratamento deve ser feito inicialmente com o paciente internado. São 3 as classes medicamentosas usadas nos pacientes internados: antiparasitários + corticoides + anticonvulsivantes.
Em caso de encefalite por cisticercos (com importante edema cerebral), não é recomendado usar medicamentos antiparasitários inicialmente, pois a morte dos parasitas leva a um aumento da resposta inflamatória, piorando o quadro de edema cerebral podendo levar a herniação cerebral e óbito.
Em alguns casos, pode ser necessária a abordagem neurocirúrgica, como para remoção de cisticercos que impedem a drenagem de liquor, convulsões graves etc.
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Referências:
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
White, AC. – Cysticercosis: Treatment. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.
White, AC. – Cysticercosis: Clinical manifestations and diagnosis. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.
White, AC. – Cysticercosis: Epidemiology, transmission, and prevention. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.