A estimulação induzida do trabalho de parto pode ser indicada antes do seu início espontâneo. Para avaliar se uma gestante se enquadra nos critérios de indução de forma segura, podemos nos beneficiar do Índice de Bishop.
Índice de Bishop
O índice de Bishop é um escore desenvolvido para determinar se uma mulher grávida se enquadra nos critérios para uma indução de parto segura e bem-sucedida. Ou seja, o principal objetivo do é predizer o sucesso de parto vaginal.
O Bishop é indicado para avaliação de pacientes para trabalho de parto, incluindo também uma ferramenta de auxílio para tomada de decisão de uma possível indução. É um sistema padronizado de avaliação, que auxilia na predição de sucesso da indução de partos, uma medida de difícil de se prever.
O índice foi desenvolvido a partir de um estudo que utilizou dados coletados do departamento de obstetrícia do Hospital da Pensilvânia, na Filadélfia. Sua publicação em 1955 demonstrou que a indução eletiva do trabalho de parto é mais apropriada para mulheres que deram à luz anteriormente, com uma dilatação cervical de pelo menos três centímetros e fetos que desceram no útero.
O trabalho foi desenvolvido pelo médico Dr. Edward H. Bishop. Ele tinha sua linha de pesquisa voltada para a reavaliação de técnicas de exame e previsão de resultados de parto. Dr. Bishop foi pioneiro em pesquisa e prática clínica, além de ser um dos maiores nomes da obstetrícia e ginecologia.
Conheça os critérios e pontuações do Índice de Bishop
O índice de Bishop é composto por 5 critérios clínicos. Veja cada um deles, bem como a pontuação atribuída para cada critério encontrado durante a avaliação da paciente:
E como interpretar?
Após a atribuição da pontuação individual para cada um dos critérios, é realizado o somatório total. A interpretação dependerá do valor total obtido no paciente avaliado.
O risco estimado pode ser avaliado em uma estratificação de 3 categorias:
- Pontuação total de 0 a 5: Colo uterino não favorável – Indução pode ser necessária caso não haja contraindicação; de outra forma, proceder à cesariana.
- Pontuação total de 6 a 7: Não oferece uma avaliação definitiva.
- Pontuação total maior ou igual a 8: Colo uterino favorável – Parto normal é mais provável. Assim, valores ≥ 8 traduzem um colo uterino amadurecido.
É importante ressaltar que quanto maior o número de pontos, maior a probabilidade de parto normal.
Atenção! Saiba das limitações e armadilhas.
Existe uma zona incapaz de predizer o sucesso do parto vaginal espontâneo – índice com total de 6 ou 7 pontos.
Além disso, o índice Bishop não é capaz de predizer a taxa de sucesso da indução. Isso varia conforme a indicação e idade gestacional.
Por fim, o índice Bishop não é capaz de definir o manejo da paciente, apenas predizer o sucesso de parto vaginal.
Se não há definição do manejo, o que fazer a partir da estratificação?
A conduta deve seguir os seguintes critérios:
Normalmente, uma pontuação ≥ 8 é usada para prever o parto vaginal espontâneo sem indução. Uma pontuação ≤ 5 sugere um colo do útero desfavorável, e que provavelmente exigirá indução.
Para pacientes com pontuação entre 6 e 7 recomenda-se a decisão em relação à indução ou aumento do trabalho de parto com base no julgamento clínico.
Indicações e contraindicações de indução de trabalho de parto
As indicações usuais para início de indução são as seguintes:
- Gestação > 41 semanas.
- Gravidez bastante prolongada.
- Amniorrexe prematura, tendo sinais de infecção ovular.
- Óbito fetal.
- Malformações fetais, incompatíveis com a vida extrauterina – sendo esse tema controverso, pois a legislação brasileira só permite com autorização judicial, salvo anencefalia.
Como induzir:
Para as pacientes que tenham valores menores que 6, devemos inicialmente preparar o colo uterino. O método de escolha é uma prostaglandina sintética – misoprostol (Prostokos®) 25 mcg intravaginal a cada 6 horas.
Para as pacientes com Bishop maior que 6, inicia-se frequentemente um medicamento que promove contrações musculares uterinas. Este só pode ser utilizado 4-6 horas após o uso do misoprostol – infusão de 5 mU/min de ocitocina (Syntocinon®) com aumento posterior de 5 mU/min a cada 20 minutos até a presença de contrações eficazes
Outros métodos utilizados na prática clínica incluem a amniotomia (ruptura de membranas amnióticas – o que leva a liberação de prostaglandinas) e descolamento digital de membranas amnióticas – com liberação também de prostaglandinas.
Nem sempre é possível realizar a indução do parto. As contraindicações mais aceitas são as seguintes:
- Placenta prévia.
- Qualquer obstrução de canal de parto.
- Sofrimento fetal.
- Malformações uterinas.
- Macrossomia.
- Sorologia HIV positiva.
- Cordão prolapsado.
- Gestação múltipla.
- Grande multiparidade.
- Apresentação cefálica defletida.
- Vasa prévia.
- Desproporção cefalopélvica
- Apresentação fetal anômala.
- Útero com presença de histerotomia prévia longitudinal, corporal ou múltiplas.
Lembre-se: o parto prematuro ocorre em cerca de 12% das gestações. No Brasil, a taxa de prematuridade chega a ser o dobro do que em países europeus. Portanto, uma boa avaliação sobre a necessidade ou não da indução de um parto pré-termo deve ser sempre feita com cautela.
Para saber mais sobre este e outros escores acesse o nosso app WeMEDS®. Disponível na versão web ou para download para iOS ou Android.
—
Referências:
Bishop EH. Pelvic scoring for elective induction. Obstet Gynecol. 1964;24: 266–8. PMID 14199536.
Newman RB, Goldenberg RL, Iams JD et al. Preterm Prediction Study: Comparison of the Cervical Score and Bishop Score for Prediction of Spontaneous Preterm Delivery. Obstet Gynecol. 2008;112 (3): 508–15. doi:10.1097/AOG.0b013e3181842087. PMID 18757646.
Laughon SK, Zhang J, Troendle J, Sun L, Reddy UM. Using a Simplified Bishop Score to Predict Vaginal Delivery. Obstetrics and Gynecology 2011;117(4):805-811. doi:10.1097/AOG.0b013e3182114ad2.
da Fonseca EB, Damião R, Moreira DA. Preterm birth prevention. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2020 Nov;69:40-49. doi: 10.1016/j.bpobgyn.2020.09.003. Epub 2020 Sep 22. PMID: 33039310.