Um paciente alemão de 60 anos que havia sido infectado pelo HIV está com a doença em remissão há 5 anos, sem a utilização de medicamentos antirretrovirais. Isso foi possível com um transplante de medula óssea.
O paciente foi diagnosticado com leucemia e, então, submetido a um transplante de células-tronco como tratamento para a doença em 2015. O que há de especial para que o HIV esteja em remissão é uma característica genética específica do doador: ele possui uma mutação no gene CCR5.
Caso clínico
O paciente foi diagnosticado com HIV em 2009 e, anos depois, com leucemia. Em 2015, recebeu um transplante de medula óssea para tratamento do câncer. Os médicos escolheram um doador com a mutação no gene CCR5, tornando suas células resistentes à entrada do HIV.
O gene CCR5 codifica uma proteína presente na superfície dos linfócitos T, células do sistema imunológico. O vírus utiliza a proteína CCR5 (em conjunto com a proteína CD4) para infectar os linfócitos. Os indivíduos que possuem essa mutação no gene CCR5, chamada CCR5-Δ32, não expressam a proteína na superfície celular. Com isso, o HIV não consegue infectar essas células, tornando os indivíduos imune a esse vírus.
De acordo com os médicos pesquisadores do hospital universitário Charité-Universitätsmedizin Berlin, na Alemanha, o homem parou de tomar medicamentos antirretrovirais no final de 2018, sendo que o vírus permanece em remissão há cinco anos e meio.
Segundo Olaf Penack, pesquisador do Departamento de Hematologia, Oncologia e Imunologia do Charité-Universitätsmedizin Berlin, “Estamos muito satisfeitos que o paciente esteja em boa saúde e indo bem. O fato de ele estar sob observação por mais de cinco anos e estar livre de vírus o tempo todo indica que realmente conseguimos erradicar completamente o HIV do corpo do paciente. Então, nós o consideramos curado do HIV”.
Apesar das ótimas notícias, os pesquisadores se mostram cautelosos sobre o anúncio da “cura”. Segundo o médico Christian Gaebler, pesquisador do hospital onde o tratamento foi feito, não é possível ter “certeza absoluta” de que todos os vestígios do vírus foram erradicados, mas “o caso do paciente é altamente sugestivo de uma cura para o HIV”. “Ele se sente bem e está entusiasmado em contribuir para nossos esforços de pesquisa”, disse o médico.
Outros casos de sucesso contra o HIV
Esse paciente não foi o primeiro a apresentar remissão prolongada do HIV: esse já é o sétimo caso de sucesso. O primeiro, chamado “Paciente de Berlim”, foi o alemão Timothy Ray Brown, que também foi curado do HIV após receber um transplante de células-tronco de um doador com a mutação CCR5-Δ32, em 2008. Em 2020, Timothy faleceu em decorrência de um câncer.
Todos os outros seis casos de pessoas que foram consideradas “curadas do HIV” também foram diagnosticadas com câncer no sangue e, posteriormente, receberam o transplante de medula óssea como tratamento.
O que há de especial nesse caso?
De acordo com os pesquisadores, esse caso possui algumas características que o tornam único: a principal delas é que ele recebeu células-tronco de um doador que herdou apenas uma cópia do gene CCR5 mutado.
Todos os outros pacientes, exceto um, receberam células-tronco de doadores que herdaram duas cópias do gene, algo extremamente raro – apenas 1% da população europeia se encaixa nesse perfil, enquanto 15% das pessoas de origem europeia têm apenas uma cópia mutada.
Considerando a gravidade da AIDS, que afeta cerca de 35 milhões de pessoas no mundo todo, essas notícias trazem muita esperança para os pacientes e para a comunidade científica.
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Referencias:
METROPOLES. NUNES, B. Cientistas alemães anunciam 7ª pessoa provavelmente curada do HIV. 2024. Disponível em: https://www.metropoles.com/saude/setima-pessoa-provavelmente-curada-hiv. Acesso em 26 de agosto de 2024.