Formaldeído: por que é um problema?
O formaldeído é um composto orgânico com diversas aplicações: produção de resinas, produtos de moldagens, produtos de madeira, além de utilizações laboratoriais. Em hospitais, age como agente bactericida, estabilizante e desinfetante para a higienização de salas cirúrgicas e outros ambientes controlados biologicamente.
Um pouco de bioquímica por aqui: o formaldeído é o mais simples dos aldeídos, um gás incolor e altamente inflamável e, em solução aquosa 45% é chamado de formol. É uma molécula que pode ser produzida pelo próprio organismo, dentro do metabolismo das purinas e alguns aminoácidos. No entanto, por ser altamente reativa e irritante quando em contato com os tecidos, é um produto intermediário (nunca um produto em vias finais).
O formol é uma substância “popularmente” conhecida – inclusive, em algumas aulas de anatomia talvez alguns de vocês (e nós da equipe WeMEDS) tenham entrado em contato, mesmo que como grupos de muito baixa exposição.
Em geral, a exposição a formaldeído não é tóxica e poucos mililitros sempre foi tolerável, mas os dados são questionáveis. Inclusive, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o formaldeído como cancerígeno para humanos.
Neurotoxicidade avaliada
Recentemente um estudo publicado no periódico Neurology associou o déficit cognitivo com a exposição ao formaldeído. Neste estudo foram avaliados mais de 75 mil adultos e, deste total, cerca de 8% foram expostos ao formaldeído (6.026 participantes) durante suas carreiras.
No estudo, os principais grupos de profissionais avaliados foram enfermeiros, cuidadores, técnicos de laboratório de análises clínicas, profissionais de limpeza, além dos trabalhadores das indústrias têxtil, química e metalúrgica.
Para estratificar o nível de exposição de cada profissional ao formaldeído, os pesquisadores os dividiram em 3 grandes grupos principais. Grupo de baixa exposição: ≤ 6 anos; Grupo de média exposição: de 7 a 21 anos; Grupo de alta exposição: ≥ 22 anos. Também foi realizado outra divisão de acordo com a exposição cumulativa ao composto.
Os pesquisadores puderam constatar que o grupo de maior exposição (acima de 22 anos) apresentava um risco cerca de 21% maior de comprometimento cognitivo global. Ainda, grupo de maior exposição cumulativa apresentou risco 19% maior de déficit cognitivo.
Esses dados não são, necessariamente, novidade. Um estudo anterior já havia avaliado a toxicidade neurológica da exposição de formaldeído, mas utilizando modelos animais.
No trabalho em questão, os pesquisadores observaram alterações precoces semelhantes à Doença de Alzheimer quando os animais são expostos ao formaldeído: déficits cognitivos, alterações cerebrais patológicas, acúmulo de placas β-amiloides proteína e tau hiperfosforilada.
Os pesquisadores comentam que este é um estudo associativo, e não houve avaliação quanto ao efeito biológico desencadeado no organismo pelo formaldeído. Porém, um estudo publicado anteriormente já indicava que pode haver uma redução do sinal colinérgico associada ao composto nos casos de disfunção cognitiva. Além disso, diversos outros efeitos de exposição ao formaldeído são conhecidos, como seu efeito carcinogênico.
Considerações finais – apostar em biossegurança
Ainda que com limitações, os achados são de grande relevância, uma vez que diversos profissionais trabalham com este composto no seu dia a dia. Sabendo que a exposição basal ao formaldeído é praticamente inevitável (como mencionamos, este composto é amplamente utilizado inclusive na produção de diversos utensílios domésticos), tais dados podem servir para a utilização de medidas de biossegurança na utilização do formaldeído na prática profissional.
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Referências: