Feohifomicose por Curvularia: manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento

feohifomicose por curvularia

A Feohifomicose é uma infecção fúngica subcutânea e oportunista, causada por patógenos com melanina – dentre eles, fungos do gênero Curvularia. A apresentação clínica é ampla, e depende do local de lesão, do padrão de resposta do hospedeiro e do agente causador.

Veja mais sobre a doença, incluindo principais manifestações clínicas, formas de diagnóstico e tratamento.

A feohifomicose é causada por patógenos com hifas escuras

A feohifomicose é uma infecção fúngica que apresenta hifas filamentosas de cor escura em tecidos invadidos. Pode ser causada por diversos fungos, e as apresentações clínicas variam desde infecções cutâneas até doença disseminada e endocardite. Em geral, a condição por Curvularia está associada com eosinofilia e condições alérgicas.

Destacamos aqui as principais apresentações clínicas da feohifomicose por Curvularia já relatadas:

Infecções de pele e tecido subcutâneo: lesões nodulares e/ou císticas únicas ou múltiplas, tipicamente localizadas nas extremidades. Em alguns casos, as lesões podem ser granulomatosas ou verrucosas. Também há relatos de onicomicose. Casos raros são generalizados.

Feohifomicose por Curvularia: manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento

Infecções oftalmológicas: como conjuntivites, ceratite com infecção do túnel corneoescleral.

Infecções respiratórias: especialmente em casos de crises alérgicas. Casos comuns envolvem sinusite crônica, bronquite e pneumonia focal. Em geral, os sintomas são clássicos. No entanto, há um relato de infecção por Curvularia que apresentou clínica semelhante ao câncer de pulmão, com formação de nódulo sólido.

Outras manifestações clínicas possíveis para esse patógeno envolvem meningite, pericardite, peritonite e endocardite. Essas manifestações são extremamente raras, mas podem ocorrer, especialmente em imunocomprometidos. Nesses casos, a taxa de mortalidade é alta.

Feohifomicose por Curvularia: manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento

Curvularia lunata é a espécie mais comum do gênero

Patógenos do gênero Curvularia apresentam pigmentação escura (presença de melanina). Em cultura, crescem rápido, e apresentam aspecto de camurça ou felpudas. Seus conídios geralmente em forma de elipse curva ou semilunar, arredondados nas extremidades – característica clássica do gênero.

O gênero contém cerca de 80 espécies, e a Curvularia lunata é a espécie mais relatada / estudada.

O patógeno pode ser encontrado no solo e em plantas, e apresenta distribuição tropical e subtropical. Há poucos registros em regiões temperadas. A infecção geralmente ocorre após inalação dos conídios, mas também há relatos de contato com fungo após a quebra da barreira epitelial (cortes, espinhos, picadas etc.).

Feohifomicose por curvularia
Cultura de Curvularia Lunata. Imagem original disponível aqui.  

Como diagnosticar?

O diagnóstico é clínico, associado à confirmação laboratorial. É necessário avaliar quadros clássicos de infecção cutânea, oftalmológica, pulmonar, extrapulmonar, locais ou disseminadas. Presença de grãos pretos indicam infecção fúngica. Sempre considerar em imunocomprometidos, especialmente em casos de infecção disseminada.

Sugere-se também considerar em pacientes com infecções respiratórias persistentes, que não respondem ao tratamento convencional, bem como em moradores de regiões tropicais e subtropicais.

Além disso, questionar pacientes sobre alergias – podem ser associadas à infecção respiratória por estes patógenos.

A avaliação por dermatoscopia pode ajudar, pois identifica os pequenos pontos pretos. No entanto, a confirmação diagnóstica é feita por avaliação laboratorial (histopatologia + cultura).

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Azóis geralmente são eficazes

A excisão cirúrgica é a primeira opção em casos leves e/ou localizados, sendo curativa, e deve incluir margens seguras. Casos moderados, graves, respiratórios ou que não possam se submeter à cirurgia respondem bem com azóis, sendo a primeira opção o itraconazol (200-400 mg via oral uma vez ao dia). O uso intervalado também é uma opção, sendo 400 mg via oral uma vez ao dia, 1 semana por mês. Ou seja, 7 dias de administração e 21 dias de intervalo.

A anfotericina B é uma opção alternativa em casos de ausência de resposta, ou em gestantes, visto que os azóis são teratogênicos.

Ainda não há um padrão quanto ao tempo de tratamento em casos de infecção por Curvularia. Deve ser determinado de forma individual, mas geralmente é longo (até 36 meses), e deve ser rigorosamente mantido. Em pacientes com imunocomprometimento, sugere-se tratamento contínuo, como medida profilática.

A avaliação clínica dos pacientes deve ser realizada a cada 6-12 semanas para melhora dos sintomas respiratórios e sistêmicos. Após a finalização do tratamento, acompanhar o paciente a cada 3 meses por pelo menos 2 anos, a fim de confirmar a cura e evitar recidivas.

E lembre-se: o uso prolongado de antifúngicos requer monitorização regular, principalmente da função hepática.

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Referências:

Curvularia. https://www.adelaide.edu.au/mycology/fungal-descriptions-and-antifungal-susceptibility/hyphomycetes-conidial-moulds/curvularia

Singh, M., et al. (2020). Curvularia infection of corneoscleral tunnel. Indian journal of ophthalmology, 68(1), 229–231. https://doi.org/10.4103/ijo.IJO42419

Daoud, N., & Gulati, N. (2023). Curvularia lung infection mimics malignancy. Heliyon, 9(5), e15773. https://doi.org/10.1016/j.heliyon.2023.e15773

Al-Odaini, N., et al. (2022). Experimental Phaeohyphomycosis of Curvularia lunata. Journal of clinical medicine, 11(18), 5393. https://doi.org/10.3390/jcm11185393

 

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