Um ensaio clínico de fase 3, publicado recentemente na Jama Network Open, mostrou que a aplicação tópica de esmolol resulta em uma melhora significativa na cicatrização de úlceras de pé diabético.
O medicamento é um beta bloqueador seletivo, antiarrítmico de classe II, que bloqueia competitivamente a resposta à estimulação beta1-adrenérgica. Na forma de gel tópico, promove a cicatrização de feridas estimulando a migração de queratinócitos, fibroblastos e células endoteliais para o tecido lesionado.
Esmolol melhora a cicatrização de feridas quando adicionado ao tratamento padrão
O cloridrato de esmolol é molécula pequena, formulado em gel para administração tópica. Tem como propósito reativar os mecanismos intrínsecos de cicatrização de feridas.
Enquanto agente sistêmico, o esmolol atua como um bloqueador seletivo dos receptores adrenérgicos β1, apresentando curta duração de ação (meia-vida de eliminação de ~9 minutos). Porém, diversos estudos já mostraram suas ações pleiotrópicas, incluindo promoção da migração de queratinócitos, fibroblastos e células endoteliais para o tecido da ferida, bem como aumento do teor de hidroxiprolina no tecido lesionado.
No estudo mais recente, que avaliou a eficácia e segurança do uso do esmolol em gel (14%, Galnobax®) adicionado ao tratamento padrão – limpeza de ferida, solução salina, debridamento. Em 12 semanas, 60% dos pacientes que utilizaram esmolol tópico 3 vezes ao dia apresentaram melhora significativa das lesões, comparado a 41,7% no grupo de tratamento padrão –
Com 24 semanas de tratamento, o uso de gel melhorou a cicatrização de feridas em um grupo maior de pacientes (77,2%), comparado a 55,6% no grupo de apenas o tratamento padrão. A média de resolução da ferida foi observada em 85 dias com o tratamento.
Pé diabético: principal causa de amputação não traumática de membro inferior
Pé diabético é o nome dado à complicação crônica comum da diabetes mellitus na qual há alterações neurológicas e/ou vasculares, cursando com úlceras nos pés. Pode, de forma bastante frequente, evoluir com infecções importantes.
Cerca de 11% dos pacientes com diabetes de longa data vão apresentar úlceras de pé diabético em algum momento. Essa condição é a principal responsável por internação de diabéticos, bem como a principal causa de amputação não traumática de membro inferior no Brasil.
O diagnóstico precoce e o tratamento efetivo pode evitar a evolução do quadro para amputação. Mesmo com tratamentos adequados e colaboração do paciente, apenas 30% das feridas cicatrizam.
Os pacientes devem ser orientados a jamais andarem sem calçados, optando por aqueles confortáveis e com meias sem costuras. Também orientar cortar as unhas no formato reto, enxugar bem os pés após o banho, e não fazer imersão em água quente. É essencial observar os pés diariamente, em busca ativa de lesões.
O tratamento é dividido a partir dos estágios evolutivos (Classificação de Wagner).
Para grau 0, na ausência de ulceração, porém com sinais de neuropatia e/ou isquemia, orienta-se que o paciente mantenha as medidas preventivas e use sapatos terapêuticos, para auxiliar na redistribuição de peso no pé, diminuindo ulcerações recorrentes. Além disso, caso haja insuficiência arterial periférica, deve-se avaliar a viabilidade de revascularização.
Em caso de grau 1, com úlceras superficiais, além das medidas já adotadas em grau 0, deve-se avaliar a necessidade de debridamento do tecido necrótico, uma vez que é de importância ímpar para a cicatrização da úlcera.
Terapia adjuntas podem melhorar a cicatrização da úlcera, como o uso de Óleo Dersani três vezes ao dia – e agora, o uso de esmolol tópico. O tempo médio de cicatrização é de 2-3 meses.
—
Referências:
MEDPAGETODAY® Topical Esmolol Gel Helped Heal Diabetic Foot Ulcers. https://www.medpagetoday.com/primarycare/diabetes/104507
Rastogi A, Kulkarni SA, Agarwal S, et al. Topical Esmolol Hydrochloride as a Novel Treatment Modality for Diabetic Foot Ulcers: A Phase 3 Randomized Clinical Trial. JAMA Netw Open. 2023;6(5):e2311509. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.11509