Dormir bem, que mal tem? O efeito do sono na Doença de Alzheimer.

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Ao pensar em uma rotina diária ideal, a maioria das pessoas inclui o “dormir 8 horas por dia”. Porém, sabemos que este padrão de sono muda com o envelhecimento. Para um bebê, oito horas não são suficientes para exercer todas as funções reparadoras e de desenvolvimento. Já para um idoso, manter uma noite inteira de sono sem interrupções fica cada vez mais difícil.

Além da manutenção do sono, o risco do desenvolvimento de alterações cognitivas também muda com a idade. Mas qual será a relação entre sono e Doença de Alzheimer?

Sono e alterações cognitivas em idosos

A proteína TAU é um componente do citoesqueleto neuronal, responsável por estabilizar microtúbulos celulares. Seu (leve) acúmulo no lobo temporal medial durante o envelhecimento é um processo normal. Porém, na Doença de Alzheimer, este acúmulo é somado à formação das placas amiloides e à propagação para o córtex, correlacionando-se com a perda de células neuronais, perda sináptica, atrofia cerebral e comprometimento cognitivo.

A grande dificuldade da Doença de Alzheimer é quanto ao diagnóstico. Em geral, quando os primeiros sinais clínicos são detectados, a agregação de beta-amiloide atingiu níveis próximos ao máximo, e alguma patologia cortical associada à TAU está presente na maioria dos pacientes.

Dessa forma, a busca pelo diagnóstico precoce é essencial para a melhora do prognóstico da doença. E nesse sentido, vários estudos já associaram a qualidade e o tempo do sono com alterações no comprometimento cognitivo.

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Dormindo na medida certa

Um estudo recente com 100 participantes buscou avaliar mais de perto a relação entre o sono e a cognição. Nesse trabalho, 100 participantes tiveram sua atividade de sono-vigília monitorada por 4-6 noites. Ainda, foram avaliados biomarcadores da Doença de Alzheimer, como proteína TAU e beta amiloide, genotipagem de APOE e testes cognitivos.

Os pesquisadores identificaram que a função cognitiva se manteve estável ao longo do tempo naqueles pacientes cujo tempo total de sono estava em uma faixa intermediária. Ou seja: nem demais, nem de menos!

Indivíduos que dormiam menos que 4,5h ou mais que 6,5h por noite tiveram um declínio cognitivo. Além disso, o tempo em sono REM / não REM teve o mesmo sentido de associação, sugerindo que certos níveis de sono são importantes para manter a função cognitiva. E todos esses achados foram independentes de fatores que influenciam por si só na cognição, como idade, proteínas tau e beta-amiloide, sexo e APOE.

Outros trabalhos já tinham identificado esse padrão. Em estudos de privação e interrupção de sono, já foi evidenciado um aumento de 10-30% nas concentrações de beta-amiloide no líquido cefalorraquidiano (LCR). Outros trabalhos também já identificaram uma associação positiva entre um acúmulo de tau e beta-amiloide e idosos que tiveram menos tempo de sono NREM.

Enquanto dormir pouco fica associado a beta-amiloide, outro biomarcador deve estar envolvido naqueles indivíduos que dormem demais. Nos testes realizados, em geral os “longos dormidores” apresentam piores desempenho nas funções executivas – dificuldade em realização de tarefas complexas, compreensão reduzida de risco.

 

Claro que é importante destacar: distúrbios do sono podem ser apenas um sintoma de outras condições, e em alguns casos é difícil definir causalidade. Falamos um pouco disso no nosso post sobre Enxaqueca e Insônia.

 

Considerações

A doença de Alzheimer é um distúrbio neurodegenerativo que, em geral, possui diagnóstico tardio e piora com o tempo. Atualmente, não há um tratamento eficaz para reverter ou prevenir a progressão da doença. Enquanto aguardamos novos estudos que identifiquem padrões no diagnóstico precoce, identificar e tratar distúrbios do sono pode ter um efeito estabilizador na cognição, bem como auxiliar na doença de Alzheimer pré-clínica ou sintomática inicial. Até porque, uma boa noite de sono não faz mal a ninguém, não é mesmo?

 

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Referências:

Brendan P Lucey, Julie Wisch, Anna H Boerwinkle, Eric C Landsness, Cristina D Toedebusch, Jennifer S McLeland, Omar H Butt, Jason Hassenstab, John C Morris, Beau M Ances, David M Holtzman, Sleep and longitudinal cognitive performance in preclinical and early symptomatic Alzheimer’s disease, Brain, Volume 144, Issue 9, September 2021, Pages 2852–2862 

Winer JR, Deters KD, Kennedy G, et al. Association of Short and Long Sleep Duration With Amyloid-β Burden and Cognition in Aging. JAMA Neurol. 2021;78(10):1187–1196. doi:10.1001/jamaneurol.2021.2876

Kelli Whitlock Burton. Tempo de sono: identificado o segredo do declínio cognitivo lento? 2021.

Damian McNamara. Poor Quality Sleep Tied to Early Signs of Alzheimer’s. 2019.

Erik Greb. Too Little, Too Much Sleep Tied to Impaired Cognition. 2021

 

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2 COMENTÁRIOS

  1. Boa tarde, minha mãe tem 79 anos, já está em tratamento (Velanfaxina 300, Donila Duo 10/20, Olanzapina e Citalopram). Estou reparando que nas últimas 3 semanas está dormindo demais (noite toda, parte manhã e as vezes a tarde). Isso é normal? Por favor, me retornem.

    • Olá Cláudia tudo bem? De fato, esses medicamentos podem causar certa sonolência. No entanto, cada pessoa responde de uma forma ao tratamento. Por essa razão, a escolha terapêutica sempre deve ser individualizada. Caso esteja com dúvidas, orientamos que busque o médico responsável pela prescrição dos medicamentos para sua mãe. Só ele saberá te responder com exatidão, considerando todas as particularidades da paciente.

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