Dia 21 de setembro é marcado pela Dia Mundial da Doença de Alzheimer e Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer (DA).
Nesse artigo, vamos revisar os principais trabalhos já publicados no nosso portal sobre a doença.
Bases da doença: imagens manipuladas em artigos renomados ameaçam teoria amiloide
Com certeza esse foi o artigo mais polêmico e mais famoso sobre a doença no ano de 2022. Em 21 de julho, saiu na revista Science um comunicado sobre sinais de manipulação em dezenas de artigos relacionados a Doença de Alzheimer, ameaçando uma teoria central da doença.
Na publicação (aqui), é possível conferir as imagens propostas pelo Dr. Schrag, um neurocientista que estuda manipulação em imagens científicas há anos. Nesse trabalho mais recente, foi sugerido marcas de corte na imagem do Western blot, o que poderia indicar adulteração na identificação da proteína beta-amiloide*56 (Aβ*56).
No trabalho, uma aparente manipulação que em alguns casos poderia ter feito Aβ*56 parecer mais abundante do que era.
A Aβ*56 foi proposta como o subtipo principal responsável pela DA, e o trabalho questionado é mais citado relacionado a doença – com mais de 2300 citações.
Atualmente, os dados estão sob investigação. Veja a publicação completa aqui.
Prevenção: uma boa noite de sono
Um trabalho avaliou a atividade de sono-vigília de alguns participantes, buscando correlacionar os achados com as funções cognitivas e biomarcadores na DA (como proteína tau e beta amiloide, genotipagem de APOE).
Indivíduos que dormiam pouco (<4,5h) ou muito (>6,5h) por noite tiveram um declínio cognitivo evidente. Ou seja: o ideal não é dormir demais, nem de menos!
Enquanto dormir pouco fica associado a beta-amiloide, os “longos dormidores” apresentam piores desempenho nas funções executivas, como dificuldade em realização de tarefas complexas.
Você pode ler o artigo completo no nosso Portal WeMEDS® clicando aqui.
É possível prever com precisão a Doença de Alzheimer?
Um diagnóstico preciso durante a fase inicial da DA é extremamente importante, e a maioria dos estudos foca em diagnóstico precoce. Nesse sentido, dois trabalhos tiveram destaque no nosso Portal.
Um estudo avaliou a proteína p53 como possível marcador que prevê com precisão a progressão da doença, em até seis anos antes do diagnóstico.
Mutações deletérias em p53 são identificadas em muitos tipos de neoplasias e condições pré-cancerosas. Na DA, os níveis e atividades alteradas de p53 podem implicar na patologia da doença. Essa proteína também é responsável por manter a hiperfosforilação de proteínas tau e os peptídeos beta amiloides.
O estudo avaliou de forma retrospectiva pacientes que apresentassem ou tivessem risco de desenvolver a Doença de Alzheimer, e que tivessem pelo menos 60 anos de idade. Durante 6 anos, os pacientes foram avaliados e monitorados quanto a presença de um anticorpo contra a p53 (U-p53AZ).
Os resultados do estudo mostraram que o teste pode prever o declínio de comprometimento cognitivo leve à DA ao final de 6 anos, além classificar com precisão o estágio de cognição de um paciente.
A sensibilidade apresentada pelo teste foi maior do que a encontrada nos métodos tradicionais utilizados para diagnostico atualmente; a acurácia e os valores preditivos positivos apresentados pelo teste foi de mais de 90%.
Já em maio desse ano, houve mais um avanço no diagnóstico da DA. A Food and Drug Administration (FDA) permitiu a comercialização do primeiro teste de diagnóstico para detecção precoce de placas amiloides.
O teste Lumipulse G β-Amyloid Ratio (1-42/1-40) da Fujirebio Diagnostics destina-se a pacientes adultos, com idade igual ou superior a 55 anos, que estejam em investigação para Doença de Alzheimer e outras causas de declínio cognitivo.
Em ambos os casos, é preciso cautela na interpretação e aplicação dos dados! Os resultados não determinam de forma definitiva o diagnóstico, e devem ser interpretados em conjunto com as informações clínicas do paciente.
Um resultado positivo pode ser observado em pacientes com diferentes condições neurológicas, bem como em idosos cognitivamente saudáveis, o que ressalta a importância do uso dos testes em conjunto com outras avaliações clínicas.
Um teste negativo reduz a probabilidade de que o comprometimento cognitivo de um paciente seja devido à DA, permitindo que os médicos busquem outras causas de declínio cognitivo e demência.
Você pode acessar os artigos completos nosso Portal WeMEDS® clicando aqui: p53 e lumipulse.
Efeito neuroprotetor: sildenafila e metformina?
Dois medicamentos tiveram destaque na prevenção ao desenvolvimento de doenças degenerativas.
Um estudo publicado na Nature Aging em dezembro do ano passado apontou o Viagra® (Sildenafila) como medicamento modificador de risco na DA.
O estudo realizado incluiu mais de 7 milhões de indivíduos, em um modelo computacional, que identificou a sildenafila associada a uma redução no risco de desenvolvimento de DA (em quase 70%). Ainda, houve um aumento no crescimento de neuritos e redução da expressão de tau fosforilada com o uso do medicamento.
Já em fevereiro desse ano, um grupo se propôs a estudar a metformina, e o risco de doenças neurodegenerativas com o uso do medicamento a longo prazo.
Em uma metanálise com quase 200 mil participantes, foi observado um efeito benéfico em usuários de metformina de longo prazo (risco relativo de 0,29 (IC95% 0,13-0,44) para doenças neurodegenerativas). Em especial, para aqueles em uso da medicação por 4 anos ou mais
Os estudos são animadores! Mas lembrando: nenhuma dessas associações estabelecem causalidade, o que ainda exige um ensaio clínico randomizado.
Você pode acessar os artigos completos no nosso Portal WeMEDS® clicando em: sildenafila, metformina.
Tratamento: efeito dos anti-hipertensivos
Um trabalho com foco em tratamento buscou investigar não apenas a associação entre a hipertensão e a DA, mas também a relação da utilização de medicamentos anti-hipertensivos e a extensão dos danos neurológicos.
De forma curiosa, os pesquisadores viram que houve uma redução (de ~18%) nas alterações patológicas da doença em pacientes que utilizavam medicamentos anti-hipertensivos. Houve também uma redução de 22% dos achados de corpos de Lewy.
Esses dados foram verdadeiros para praticamente todos os medicamentos avaliados, mas os diuréticos apresentaram melhor performance.
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Referências:
Charles Piller. BLOTS ON A FIELD? A neuroscience image sleuth finds signs of fabrication in scores of Alzheimer’s articles, threatening a reigning theory of the disease. Science News. V.377. July 21, 2022. https://www.science.org/content/article/potential-fabrication-research-images-threatens-key-theory-alzheimers-disease
U.S. FOOD & DRUG ADMINISTRATION. FDA NEWS RELEASE. FDA Permits Marketing for New Test to Improve Diagnosis of Alzheimer’s Disease. May 04, 2022.
Zhang Y et al. Metformin and the risk of neurodegenerative diseases in patients with diabetes: A meta-analysis of population-based cohort studies. Diabetic Medicine. 2022. https://doi.org/10.1111/dme.14821
Brendan P Lucey, Julie Wisch, Anna H Boerwinkle, Eric C Landsness, Cristina D Toedebusch, Jennifer S McLeland, Omar H Butt, Jason Hassenstab, John C Morris, Beau M Ances, David M Holtzman, Sleep and longitudinal cognitive performance in preclinical and early symptomatic Alzheimer’s disease, Brain, Volume 144, Issue 9, September 2021, Pages 2852–2862. https://academic.oup.com/brain/article/144/9/2852/6401973
Winer JR, Deters KD, Kennedy G, et al. Association of Short and Long Sleep Duration With Amyloid-β Burden and Cognition in Aging. JAMA Neurol. 2021;78(10):1187–1196. doi:10.1001/jamaneurol.2021.2876