Doença de Alzheimer: é possível prever com precisão?

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A Doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa, sendo a causa mais comum de demência em idosos. Sua etiologia ainda não é bem determinada, mas sabe-se que existem fatores genéticos envolvidos no seu aparecimento.

Um diagnóstico preciso durante a fase inicial da doença é extremamente importante, pois permite uma maior probabilidade de tratamentos eficientes, que permitiram uma melhor qualidade de vida para o paciente. Por essa razão, a maioria dos estudos foca em diagnóstico precoce.

Um estudo recente avaliou a proteína p53 como possível biomarcador prognóstico para prever com precisão a progressão para Doença de Alzheimer em até seis anos antes do diagnóstico.

Doença de Alzheimer

A Doença de Alzheimer é caracterizada por distúrbios na memória, pensamentos e comportamento. Em seus estágios iniciais os sintomas da demência podem passar praticamente desapercebidos, porém, pioram conforme o avanço da doença.

O progresso da doença é variável conforme cada indivíduo e costuma ser lento, e os pacientes costumam viver entre 8 e 10 após o início dos sintomas. O quadro clínico dessa doença, costuma ser dividido em quatro estágios:

  • Estágio 1 (forma inicial): O paciente apresenta alterações na memória, personalidade, e nas habilidades visuais e espaciais;
  • Estágio 2 (forma moderada): O paciente apresenta dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar seus movimentos, também apresenta agitação e insônia;
  • Estágio 3 (forma grave): O paciente apresente resistência à execução de tarefas diárias, incontinência urinária e fecal, dificuldade para comer e deficiência motora progressiva;
  • Estágio 4 (terminal): O paciente apresenta restrição ao leito, mutismo, dor ao engolir e infecções recorrente.

Ainda não há tratamento ideal que impeça o avanço da doença, apenas medicamentos para tratar os sintomas da demência. As pesquisas realizadas nas últimas décadas proporcionaram uma melhor compreensão sobre como a Doença de Alzheimer afeta o cérebro. Porém, os pesquisadores seguem em busca de tratamentos mais eficazes, além de formas de impedir o avanço da doença e melhorar a saúde cerebral.

Diagnóstico

Até hoje não existe um exame que indique de forma precisa que o indivíduo é portador do Alzheimer. O diagnóstico dessa doença requer uma avaliação médica que inclui: histórico familiar médico, exames neurológicos, testes cognitivos que avaliem a memória do paciente e exames de sangue que possam descartar outras possíveis causas dos sintomas.

Apesar dos médicos conseguirem determinar se a pessoa é portadora de demência através dos testes citados acima, pode ser mais difícil distinguir o tipo de demência que o paciente apresenta, sendo que diagnósticos diferenciais observados podem ser um fator de confusão no diagnóstico em indivíduos que apresentam Alzheimer prematuro.

Tá, mas onde entra a p53 no Alzheimer?

A proteína p53 é um fator de transcrição e supressor de tumor que está envolvida na regulação dos principais processos celulares. Por estar envolvida em processos centrais na resposta a danos no DNA a p53 é conhecida como “guardiã do genoma”. Ela é responsável por detectar danos causados no DNA e acionar mecanismos de proteção para tentar repará-los. Quando os danos são muito grandes e irreparáveis, essa proteína provoca a morte celular.

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Mutações que levem a perda de função da p53 são a base de vários tipos de câncer e condições pré-cancerosas. Na Doença de Alzheimer os níveis e atividades alteradas de p53 podem implicar na patologia da doença. Essa proteína também é responsável por manter a hiperfosforilação de proteínas tau, que são proteínas neuronais, e os peptídeos beta amiloides (principais constituintes das placas de amiloide observadas no cérebro de pacientes com Doença de Alzheimer).

Exame de sangue pode predizer a doença anos antes do diagnóstico

Um estudo recente de validação clínica mostrou que um exame de sangue baseado em um biomarcador é capaz de prever com precisão a progressão para Doença de Alzheimer em até seis anos antes do diagnóstico.

O exame de sangue com biomarcador prognóstico detecta níveis de uma variante conformacional desdobrada da proteína p53, usando um anticorpo denominado U-p53AZ.

Para que pudesse ser comprovada sua eficácia, foi realizado um estudo longitudinal retrospectivo. Foram selecionados 482 pacientes que apresentassem ou tivessem risco de desenvolver a Doença de Alzheimer e que tivessem idade igual ou superior a 60 anos.

Os participantes do estudo foram acompanhados por um período de até dose anos, provenientes do estudo de coorte Australian Imaging, Biomarker & Lifestyle Flagship Study of Aging (AIBL).

Durante o período que os pacientes participaram do estudo, a atividade neuropsicológica e os níveis do anticorpo U-p53AZ foram sendo acompanhados em vários pontos, que permitiu os pesquisadores afirmarem quando o marcador é mais preciso para prever o declínio da atividade neuropsicológica.

Os resultados do estudo mostraram que o teste pode prever o declínio de comprometimento cognitivo leve à Doença de Alzheimer ao final de 6 anos. Foi demonstrado no estudo que o teste pode também classificar com precisão o estágio de cognição de um paciente: se o paciente tem queixas subjetivas de memória, comprometimento cognitivo leve, ou se já está no estágio da Doença de Alzheimer, com 95% de acurácia.

A sensibilidade apresentada pelo teste foi maior do que a sensibilidade encontrada nos métodos tradicionais utilizados para diagnostico atualmente; a acurácia e os valores preditivos positivos apresentados pelo teste foi de mais de 90%.

É importante destacar que os autores do trabalho ressaltaram que o teste é muito específico para o declínio da Doença de Alzheimer, e não deve ser aplicado a outras doenças.

Conclusões

O estudo traz importantes resultados, visto que identificar os pacientes que irão progredir para a Doença de Alzheimer anos antes de apresentarem os sintomas lhes dá tempo para tomar decisões médicas, e ainda permite que esses pacientes possam tentar tratamentos em um estágio inicial da doença, quando a eficácia dessas terapias é comprovada.

Apesar do estudo apresentar resultados preliminares encorajadores, algumas ressalvas são importantes: o teste ainda está em seus estágios iniciais de desenvolvimento, e ainda não foi testado extensivamente em grandes e diversos ensaios clínicos. Além disso, apesar do teste prever se uma pessoa irá progredir, ele não prevê quando. Mais estudos ainda são necessários para que se tenha melhor conhecimento de sua eficiência para a população como um todo.

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Referências:

Piccirella S, et al., A conformational variant of p53 (U-p53AZ) as blood-based biomarker for the prediction of the onset of symptomatic Alzheimer’s disease. medRxiv 2021.08.23.21261848

Abate G, et al., The pleiotropic role of p53 in functional/dysfunctional neurons: focus on pathogenesis and diagnosis of Alzheimer’s disease. Alz Res Therapy 12, 160 (2020).

AlzoSure Test – Diadem

Doença de Alzheimer. Ministério da Saúde

Alzheimer e demência no Brasil. Alzheimer’s Association

 

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