A Tinea Imbricata é uma infecção fúngica cutânea crônica, superficial, generalizada e não inflamatória, causada por Trichophyton concentricum. Faz parte do grupo de “dermatofitoses”, infecções causadas por fungos (dermatófitos) que invadem a camada córnea da pele, não invadindo a epiderme nem derme, porém levando a reações imunológicas locais, utilizando a queratina como fonte de sobrevivência.
Veja como identificar a tratar um paciente com tinea imbricata.
A Tinea Imbricata é uma condição endêmica em algumas regiões
A Tinea Imbricata é uma variação da Tinea corporis, e ocorre tipicamente por todo corpo em regiões sem pelos (glabra) – com exceção de virilha, palma das mãos/pés. O dermatófito causador é o Trichophyton concentricum, fungo antropofílico, de crescimento lento, que forma de colônias com diversas dobras elevadas.
O nome “imbricata” deriva do latim “imbrex“, que significa “telhas sobrepostas” – característica clínica marcante. Em algumas regiões, pode apresentar nomes diferentes – “Tokelau”, “Rona”, “Chimberê”.
A condição é endêmica no sudoeste do Pacífico, na América Central, na América do Sul e no Sudeste Asiático. Em algumas regiões, até 20% da população é afetada. Povos originários (indígenas) são mais acometidos.
Pode ocorrer em todas as idades, porém existe uma prevalência aumentada em crianças, e é levemente mais frequente em meninas.
Como ocorre a doença?
Como citamos, a Tinea imbricata é causada pelo dermatófito Trichophyton concentricum.
A condição pode ser adquirida através do contato direto com um indivíduo infectado ou através de um objeto contaminado, como uma toalha. Outra possibilidade é a autoinoculação a partir do contato prévio com regiões infectadas (p.ex. pés, couro cabeludo etc.). É uma doença bastante contagiosa.
Ao entrar em contato com a camada córnea da pele, principalmente em regiões mais quentes do corpo, ocorre uma aderência fúngica nos queratinócitos. Há então produção de enzimas pelos fungos como queratinase, o que permite a sobrevivência na camada córnea da pele, com sua multiplicação em caráter centrífugo.
Em decorrência da infecção, há um aumento da renovação epidérmica pós-inflamatória, o que resulta em descamação intensa. Em indivíduos imunocompetentes, não há invasão para camadas mais profundas.
Muitos estudos sugerem que há algum fator genético (autossômico dominante) envolvido na doença, visto que (1) é endêmica em certas regiões do mundo e (2) visitar a região endêmica não necessariamente aumenta o risco de infecção – algumas pessoas simplesmente não se contaminam.
Como identificar um paciente com Tinea Imbricata?
O diagnóstico é clínico-epidemiológico, e se possível associado à dermatoscopia.
Caracteristicamente há presença de lesão descamativa na pele, sendo geralmente marrom-avermelhadas, com início em tronco ou membros. É bastante pruriginosa e eritematosa. Apresenta característica anular (centro claro), com formato oval ou circular, que se espalha de forma centrífuga.
A liquenificação é comum – pele espessa, resultado da fricção crônica. Com o tempo, as lesões ficam sobrepostas e dão origem a um aspecto de “escama de peixe” ou “telhas sobrepostas”.
Em caso de dúvida diagnóstica, é possível realizar preparação com hidróxido de potássio (KOH) 10-20%, que ajuda a dissolver queratina e detritos para que as hifas e esporos possam ser facilmente visíveis por microscopia.
A cultura também pode ser realizada a partir da raspagem de pele. No entanto, é pouco utilizada, visto que para ser considerada cultura negativa, são necessários 28 dias.
Como tratar?
A condição é crônica e raramente se resolve espontaneamente. Mesmo com tratamento, reinfecção e recidivas são comuns. Se não tratado, não resulta em mortalidade, porém pode diminuir a qualidade de vida.
Diferente da tinea corporis, na tinea imbricata o tratamento tópico sozinho é ineficaz. É necessário associar antifúngicos sistêmicos, por pelo menos 4 semanas. Como primeira opção, sugere-se Terbinafina – 250 mg via oral uma vez ao dia. Griseofulvina e Fluconazol também são eficazes.
É importante orientar os pacientes para que não abandonem o tratamento, para completa eliminação do patógeno. Além disso, orientar medidas de cuidado para evitar a disseminação para outras regiões do corpo através da autoinoculação.
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Referências:
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Trichophyton concentricum. https://www.adelaide.edu.au/mycology/fungal-descriptions-and-antifungal-susceptibility/dermatophytes/trichophyton#trichophyton-concentricum.
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