Pacientes com depressão e ansiedade podem ser divididos em 6 biotipos, diz estudo

pensamentos depressivos

Um estudo publicado na revista Nature utilizou dados de ressonância magnética funcional, tanto em um protocolo de repouso quanto de evocação de tarefas, para dividir pacientes com depressão e ansiedade em 6 biotipos.

Dificuldades no tratamento de depressão e ansiedade

Para possibilitar diagnósticos mais precisos e a seleção do melhor tratamento para cada indivíduo, precisamos dissecar a heterogeneidade da depressão e da ansiedade. A abordagem diagnóstica dominante na psiquiatria leva à experimentação de opções de tratamento por tentativa e erro – o que é demorado, caro e frustrante, com 30–40% dos pacientes não alcançando remissão após tentar um tratamento.

É necessário que se obtenham medidas personalizadas e interpretáveis para quantificar disfunções neurobiológicas em pacientes com depressão e transtornos de ansiedade associados, possibilitando uma medicina de precisão.

Estudo recente busca caracterizar diferentes biotipos de depressão e ansiedade

Pacientes com depressão e ansiedade exibem disfunção na atividade e conectividade dos circuitos cerebrais em resposta a estímulos específicos de cognição geral e emocional. Em outras palavras, na depressão e na ansiedade, o cérebro envolve continuamente e de forma flexível diferentes circuitos sob condições de tarefas evocadas e em repouso.

Um estudo recente, publicado na revista Nature, avaliou participantes não medicados e com critérios diagnósticos tradicionais para transtorno depressivo maior, ansiedade generalizada (TAG), transtorno de pânico, ansiedade social, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e/ou estresse pós-traumático (TEPT).

depressao e ansiedade

Usando dados de ressonância magnética funcional, os pesquisadores classificaram os participantes do estudo em seis biotipos de depressão e ansiedade, distinguidos por perfis específicos de atividade e/ou conectividade, tanto sem tarefa quanto evocada por tarefa, em relação uns aos outros e à amostra de referência saudável.

Os biotipos foram nomeados de acordo com a característica que os diferenciava da referência saudável. São definidos por perfis distintos de conectividade funcional intrínseca em repouso dentro dos circuitos de modo padrão (D), saliência (S) e atenção (A) frontoparietal, e de ativação e conectividade dentro de regiões frontais e subcorticais eliciadas por tarefas emocionais (N = negativo e P = positivo) e cognitivas (C).

  1. DC+SC+AC+ = padrão com saliência e hiperconectividade de atenção (n = 169).
  2. AC− = hipoconectividade de atenção (n = 161).
  3. NSA+PA+ = afeto negativo provocado pela tristeza com hiperativação de afeto positivo (n = 154).
  4. CA+ = hiperativação do controle cognitivo (n = 258).
  5. NTCC-CA- = hipoativação do controle cognitivo com hipoconectividade de afeto negativo provocada por ameaça consciente (n = 15).
  6. DXSXAXNXPXCX = ativação e conectividade intactas (n = 44).

Os seis biotipos foram distinguidos por sintomas, desempenho comportamental em testes cognitivos gerais e emocionais computadorizados, e resposta à farmacoterapia, bem como à terapia comportamental.

transtornos de ansiedade

Diferentes respostas terapêuticas

Os autores encontraram que os biotipos predizem a resposta a diferentes medicamentos e intervenções comportamentais.

Por exemplo, pacientes com um biotipo caracterizado por hiperatividade nas regiões cerebrais responsáveis pela cognição apresentaram uma melhor resposta ao antidepressivo venlafaxina em comparação com pacientes de outros biotipos.

Já pacientes cujo biotipo estava associado a níveis mais elevados de atividade cerebral em repouso em três regiões associadas à depressão e à resolução de problemas responderam melhor à terapia comportamental.

Além disso, participantes com um biotipo caracterizado por níveis mais baixos de atividade em repouso no circuito cerebral que controla a atenção tinham menos chances de apresentar uma melhora dos sintomas com a terapia comportamental em comparação a indivíduos com outros biotipos.

cetamina para depressão

Diferentes sintomas

Esses vários biotipos de depressão e ansiedade também se correlacionaram com diferenças nos sintomas e no desempenho em tarefas.

Por exemplo, indivíduos com regiões cognitivas hiperativas apresentaram níveis mais elevados de anedonia em relação a pacientes com outros biotipos, além de um pior desempenho em tarefas que quantificam a função executiva. Participantes com o biotipo que melhor respondeu à terapia comportamental também cometeram erros em tarefas relacionadas a funções executivas, mas tiveram bom desempenho em tarefas cognitivas.

 

Biotipagem de depressão e ansiedade: o quanto isso é possível?

Os resultados desse estudo recente validam um novo método baseado em teoria para biotipagem de depressão, bem como uma abordagem promissora para avançar no cuidado clínico de precisão na psiquiatria.

No entanto, estudos futuros são necessários para investigar esses biotipos em novos conjuntos de dados, e para atribuir prospectivamente participantes ao tratamento com base em seus biotipos. Além disso, obter medidas de ressonância magnética funcional de tarefa pode ser mais oneroso do que coletar apenas medidas sem tarefa.

biotipos de depressão e ansiedade

Referências:

Estudo inédito sugere existência de seis subtipos de depressão e ansiedade – Medscape – 10 de julho de 2024.

Tozzi, L., Zhang, X., Pines, A. et al. Personalized brain circuit scores identify clinically distinct biotypes in depression and anxiety. Nat Med 30, 2076–2087 (2024). https://doi.org/10.1038/s41591-024-03057-9

Google search engine

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui