Um trabalho recente evidenciou que realizar corrida em grupo é tão benéfico para a saúde mental quanto o uso de antidepressivos.
Ao avaliar pacientes com ansiedade e/ou depressão por 16 semanas, pesquisadores notaram uma melhora na saúde mental de ambos os grupos. Porém, a melhora da saúde física na corrida foi mais evidente nos que realizaram exercícios, enquanto a saúde física dos pacientes em uso de antidepressivos foi ligeiramente pior.
Não há dúvidas quanto aos benefícios físicos e mentais da corrida. Essa pode ser uma proposta terapêutica interessante também para melhora dos sintomas em pacientes com depressão e ansiedade.
Corrida em grupo para melhora da saúde física e mental
No trabalho publicado na Journal of Affective Disorders em maio desse ano, mais de 140 pacientes com ansiedade e/ou depressão foram avaliados pelos pesquisadores. Cada um deveria escolher entre duas opções de tratamento: uso de inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) ou prática regular de corrida em grupo.
O grupo que escolheu antidepressivos tomou escitalopram ou sertralina, iniciando com 10 mg e 50 mg, respectivamente. O grupo que optou pelo exercício participou de 45 minutos de corrida supervisionada ao ar livre, por 16 semanas. O objetivo era realizar entre 2 e 3 aulas por semana.
Embora mais pessoas tenham desistido da corrida do que do uso de antidepressivos, ambos os grupos se beneficiaram dos tratamentos, indicando o potencial da corrida em grupo na saúde mental. Houve melhora em 45% dos pacientes em uso de ISRS, e em 43% dos pacientes que correram. Ainda, foram observados benefícios significativos na saúde física dos pacientes que escolheram a corrida.
Um fato interessante é que o uso exclusivo de antidepressivos não força o paciente a ter novos hábitos. No entanto, a prática regular de exercícios muda o estilo de vida, incentivando o paciente a sair de casa, participar de atividades em grupo, melhorar sua saúde física.
Segundo a pesquisadora responsável pelo trabalho, “ambas as intervenções ajudaram no tratamento da depressão na mesma medida. Os antidepressivos (…) tiveram um impacto pior no peso corporal, na variabilidade da frequência cardíaca e na pressão arterial, enquanto a terapia de corrida levou a um efeito melhorado no condicionamento físico geral e na frequência cardíaca, por exemplo.”
Devemos incentivar a prática de exercícios físicos!
Dos pacientes avaliados, 45 escolheram antidepressivos, e 96 a participação nas corridas. Ainda que a preferência inicial dos pacientes tenha sido o exercício, a adesão foi menor nesse grupo (52% vs. 82% no grupo ISRS). Isso evidencia a dificuldade em manter uma rotina de exercícios.
Uma das limitações do trabalho e que poderia ser um fator de confusão na análise dos resultados é quanto aos pacientes decidirem qual abordagem queriam. Para minimizar isso, os pesquisadores randomizaram alguns pacientes, e não houve diferença nos achados do grupo randomizado comparado ao grupo que escolheu sua abordagem terapêutica. Porém, ainda assim o grupo de pacientes que recebeu a medicação era composto por indivíduos mais deprimidos.
Independentemente das limitações, é necessário incentivarmos nossos pacientes para que pratiquem atividades físicas de forma regular, e a corrida em grupo pode ser uma boa opção. Envolver-se em grupos e estabelecer metas em conjunto pode ser um aliado no tratamento de transtornos mentais, como ansiedade e depressão.
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Referências:
Tom Parkhill. Running Parallels Antidepressants in Reducing Depression. Neuroscience News. October 7, 2023. Disponível em: https://neurosciencenews.com/running-ssri-depression-24928/
Verhoeven JE, Han LKM, Lever-van Milligen BA, Hu MX, Révész D, Hoogendoorn AW, Batelaan NM, van Schaik DJF, van Balkom AJLM, van Oppen P, Penninx BWJH. Antidepressants or running therapy: Comparing effects on mental and physical health in patients with depression and anxiety disorders. J Affect Disord. 2023 May 15;329:19-29. doi: 10.1016/j.jad.2023.02.064. Epub 2023 Feb 23. PMID: 36828150.