A Salmonella é causadora de gastroenterocolite infecciosa aguda (GECA), condição na qual os pacientes apresentam dor abdominal com febre e diarreia aquosa, podendo ter enjoos, vômitos e dor de cabeça. A infecção por esta bactéria é uma das principais causas de diarreia no mundo, com cerca de 94 milhões de casos estimados anualmente.
Em geral, a doença é autolimitada. O ponto mais importante do tratamento é através da prevenção, com medidas de saneamento básico, assim como a higiene no preparo de alimentos e ingestão de água filtrada/fervida.
Como ocorre a infecção por Salmonella não tifoide?
O grupo Salmonella possui mais de 200 diferentes sorovares, sendo as não tifoides S. enteritidis e S. typhimurium as mais comuns associadas à gastroenterite. São bactérias gram-negativas, flageladas e anaeróbias facultativas.
A transmissão se dá por via fecal-oral. Pode ser de forma direta – contato com as mãos contaminadas de um doente ou portador – ou indireta, com a manipulação de alimentos por pacientes oligossintomáticos.
É um patógeno pouco infeccioso – necessita a ingestão de uma grande quantidade de bactérias, pois grande parte desse inóculo acaba morrendo pelo pH ácido do estômago. As que sobrevivem chegam até o intestino e se aderem a células chamadas de “M” de estruturas linfáticas chamadas “Placas de Peyer“. Em seguida, ocorre uma endocitose pelos linfócitos e macrófagos locais – o que faz com que a bactérias comecem a se multiplicar.
Em caso de gastroenterite, há focos de resposta inflamatória no intestino delgado, resultando em morte das células epiteliais intestinais. Na maioria dos casos, a infecção permanece local. A capacidade de resposta imune do hospedeiro e a virulência do sorovar determinam a progressão da infecção.
Como diagnosticar um paciente com salmonelose?
O diagnóstico é clínico-epidemiológico, associado a confirmação laboratorial.
Pacientes sintomáticos apresentam febre por mais de 3 dias associada a sintomas abdominais (dor, diarreia ou constipação), além de contato recente com alimentos ou animais potencialmente infectados. Importante lembrar que alguns pacientes podem ser assintomáticos, disseminando a doença quando preparam alimentos.
A análise laboratorial é realizada apenas em casos graves, em pacientes imunocomprometidos ou aqueles com comorbidades que aumentem o risco de complicações. Nesses casos, a coprocultura é realizada, e apresenta sensibilidade de 40-60%.
Idealmente, após 7 dias do fim do tratamento, os pacientes devem realizar três coproculturas com intervalo de 30 dias entre elas, para afastar a possibilidade de serem portadores – o que poderia contribuir com recorrência de epidemia.
Como tratar o paciente com Salmonella?
Os objetivos do tratamento são: melhorar os sintomas, diminuir o tempo de doença, eliminar os agentes causadores e evitar complicações. Para casos leves de gastroenterocolite infecciosa aguda, apenas a reposição de fluidos e eletrólitos é suficiente. Em geral, a condição é autolimitada, e o paciente melhora em até 5 dias.
Já em casos graves ou com fatores de risco associados, a antibioticoterapia deve ser adotada. Sugere-se ciprofloxacino (500 mg via oral a cada 12 horas) ou levofloxacino (500 mg via oral uma vez ao dia). Outras opções viáveis incluem Sulfametoxazol + Trimetoprima, Azitromicina ou Ceftriaxona.
A duração do tratamento com antibióticos é de no máximo 14 dias. O benefício é obtido em média de 3-5 dias. Lembrando que na prática médica deve-se evitar o uso excessivo de antibióticos pelo risco de superinfecção e resistência.
Em casos de náuseas e vômitos, antieméticos também pode ser incluídos na prescrição, e em caso de dor abdominal, analgésicos e antiespasmódicos podem ser úteis.
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Referências:
Elizabeth L Hohmann, MD. Nontyphoidal Salmonella: Gastrointestinal infection and carriage.
Elizabeth L Hohmann, MD. Nontyphoidal Salmonella: Microbiology and epidemiology. UpToDate®. Nov 2023.
Camille N Kotton, MD; Elizabeth L Hohmann, MD. Pathogenesis of Salmonella gastroenteritis. UpToDate®. Nov 2023.