Cochilar durante o dia pode estar associado a maior risco de hipertensão e AVC, diz estudo

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Você costuma cochilar durante o dia?

Um estudo publicado essa semana mostrou que pessoas com este hábito frequente têm uma chance maior de desenvolver hipertensão, além de um risco maior de AVC.

Cochilos durante o dia podem ser prejudiciais?

De acordo com um estudo publicado na revista Hypertension (uma revista da American Heart Association (AHA)), cochilar durante o dia pode ser um problema!

O objetivo do estudo foi investigar a associação entre a frequência de cochilos diurnos e a incidência de hipertensão essencial ou acidente vascular cerebral (AVC), bem como validar a causalidade nessa relação. Este foi o primeiro estudo a usar tanto a análise observacional dos participantes durante um longo período, quanto a análise de randomização mendeliana.

Uma pausa: já falamos sobre essa estatística em um artigo anterior nosso (aqui), mas vale lembrar sua importância.

A randomização mendeliana (RM) representa uma abordagem bem estabelecida para se proteger contra variantes de confusão em um estudo. É bastante utilizada para reduzir viés em estudos observacionais. A análise genética é incluída e ajuda a realizar inferências mais robustas sobre efeitos causais, quando temos um fator de risco modificável.

Ou seja, a RM foi útil como uma validação de risco genético para investigar se cochilos frequentes estavam associados à pressão alta e ao AVC isquêmico.

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Voltando…

O grupo de pesquisa realizou a análise RM para diferentes coortes, avaliando polimorfismos (variantes) genéticas, hipertensão arterial e AVC. Foram avaliados dados (em bancos de dados públicos) de mais de 350 mil participantes, com idades entre 40 e 69 anos que viveram no Reino Unido entre 2006 e 2010.

Nos estudos, os participantes forneceram regularmente amostras de sangue, urina e saliva, bem como informações detalhadas sobre seu estilo de vida. As respostas sobre o padrão de sono nesse estudo observacional incluíam “nunca / raramente / geralmente / sempre cochilar” durante o dia.

Como primeiro achado, foi visto que cochilar geralmente foi associado a um leve aumento de risco ao desenvolvimento de hipertensão (RR 1,12 [IC 95%, 1,08-1,17]) e AVC (RR 1,24 [IC 95%, 1,10-1,39]). Para AVC isquêmico, também foi observado o mesmo padrão (RR 1,2).

Ou seja: quando comparadas às pessoas que relataram nunca tirar uma soneca, as pessoas que costumam cochilar tiveram uma probabilidade 12% maior de desenvolver pressão alta e 24% maior de ter um AVC.

O resultado da RM mostrou que, se a frequência de cochilos aumentasse em uma categoria (de nunca para algumas vezes ou de às vezes para geralmente), o risco de hipertensão aumentava para 40%.

As análises estratificadas por idade também apresentaram associações relevantes.

Indivíduos com menos de 60 anos que cochilavam na maioria dos dias apresentavam aumento do risco de desenvolver hipertensão em cerca de 20% em comparação com quem nunca ou raramente tem este hábito.

Os resultados permaneceram robustos mesmo depois da exclusão de indivíduos com alto risco de hipertensão, como aqueles com diabetes tipo 2, pressão alta previamente existente, hipercolesterolemia, além de distúrbios do sono e que trabalhavam no turno da noite.

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Resultado inovador?

O estudo tem dados robustos, principalmente pelo grande número amostral, mas os dados não são necessariamente uma grande descoberta.

Embora todos os fatores de confusão tenham sido ajustados pela estatística, a maioria das pessoas do estudo que cochilavam regularmente também era tabagista, consumia bebidas alcoólicas com frequência, relatava ser uma pessoa de hábitos noturnos ou apresentava distúrbios do sono.

E já sabemos que estes fatores afetam a qualidade e quantidade de sono – o que pode resultar em fadiga excessiva e sonecas durante o dia. Inclusive, de acordo com a AHA, a duração e a qualidade do sono são métricas essenciais para a adequada manutenção da saúde cardíaca e neurológica.

Os distúrbios do sono também estão ligados a um aumento no estresse e nos hormônios de regulação do peso, que podem levar à obesidade, pressão alta, diabetes tipo 2 – todos fatores de risco para doenças cardíacas.

Ainda, algumas limitações importantes a serem consideradas.

Os pesquisadores coletaram apenas a frequência do cochilo diurno, não a duração. Portanto, não há informações sobre como (ou se) a duração do cochilo afeta a pressão arterial ou os riscos de AVC.

Além disso, a frequência de cochilos foi autorrelatada sem quaisquer medidas objetivas, tornando as estimativas não quantificáveis. Ainda, os participantes do estudo eram em sua maioria de meia-idade e idosos com ascendência europeia, o que não permite generalização para outras populações.

Por fim, devemos lembrar que é um estudo observacional! Os pesquisadores ainda não descobriram os mecanismos biológicos e moleculares para os efeitos propostos. Como o esperado, a maior frequência de cochilos diurnos foi relacionada à propensão genética para o risco de hipertensão arterial – o que justifica parte dos achados. Mas ainda há um longo caminho a percorrer.

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O que este estudo acrescenta na prática clínica?

Embora tirar um cochilo em si não pareça seja prejudicial, este hábito pode ser resultado de um sono ruim à noite. E nesse sentido, investigar a razão do distúrbio de sono é a chave para a melhora do desfecho clínico.

Mesmo com suas limitações, o estudo destaca a importância do questionamento aos pacientes sobre cochilos e sonolência diurna excessiva, a fim de avaliar outras condições que contribuem para modificar potencialmente o risco de doenças cardiovasculares.

 

Referências:

Yang, Zhang, Wang, et al. 2022. Association of Nap Frequency With Hypertension or Ischemic Stroke Supported by Prospective Cohort Data and Mendelian Randomization in Predominantly Middle-Aged European Subjects. Hypertension. DOI: 10.1161/HYPERTENSIONAHA.122.19120 https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/HYPERTENSIONAHA.122.19120

Sandee LaMotte, CNN. Napping regularly linked to high blood pressure and stroke, study finds. July 25, 2022. https://edition.cnn.com/2022/07/25/health/naps-high-blood-pressure-study-wellness/index.html

American Heart Association, MedicalXPress, Health, Cardiology. Study shows link between frequent naps and high blood pressure. July 25, 2022. https://medicalxpress.com/news/2022-07-link-frequent-naps-high-blood.html

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