Em julho deste ano foram relatados aumentos no número de casos de miocardite após a vacinação com vacinas de mRNA (Pfizer e Moderna) contra COVID-19 em adolescentes e jovens adultos. Uma análise da agência reguladora norte-americana (Food and Drug Administration – FDA) teria sugerido que existem riscos aumentados de ocorrência de miocardite, principalmente após a aplicação da segunda dose.
Os principais sintomas relatados pelos pacientes seriam: dor no peito, falta de ar, palpitações ou alterações dos batimentos cardíacos. Esses sintomas surgiriam cerca de 4 – 7 dias após a vacinação.
Trouxemos aqui alguns estudos que avaliaram a relação entre as vacinas de mRNA e a miocardite:
Novos estudos confirmam que a incidência de miocardite em vacinados contra a COVID-19 é baixa
No início de outubro de 2021 foram publicados três importantes trabalhos realizados na população dos Estados Unidos e de Israel que trouxeram novas informações a respeito da miocardite relacionada as vacinas de mRNA disponíveis contra SARS–CoV–2.
Todos os trabalhos tiveram as mesmas conclusões: a miocardite associada a vacinas contra COVID-19 se apresenta geralmente de maneira leve, sendo que a chance de ocorrência em pacientes vacinados é menor do que em pacientes não vacinados que venham a contrair o coronavírus.
A incidência é maior em adolescentes e jovens adultos do sexo masculino
Um estudo publicado em 04 de outubro na revista JAMA Internal Medicine, avaliou cerca de 2,4 milhões de membros da Kaiser Permanente Southern California (KPSC – instituto de planos de saúde sem fins lucrativos nos Estados Unidos), com idade igual ou maior a 18 anos que tivessem recebido pelo menos uma dose da vacinas BNT162b2 (Pfizer) ou mRNA-1273 (Moderna), vacinados entre dezembro de 2020 e julho de 2021.
Foram identificados 15 casos de miocardite, sendo que desses, dois foram confirmados após a primeira dose da vacina e treze confirmados após a segunda dose. Todos os indivíduos eram do sexo masculino e com idade média de 25 anos.
A incidência geral de miocardite entre indivíduos adultos totalmente vacinados foi de 1 caso por 172.414. E a incidência observada nessa população, cerca de dez dias após a vacinação seria de: 0,8 casos por um milhão após a primeira dose e 5,8 casos por um milhão após a segunda dose.
Outros dois estudos avaliaram a incidência de miocardite na população vacinada de Israel. O primeiro estudo avaliou 5.442.696 pessoas que receberam a primeira dose da vacina Pfizer – BNT162b2, e 5.125.635 que receberam a segunda a segunda dose. Nesses indivíduos foram encontrados 136 casos de miocardite confirmados ocorridos após 21 dias da primeira dose da vacina. A incidência de miocardite foi de 5,34 após a segunda dose em todos os grupos.
A incidência encontrada quando separada por sexo foi de 1 em cada 26.000 homens após a segunda dose da vacina e 1 em cada 218.000 mulheres após a segunda dose da vacina. Na população geral não vacinada, a incidência é de ~1 caso para cada 10.857 indivíduos.
Em outro estudo publicado por Witberg e colaboradores foram avaliados 2.558.421 indivíduos com idade igual ou superior a 16 anos, vacinados com pelo menos uma dose da vacina Pfizer – BNT162b2, até maio de 2021. Esses indivíduos seriam provenientes do banco de dados da Clalit Health Service (a maior organização de saúde de Israel).
Dos indivíduos analisados, 94% já teriam recebido duas doses da vacina, sendo que desses, 54 teriam desenvolvido miocardite nos 42 dias após a primeira dose. A mediana da idade apresentada pelos indivíduos era de 27 anos, e apenas três eram mulheres. A incidência de miocardite observada em indivíduos que tenham recebido pelo menos uma dose da vacina nessa população foi de 4,12 a cada 100.000 homens e 0,23 a cada 100.000 mulheres.
Miocardite leve
No estudo que avaliou a população dos EUA, todos os indivíduos que manifestaram miocardite não apresentaram testes positivos para SARS-CoV-2. Dentre estes, 14 apresentaram dor no peito entre 1 a 5 dias após a vacinação.
Os indivíduos que apresentaram miocardite tiveram uma melhora significativa com um tempo médio de internação de cerca de 3 a 4 dias. O tratamento apresentado a esses indivíduos consistia em anti-inflamatórios não esteroidais, acompanhados ou não de colchicina para inflamação do pericárdio. Porém, sete pacientes desenvolveram complicações importantes incluindo disfunção ventricular esquerda, arritmias e insuficiência cardíaca.
Em outro estudo, 54 casos de miocardite foram identificados após a vacinação em indivíduos israelenses que já tinham sido vacinados com pelo menos uma dose da vacina de mRNA. No entanto, 41 destes foram considerados leves, e 12 de gravidade intermediária.
Conclusão
Em conjunto, esses estudos sugerem que o risco de desenvolvimento de miocardite é baixo. A Anvisa também se pronunciou, esclarecendo que o risco de ocorrência desse evento adverso seria reduzido, e mantém o esquema de vacinação da população.
Ainda assim é importante que profissionais da saúde se mantenham atentos e permaneçam cautelosos em casos em que a miocardite possa ser uma complicação das vacinas de mRNA. A identificação precoce dos sintomas e adoção de tratamento oportuno são aspectos fundamentais para melhor evolução clínica de pacientes.
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Referências
Anvisa alerta sobre risco de miocardite e pericardite pós-vacinação.