Anticorpos antimitocôndria (AMA) são autoanticorpos direcionados contra uma lipoproteína da membrana mitocondrial, especialmente mitocôndrias presentes nos canalículos biliares.
O teste que detecta a presença desses autoanticorpos no sangue do paciente é relacionada principalmente com a Colangite Biliar Primária, e devem ser solicitados na suspeita da doença, ou diante de investigação etiológica de hepatopatia crônica / cirrose
Veja mais sobre o exame.
Autoanticorpos contra membrana mitocondrial: entenda o exame
Anticorpos antimitocôndria (AMA) são autoanticorpos direcionados contra uma lipoproteína da membrana mitocondrial, especialmente mitocôndrias presentes nos canalículos biliares. Acredita-se que em pacientes geneticamente suscetíveis, fatores ambientais (como uma infecção viral) sirvam de gatilho para a formação desses autoanticorpos.
Como resultado da reação antígeno-anticorpo nas vias biliares, há início de um processo inflamatório local. Dessa forma, os canalículos biliares são comprometidos, e a bile não consegue ser escoada completamente, ficando acumulada no fígado (colestase). Isso gera um ciclo vicioso, pois essa bile lesa mais ainda os hepatócitos e os canais biliares, e como resultado há formação de fibrose que pode se transformar em cirrose.
Tal processo é justamente a fisiopatologia da Colangite Biliar Primária, antigamente conhecida como Cirrose Biliar Primária.
Dessa maneira, a identificação do autoanticorpo antimitocôndria na corrente sanguínea é de fundamental importância para o auxílio diagnóstico de colangite (cirrose) biliar primária: cerca de 95% dos pacientes com a condição apresentam o autoanticorpo positivo.
Isso se reflete na alta especificidade do exame quando os valores de títulos são (≥1:40). Mas lembrando que a titulação não se relacionada com a gravidade da doença, assim o exame não é utilizado para seguimento, apenas para diagnóstico.
Existem subgrupos de autoanticorpo antimitocôndria, mas essa divisão não tem muita importância na prática. Apenas cabe ressaltar que o subtipo M-2 é extremamente específico para a colangite primária.
Títulos menores (<1:40) podem estar presentes em outras condições como sífilis, hepatites, lúpus, colestase induzida por drogas, outras obstruções biliares etc.
Há interferentes no exame que podem confundir os resultados?
Como citamos, altos títulos são específicos para colangite biliar primária, enquanto títulos menores podem estar presentes em outras condições. No entanto, é importante ter em mente que uma possível contaminação bacteriana da amostra pode comprometer o resultado o exame.
Além disso, caso a amostra fique submetida ao calor, o resultado pode ficar comprometido.
Lembrando: como realizar o diagnóstico de colangite biliar primária?
Deve-se suspeitar dessa doença em todos os pacientes com aumento de fosfatase alcalina sérica, quando outras etiologias mais prevalentes para isso forem excluídas: álcool, medicamentos, obstrução de vias biliares etc.
A partir da suspeita diagnóstica, o médico irá solicitar um exame de sangue para detectar o autoanticorpo antimitocôndria. Na sequência, para “fechar” o diagnóstico, o critério de diagnóstico deve ser completado:
- Descartar obstrução biliar extrahepática e outras comorbidades que podem estar lesando o fígado.
- Além disso, ter dois ou mais dos seguintes critérios presentes:
- Fosfatase alcalina aumentada 1,5 vezes o limite da normalidade.
- Presença de anticorpo antimitocondrial na titulação 1:40 ou maior.
- Biópsia hepática evidenciando colangite destrutiva não supurativa e destruição de ductos biliares intralobulares.
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Referências:
Pagana, KD; Pagana TJ. Mosby’s Manual of Diagnostic and Laboratory Tests. 6 ed. – Elsiever – 2017
Caquet, René. 250 exames de laboratório: prescrição e interpretação / René Caquet; tradução de Laís mEDEIROS, Bruna Steffens e Janyne Martini – 12. Ed. – Rio de Janeiro – RJ: Thieme Publicações, 2017
Gonzalez RS, Washington K. Primary Biliary Cholangitis and Autoimmune Hepatitis. Surg Pathol Clin. 2018 Jun;11(2):329-349. doi: 10.1016/j.path.2018.02.010. PMID: 29751878.