Ansiedade persistente na infância, transtorno psicótico no jovem adulto.

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Sabemos das consequências da ansiedade na infância e adolescência?

Os transtornos de ansiedade são altamente prevalentes na população, seja adulta ou pediátrica. Cerca de 10% das crianças e adolescentes podem apresentar algum distúrbio ansioso, e mais da metade destas enfrentará algum episódio depressivo.

A ansiedade pode ter um papel claro no desenvolvimento da psicose quanto ao seu desenvolvimento psicopatológico. Hipervigilância, aumento da sensação de ameaça, delírios persecutórios ou interpretações equivocadas de experiências que podem levar a alucinações. Além disso, a ansiedade é um forte preditor de pensamento paranoico, e ter ataques de pânico precede sintomas psicóticos.

A infância e a adolescência são fases de risco central para o desenvolvimento de transtornos ansiosos, e sintomas durante esse período são conhecidamente um fator de risco para transtornos mentais gerais na vida adulta. Grande parte dos estudos acerca desse tema investigaram a ansiedade em um único ponto de tempo e na idade adulta, ao invés da sua influência contínua na infância e na adolescência.

Mas um novo estudo traz uma perspectiva diferente. Pesquisadores e especialistas da Universidade de Birmingham observaram uma relação entre sintomas ansiosos persistentes na infância / adolescência e experiências psicóticas ou transtorno psicótico quando jovem adulto.

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Ansiedade persistente pode resultar em psicose

Os dados foram obtidos do Avon Longitudinal Study of Parents and Children (ALSPAC), um estudo de coorte longitudinal de nascimentos no Reino Unido. Os pesquisadores analisaram os determinantes do desenvolvimento, saúde e doença de quase 4 mil crianças, dos 8 aos 24 anos de idade.

Foi realizada uma avaliação de desenvolvimento e bem-estar (DAWBA) – uma entrevista estruturada aos pais quanto aos sintomas em seus filhos, e os impactos resultantes no dia a dia das crianças. A ansiedade generalizada foi dimensionada em dois escores: cognitiva (quanto a criança se preocupa com desastres, saúde, questões diárias) e sintomatológica (quando a ansiedade leva à inquietação, problemas de concentração).

Para avaliação das experiências psicóticas, o grupo realizou uma entrevista identificando sintomas ocorridos nos últimos seis meses, como alucinações, delírios e interferência de pensamentos. Ainda, os pesquisadores avaliaram desfechos psicóticos aos 24 anos, não atribuíveis ao sono ou febre, muito angustiantes e com impacto negativo na vida social / ocupacional.

No estudo, foi possível identificar três grupos distintos: 70% da amostra era composta por crianças e adolescentes com baixos níveis persistentes de ansiedade. Níveis moderados e persistentes representaram cerca de 20% da amostra; e níveis elevados e persistente corresponderam a 5% da amostra.

O grupo de crianças e adolescentes que apresentam níveis elevados e persistentes de ansiedade têm maior probabilidade de desenvolver sintomas depressivos, psicóticos ou ansiosos de forma generalizada por volta dos 20 anos.

Ainda, a associação entre os altos níveis persistentes de ansiedade com psicose aos 24 anos pode ser específica para o transtorno psicótico, já que não foram encontradas associações com outros transtornos relevantes, como hipomania, fobias ou abuso de substâncias.

 

Transtorno psicótico e ansiedade: pode ser inflamatório?

Os pesquisadores sugerem que se a ansiedade persistente na infância e na adolescência faz parte do caminho para a psicose, isso pode estar relacionado a uma ativação crônica de proteínas de fase aguda e inflamação não resolvida.

De fato, alguns estudos já avaliaram sintomas ansiosos e níveis elevados de proteína C reativa (PCR).  A PCR pode aumentar as citocinas pró-inflamatórias, o que pode ter impacto direto na função microglial e astrocítica, ligada a alterações cerebrais. Ainda, a ansiedade crônica potencializa as vias de estresse, podendo ativar um estado inflamatório crônico de baixo grau.

Nesse trabalho, os pesquisadores avaliaram a PCR sanguínea de pacientes em dois momentos (9 e 15 anos), e compararam as médias normalizadas dos valores. Estatísticas a parte, eles encontraram a PCR como um mediador das associações entre ansiedade persistente entre 9 e 15 anos e a psicose.

 

É claro que o estudo precisa ser aprofundado, mas um mecanismo pró-inflamatório sem resolução poderia explicar parcialmente como a ansiedade persistente pode levar à psicose subsequente.

Compreender a natureza das associações entre a ansiedade na infância e adolescência com a psicose subsequente melhoraria o conhecimento dos potenciais mecanismos subjacentes da psicose. Quem sabe, o diagnóstico precoce e tratamento da ansiedade na infância possa ser um novo alvo de tratamento da psicose.

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Referências:

Fernando R. Asbahr. Transtornos ansiosos na infância e adolescência: aspectos clínicos e neurobiológicos. 2004.

Isabel Morales-Muñoz, Steven Marwaha, Edward R. Palmer, Pavan K. Mallikarjun, Rachel Upthegrove. Persistent childhood and adolescence anxiety and risk for psychosis: a longitudinal birth cohort study. Biological Psychiatry. 2021.

Anxiety in children and adolescents could lead to young adult psychosis. MedicalXpress. 2021.

 

 

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