

A Anemia Gestacional é um dos principais desafios à saúde materna global.
Altamente prevalente em países de baixa e média renda, a anemia afeta milhões de mulheres em idade reprodutiva, especialmente durante a gestação e o pós-parto, contribuindo significativamente para o risco de mortalidade materna. O enfrentamento dessa realidade exige estratégias eficazes de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado, reforçando o papel essencial dos profissionais de saúde na promoção de uma assistência obstétrica segura e equitativa.
28 de maio – Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna
Hoje, 28 de maio, celebramos o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna — datas que reforçam a urgência de ações coordenadas para melhorar o acesso à saúde e reduzir desigualdades que ainda impactam profundamente a vida das mulheres, especialmente durante a gestação, o parto e o puerpério.
A mortalidade materna permanece como um importante indicador da qualidade da atenção à saúde e das condições sociais de um país. Apesar dos avanços observados em algumas regiões, os índices continuam alarmantes em locais como a África Subsaariana e o Sul da Ásia, refletindo barreiras persistentes no acesso a cuidados obstétricos seguros e oportunos.
A Anemia Gestacional acomete cerca de 40% das gestantes
Entre os fatores que agravam esse cenário, a anemia destaca-se como um grave problema de saúde pública global, com alta prevalência entre crianças pequenas, gestantes, puérperas, adolescentes e mulheres em idade reprodutiva. Países de baixa e média renda são desproporcionalmente afetados, sobretudo em áreas rurais, em populações com menor escolaridade e em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
Dados globais estimam que a anemia atinge 40% das crianças entre 6 e 59 meses, 37% das gestantes e cerca de 30% das mulheres entre 15 e 49 anos. Em 2019, a condição foi responsável por mais de 50 milhões de anos de vida saudável perdidos, sendo suas principais causas a deficiência de ferro, hemoglobinopatias (como talassemia e traço falciforme) e malária.
Causas mais comuns de anemia na gravidez
As duas causas mais comuns de anemia na gravidez são o aumento fisiológico do volume plasmático (anemia dilucional) e a deficiência de ferro.
Anemia fisiológica é a causa mais frequente de anemia durante a gravidez
O volume plasmático da gestante aumenta cerca de 15% nas primeiras 12 semanas da gravidez e continua se expandindo até a 34ª semana, onde atinge um percentual até 50% maior do que em mulheres não gestantes. O aumento do volume das hemácias também ocorre durante a gestação.
Essas duas alterações normalmente causam anemia leve, com hemoglobina em torno de 10-11 g/dL.
A anemia dilucional (fisiológica) é um diagnóstico de exclusão, sendo assim, outras causas devem ser investigadas quando a anemia é diagnosticada durante a gravidez.
Anemia por deficiência de ferro
A deficiência de ferro é a segunda causa mais comum de anemia durante a gestação. Diversos fatores contribuem para esse quadro, como a ingestão inadequada de ferro na dieta, o curto intervalo entre gestações consecutivas e perdas sanguíneas menstruais anteriores.
Durante a gravidez, a demanda por ferro aumenta significativamente: estima-se que sejam necessários de 1 a 2 mg por dia no primeiro trimestre e cerca de 5 a 6 mg diários nos trimestres seguintes.
Esse aumento é impulsionado pela expansão do volume sanguíneo materno, pela produção de hemácias tanto maternas quanto fetais, além do crescimento e desenvolvimento do feto.
Outras causas de anemia na gravidez
Embora a anemia dilucional e a deficiência de ferro sejam as causas mais frequentes, outras condições também podem estar envolvidas na etiologia da anemia na gestação e não devem ser negligenciadas.
Entre elas, destacam-se: deficiência de folato, principal causa de anemia megaloblástica durante a gravidez; deficiência de vitamina B12, associada à anemia macrocítica; talassemias, esferocitose hereditária, anemia falciforme e outras hemoglobinopatias.
Além disso, hemólise autoimune, hipotireoidismo, doença renal crônica, infecções e outras deficiências nutricionais também podem contribuir para quadros anêmicos em gestantes, exigindo investigação diagnóstica adequada e abordagem individualizada.
Reconhecendo a Anemia na Gravidez
Clinicamente, uma paciente com anemia gestacional pode apresentar sinais e sintomas gerais de uma síndrome anêmica, como fraqueza, cansaço, indisposição, astenia, taquicardia, palpitações, tontura, cefaleia etc.
Além disso, na anemia ferropriva podem estar presentes os achados: queilite angular (“rachadura” no canto dos lábios), glossite (língua despapilada e com ardência), esplenomegalia (em até 15% dos casos), unhas quebradiças e finas, e pernas inquietas.
Não só isso, existem características próprias da Anemia Ferropriva que podem estar presentes, como perversão do apetite (desejo/compulsão em comer substâncias que não são alimentos como terra, papel, tijolo), coiloníquia (unha em forma de colher), síndrome de Plummer-Vinson e esclera azulada.
O rastreio da anemia gestacional deve ser realizado em todas as gestantes na primeira consulta pré-natal por meio da solicitação do hemograma completo. A triagem posterior é realizada na 24ª e na 28ª semana de gestação.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Anemia Gestacional é definida de acordo com os seguintes critérios:
- 1º trimestre: hemoglobina < 11 g/dL;
- 2º trimestre: hemoglobina < 10,5 g/dL;
- 3º trimestre: hemoglobina < 10,5 a 11 g/dL;
- Pós-parto: hemoglobina < 10 g/dL.
Orientações gerais de tratamento da anemia gestacional
A anemia diluicional não deve ser tratada, uma vez que é um achado fisiológico, e normalmente desaparece algumas semanas após o parto. O tratamento deve ser feito apenas nos casos de deficiência de ferro.
Pela depleção fisiológica de ferro durante a gravidez, para todas as grávidas (anêmica ou não), deve-se prescrever suplementação de sulfato ferroso (30-60 mg de ferro elementar/dia – o que equivale 150-300 mg de sulfato ferroso) a partir de 20 semanas gestacionais até o término da lactação ou 3 meses pós-parto para as não lactentes.
Após uma semana do início do tratamento deve se colher um exame para avaliar os reticulócitos (próximo de 5-10%). Se existe um pico de reticulocitose, o tratamento está adequado (uma vez que a medula começou a responder através da produção de mais hemácias “jovens”). Por outros lado, se não houve resposta, o tratamento deverá ser revisto.
A suplementação de ferro deve continuar por 6 a 8 semanas após o parto. A persistência da anemia após o parto, mesmo com suplementação de ferro, deverá ser reavaliada e triada para outras prováveis causas do quadro anêmico.
A internação deve ser realizada nos casos graves que necessitem de transfusão de hemácias, ou em que a doença subjacente indique a internação.
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Leia também um artigo publicado recentemente no nosso Portal >> Estudo global aponta principais causas de Morte Materna.
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Referências:
AUERBACH, Michael; LANDY, Helain J. Anemia in pregnancy. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.
Schrier, SL. – Causes and diagnosis of iron deficiency and iron deficiency anemia in adults. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.
Turner, J., Parsi, M., & Badireddy, M. (2023). Anemia. In StatPearls. StatPearls Publishing.
Wang, R., Xu, S., Hao, X., Jin, X., Pan, D., Xia, H., Liao, W., Yang, L., & Wang, S. (2025). Anemia during pregnancy and adverse pregnancy outcomes: a systematic review and meta-analysis of cohort studies. Frontiers in global women’s health, 6, 1502585. https://doi.org/10.3389/fgwh.2025.1502585