Desde o início da pandemia COVID-19 diversas pesquisas se iniciaram com a finalidade de melhor compreender a dinâmica do vírus e de possíveis tratamentos para a doença. Diferentes linhas de pesquisa seguem para que a sociedade obtenha soluções para os problemas trazidos pela COVID-19.
Dentre as pesquisas mais proeminentes estão as sobre os mecanismos de transmissão, infecção e letalidade do vírus, além das pesquisas acerca das variantes que o vírus possui e suas implicações. Ah e claro, das vacinas!
Você já leu o nosso post sobre a variante C.1.2?
Reposicionamento de fármacos para COVID-19
Em projetos de reposicionamento de fármacos, medicamentos já utilizados atualmente (para outros fins) são avaliados quanto ao seu potencial para o combate de uma nova doença – neste caso a COVID-19. Estes projetos são de suma importância, uma vez que são utilizados medicamentos que ora já foram aprovados para fins médicos, e não precisão passar por um longo processo burocrático, o qual todas as novas formulações passam para terem seu uso aprovado.
Entretanto, é preciso cautela! O não entendimento de como se dá o processo científico para a construção do conhecimento e condução de pesquisas acaba por gerar informações falsas. Diversos medicamentos foram citados no ano de 2020 ou 2021 como a possível profilaxia para a COVID-19. Porém, sabe-se que muitas informações estão equivocadas ou fazem parte de estudos muito preliminares que não poderiam ser extrapolados para a o uso clínico.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) possui um painel quanto a utilização de alguns medicamentos estudados e que ganharam certa proeminência e apelo popular.
Primeiramente o painel é dividido em 3 partes, de acordo com o grau de agravamento da doença, sendo eles:
- Não severo: para quadros sem sintomas aparentes de agravamento;
- Severo: saturação de O2 abaixo de 90%, sinais de pneumonia, sinais de dificuldade respiratória severa;
- Crítico: requer tratamento de sustentação a vida, síndrome de angústia respiratória aguda, sepse, choque séptico.
Tomando tais parâmetros, a utilização de alguns medicamentos é indicada ou contraindicada:
INDICAÇÃO
- Casirivimab e Indevimab: utilização em todos as três categorias. Na categoria mais branda apenas em caso de chance maior que 10% de internamento; nos dois casos mais graves, apenas para soronegativos.
- Bloqueador dos receptores de IL-6: forte recomendação para os dois quadros mais graves da doença, apresentando diferença substancial na mortalidade.
- Corticoides: utilização fortemente no caso dos dois quadros mais graves da doença. Há evidências de uma moderada queda de mortalidade. Entretanto, tal afirmativa não é completamente verdadeira para quadros leves, uma vez que os riscos são maiores se comparado aos benefícios.
CONTRAINDICAÇÃO
- Ivermectina: uso não recomendado a utilização, a exceção de estudos clínicos, uma vez que há alto grau de inconsistência nos resultados e diversos estudos, com uma alta imprevisibilidade de resultados, sendo inconclusivos.
- Hidroxicloroquina: uso não recomendado, uma vez que não há evidência de efeitos positivos em sua utilização; riscos adversos à sua utilização podem ocorrer.
- Lopinavir e Ritonavir: uso não recomendado; sua utilização não apresentou diferenças significativas no tratamento; apresenta diversos riscos, principalmente entre a interação com outros medicamentos.
- Remdesevir: uso não recomendado; poucas evidências de eficácia em sua utilização. Mesmo que exista uma possibilidade de benefício, é mínima.
Tal painel serve pode servir como guia para a comunidade médica. Entretanto é importante sempre estar vigiante quanto as novas publicações acerca do tema. Como é o caso do Molnupiravir.
MOLNUPIRAVIR – um novo direcionamento
Um estudo buscou avaliar a segurança, tolerabilidade e eficácia do tratamento com Molnupiravir na infecção por Sars-Cov-2. O medicamento é uma pró-droga, análogo de nucleosídeo, capaz de interferir na replicação viral. Sua utilização induz erros durante a replicação do RNA viral, resultando na inibição da propagação do vírus.
Após 3 dias de tratamento, os pesquisadores observaram uma redução da infecção pelo coronavírus, presente em 1,9% dos pacientes tratados com Molnupiravir e 16,7% tratados com placebo. Após 5 dias, nenhum dos pacientes que recebeu Molnupiravir nas doses de 400mg ou 800mg teve o vírus detectado (vs. 11% dos pacientes que receberam placebo).
Em relação ao desfecho da COVID-19, 14% dos pacientes recebendo placebo foram hospitalizados (incluindo 8 mortes), comparado à 7,3% dos pacientes em uso de Molnupiravir. Nenhum paciente veio a óbito no grupo tratado.
Atualmente os ensaios clínicos estão em fase II / III e ainda não foram finalizados. Mas os resultados são bem promissores!
Quer saber mais sobre a pandemia COVID-19? Fique atento no nosso Portal!
Referências:
Fischer W, et al Molnupiravir, an Oral Antiviral Treatment for COVID-19. medRxiv [Preprint]. 2021
Giulia Granchi. Molnupiravir: por que os resultados contra a covid-19 trazem esperança…