

A morte materna é um indicador essencial da saúde pública e, apesar dos avanços recentes, ainda apresenta índices preocupantes em regiões como a África Subsaariana e o Sul da Ásia.
Um estudo publicado na The Lancet Global Health atualizou as estimativas das causas dessas mortes maternas em nível global e regional. Segundo os autores, as causas diretas representam a grande maioria dos casos, com a hemorragia sendo responsável por mais de 25% dos óbitos.
Classificação da Morte Materna: do diagnóstico às implicações clínicas
A morte materna é definida como o óbito de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o término da gravidez, independentemente da duração ou local da gestação. Esta pode ser devido a causas relacionadas ou agravadas pela gravidez, ou pelo seu manejo, mas não por causas acidentais.
Existem algumas divisões dessas mortes maternas para fins didáticos e estatísticos:
As de causas diretas são aquelas resultantes de complicações obstétricas específicas da gravidez, parto ou puerpério, como a hipertensão gestacional (pré-eclâmpsia/eclâmpsia).
As de causas indiretas são decorrentes de doenças pré-existentes ou que surgem durante a gravidez, não diretamente ligadas ao processo obstétrico, mas que são agravadas pela gestação. Exemplos comuns são doenças infectocontagiosas na gestação.
Além dessa divisão por causa, a morte materna também é classificada quanto ao momento em que ocorre. A morte materna precoce acontece até 42 dias após o término da gestação – esse é o período mais crítico, onde a maioria das mortes ocorre.
A morte materna tardia ocorre após 42 dias e até um ano após o fim da gestação. Essas mortes geralmente estão ligadas a complicações de longo prazo de doenças agravadas pela gestação, como condições cardíacas.
A mortalidade materna é um importante indicador da saúde de um país
Embora tenha havido progressos na redução das mortes maternas, elas permanecem alarmantemente altas em várias regiões, especialmente na África Subsaariana e no Sul da Ásia.
O estudo “Global and regional causes of maternal deaths 2009–20: a WHO systematic analysis“, publicado na The Lancet Global Health em 2024 investigou e atualizou as estimativas das causas de morte materna.
No total, foram incluídos dados de 129 países, e 56 países não tinham dados disponíveis. O número total de mortes maternas no conjunto final de dados, entre 2009 e 2020, foi de 139.381, o que representa 3,7% das 3.813.266 mortes maternas estimadas pelo MMEIG (Grupo Interinstitucional para Estimativas de Mortalidade Materna, da OMS) globalmente nesse período.
Ou seja, a maioria das mortes maternas no mundo não é registrada de forma adequada ou sequer documentada oficialmente. O número de 139 mil mortes foi o que os pesquisadores conseguiram confirmar com dados reais e utilizáveis, mas o número real — estimado com base em modelagens — é muito maior.
Análise global – quais são as maiores causas de morte materna?
Entre 2009 e 2020, as causas diretas representaram 73% das mortes maternas, com a hemorragia sendo a principal causa, responsável por 27,1% dos óbitos.
Outras causas diretas significativas incluíram hipertensão (14,0%), infecção (10,7%) e aborto (7,9%). As causas indiretas representaram 27,5% das mortes, com destaque para doenças cardíacas, HIV/AIDS e malária.
Análise Regional
A África Subsaariana foi a região que apresentou a maior proporção de mortes maternas, com 29% do total global. A hemorragia foi a principal causa direta, enquanto doenças cardíacas e HIV/AIDS foram as principais causas indiretas.
O Sul da Ásia representou 28% das mortes maternas globais. Além da hemorragia, a hipertensão foi uma causa significativa de mortes diretas. As doenças cardíacas e a malária foram as principais causas indiretas.
Na América Latina e Caribe, a hipertensão foi a principal causa direta de morte materna, seguida pela hemorragia. As doenças cardíacas foram a principal causa indireta.
Na Ásia Oriental e Sudeste Asiático, a embolia foi uma causa significativa de morte materna direta, além da hemorragia. As doenças cardíacas foram a principal causa indireta.
Nos países desenvolvidos, embora as taxas de mortalidade materna sejam mais baixas, as doenças cardíacas representaram uma proporção significativa das causas indiretas de morte materna.
O controle da pressão arterial das gestantes é essencial
Após a análise desses dados, é notável a importância do controle da pressão arterial das gestantes. Algumas gestantes têm risco aumentado para desenvolver pré-eclâmpsia.
Após a estratificação de risco, duas importantes medicações surgem para o contexto de prevenção:
Carbonato de cálcio
Inicia-se a partir da 12ª semana de gestação até o parto e pode ser obtida por meio de dois comprimidos diários de carbonato de cálcio 1.250 mg.
Deve ser administrada separadamente da suplementação de ferro, com um intervalo de pelo menos duas horas. Além disso, é recomendado que o cálcio seja ingerido com alimentos ricos em vitamina D, para melhorar sua absorção.
AAS (Ácido Acetilsalicílico)
Recomenda-se baixas doses (75 a 150 mg/dia – no SUS, o AAS 100 mg acaba sendo o mais utilizado). O início da administração deve ocorrer antes da 16ª semana de gestação, mas, se porventura ocorra algum fator que o impeça, como pré-natal irregular, pode ser iniciado no máximo até a vigésima semana de gestação.
Confira os fatores de risco para o desenvolvimento da pré-eclâmpsia no material da FEBRASGO disponível nas referências. Até a próxima!
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Referências:
CHOI, Yoonjoung et al. Global and regional causes of maternal deaths 2009–20: a WHO systematic analysis. The Lancet Global Health, [S.l.], v. 12, e678–e689, abr. 2024. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/langlo/article/PIIS2214-109X(24)00560-6/fulltext
FEBRASGO – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Síndromes hipertensivas da gravidez. [S.l.]: FEBRASGO, 2023. Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/1886-sindromes-hipertensivas-da-gravidez.