Terapias complementares para a Síndrome dos Ovários Policísticos

A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é um distúrbio endócrino cada vez mais reconhecido, embora sua patogênese não seja completamente conhecida.

Considerando a gama de sintomas causados pela condição e o impacto que essa doença causa na vida das mulheres, novos tratamentos vêm sendo descobertos. O estilo de vida, especialmente a dieta, qualidade de sono e atividade física, merecem atenção especial devido a maior facilidade de modificação, e podem ser terapias complementares interessantes para pacientes com SOP.

Diversos tratamentos são propostos para pacientes com SOP

As diretrizes internacionais para SOP incluem recomendações para o tratamento de sintomas como ciclos menstruais irregulares, hirsutismo e falta de ovulação. A primeira linha de tratamento é a modificação do estilo de vida — dieta adequada, atividade física, melhora da qualidade do sono e redução do estresse para normalizar a hiperinsulinemia.

Diversos métodos de tratamento farmacológico foram propostos para a SOP. No entanto, eles apresentam certas desvantagens, como efeitos adversos, baixa eficácia, má adesão ao tratamento farmacológico a longo prazo e contraindicações em metade dos casos. Portanto, o tratamento complementar pode ser uma alternativa adequada.

sindrome dos ovarios policisticos

Microbiota Intestinal: o uso de probióticos pode ser promissor

A SOP é um distúrbio endócrino e metabólico complexo; portanto, considerando a participação da microbiota intestinal nas funções metabólicas, ela está intimamente relacionada à patogênese e aos sintomas clínicos da condição. Estudos mostraram que, em comparação com mulheres saudáveis, pacientes com SOP tinham menor diversidade de microbioma intestinal, e essa tendência estava associada ao aumento dos níveis de andrógenos.

Também já foi observado um desequilíbrio em espécies bacterianas específicas, como Bacteroidetes e Firmicutes, em mulheres com a síndrome. Essas alterações podem afetar a produção de ácidos graxos de cadeia curta, impactando o metabolismo, a integridade da barreira intestinal e a resposta imunológica. Bactérias benéficas, como Lactobacillus e Bifidobacterium, que apoiam a imunidade e a absorção de nutrientes, são frequentemente reduzidas na SOP.

Embora o mecanismo exato ainda permaneça desconhecido, a terapia com probióticos tem mostrado resultados promissores ao influenciar positivamente o perfil metabólico de mulheres com SOP. Por exemplo, a suplementação com L. acidophilus, L. casei e B. bifidum parece reduzir o IMC, glicemia, TG e VLDL.

probióticos tratamento da SOP

Acupuntura, fitoterapia e estimulação do nervo vago têm sido usadas no tratamento da SOP e na regulação dos níveis hormonais

A estimulação do nervo vago na acupuntura pode influenciar na transmissão de informações para o hipotálamo, sistema límbico e glândula pituitária, levando à ativação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), que resulta na liberação de cortisol pelo córtex adrenal, um componente essencial no tratamento da SOP.

Além disso, o uso da estimulação do nervo vago no tratamento da depressão resistente ao tratamento foi aprovado em 2005 – a depressão é um problema que afeta mulheres com SOP (3-8 vezes mais do que mulheres sem a síndrome). Essa aprovação seguiu vários estudos controlados e não controlados que observaram melhorias nas avaliações padronizadas de humor em pacientes com depressão resistente ao tratamento.

Ainda, estudos demonstraram que a canela, em todas as suas formas (extrato, pó e suplemento), afetou o status hormonal, o metabolismo dos carboidratos e os ciclos menstruais. Outros extratos de plantas também podem contribuir para a regulação dos ciclos menstruais e melhorar a fertilidade, como pó de linhaça, infusão de manjerona e Vitex agnus-castus (benefícios potencialmente semelhante aos anticoncepcionais orais na regulação dos ciclos menstruais, com significativamente menos efeitos colaterais).

Lembrando que a suplementação é indicada para melhorar a qualidade de funcionamento geral da paciente, mas doses inadequadas ou uso prolongado podem resultar em um efeito oposto ao terapêutico.

acupuntura no tratamento da sop

Revisando o tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos

A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é causada principalmente por um defeito nas células ovarianas, especialmente nas células da teca. Esse defeito leva à produção excessiva de andrógenos, resultando nos sintomas clínicos e bioquímicos associados à doença.

A incidência de hiperandrogenismo em pacientes com SOP pode ser de até 60–80%, sendo que níveis aumentados de andrógenos afetam a ovulação e a menstruação, além de resultarem em hirsutismo e acne. Além disso, os pacientes têm problemas com a tolerância adequada à glicose (resistência à insulina), diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e síndrome metabólica.

Fatores genéticos também foram identificados como contribuintes para o desenvolvimento da SOP. Ainda, mulheres com SOP geralmente têm mais folículos em crescimento em comparação com controles normais, mas esses folículos apresentam um crescimento interrompido prematuramente em um tamanho de 5 a 8 mm.

Atualmente, os contraceptivos orais são a opção mais escolhida no tratamento da SOP.

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As terapias hormonais são consideradas apenas quando as modificações do estilo de vida não atingem os efeitos desejados. Os contraceptivos orais combinados (COCs) têm se mostrado eficazes no tratamento de ciclos irregulares, hirsutismo e acne, em comparação com preparações contendo apenas progestágenos. A escolha do COC pode ser baseada nas preferências do paciente e na minimização dos efeitos colaterais, já que não há evidência de superioridade de uma combinação específica de estrogênio-progestógeno.

Para regular os ciclos menstruais em pacientes, são utilizados fármacos contendo preparações contraceptivas de estrogênio-progestina, que atuam no eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Alguns deles contêm substâncias que bloqueiam a ação dos andrógenos, inibindo os receptores dos órgãos-alvo, reduzindo assim sua fração livre.

 

Leia também: Nova diretriz para avaliação e manejo da Síndrome dos Ovários Policísticos

disruptores endocrinos

Diretrizes atualizadas sugerem uma abordagem inovadora, encorajando a combinação de metformina com COCs, especialmente em mulheres com sobrepeso ou obesidade coexistindo com SOP. Independentemente da idade, a combinação de metformina e terapia hormonal apresenta resultados satisfatórios.

É importante ressaltar que contraceptivos não são adequados para mulheres com síndrome metabólica ou resistência insulínica grave. Portanto, uma solução mais segura é o uso de antiandrógenos. São mais eficazes do que a metformina na redução dos sintomas da SOP e na proteção do endométrio, e sua combinação deles com metformina pode ser uma solução no tratamento da obesidade (reduzindo o IMC), além de melhorar a tolerância à glicose.

Dois tipos de antiandrógenos foram propostos para o tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP): antagonistas dos receptores de andrógenos, como espironolactona e flutamida, e inibidores da 5-alfa-redutase, como finasterida.

Além disso, quando há desejo da indução da ovulação, o citrato de clomifeno, um modulador seletivo dos receptores de estrogênio não esteroidal (SERM), e o letrozol, um inibidor da aromatase, são amplamente utilizados.

irregularidade menstrual endometriose

Veja outras opções terapêuticas promissoras que têm sido estudadas para pacientes com a síndrome dos ovários policísticos:

Semaglutida: reduz IMC, glicose em jejum, insulina e HOMA-IR. A perda de peso média após a terapia com semaglutida foi maior do que após metformina ou liraglutida, com efeitos colaterais mínimos.

Tirzepatida: recém-aprovado pela FDA, reduz o peso corporal e melhora a sensibilidade à insulina.

Dieta: uma recomendação importante para pacientes com SOP é seguir uma dieta de baixo índice glicêmico e controlar a ingestão de carboidratos. Além disso, alguns suplementos são indicados, como vitamina D, vitamina E, e Inositol.

O mio-inositol (MI) está presente em frutas, feijões, grãos e nozes, e inibe a absorção de glicose no duodeno, reduzindo seus níveis sanguíneos. Gera benefícios no desenvolvimento folicular, na regulação hormonal e na homeostase da glicose, o que indica seu potencial como terapia para pacientes com SOP.

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Referências

STANCZAK, N. A. et al. The latest reports and treatment methods on polycystic ovary syndrome. Annals of Medicine 2024, VOL. 56, NO. 1, 2357737. https://doi.org/10.1080/07853890.2024.2357737.

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