O Fator Antinuclear (FAN) é um conjunto de autoanticorpos direcionados contra fragmentos do núcleo celular (antígenos) das próprias células. Ou seja, é um conjunto de anticorpos antinucleares.
O teste FAN identifica a presença ou ausência desses autoanticorpos antinucleares na corrente sanguínea do paciente, que são relacionados a doenças autoimunes – com importante destaque ao Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES).
Veja mais sobre este exame, os valores de referência e os possíveis padrões identificados.
Entendendo o que é o Fator Antinuclear
Fator Antinuclear (FAN) diz respeito aos autoanticorpos que têm como alvo fragmentos do núcleo celular da própria célula, que são reconhecidos assim como antígenos. A ligação do autoanticorpo com esses fragmentos do núcleo (reconhecida como um antígeno) formam estruturas antígeno-anticorpos – chamadas de “Imunocomplexos”.
Esses imunocomplexos caem na circulação sanguínea, depositando-se em vários tecidos como vasos, rins, peles, articulações, coração. Os complexos depositados levam a uma reação inflamatória local – iniciando uma cascata inflamatória utilizando várias enzimas (C1, C2, C3) do sistema complemento. Em última análise, essa cascata inflamatória vai levar à destruição de células e, por consequente, tecidos saudáveis. Esse tipo de reação autoimune envolvendo “Imunocomplexos” se chama “Hipersensibilidade do tipo 3“.
Importantíssimo ressaltar que o teste não é específico para a detecção de diversos autoanticorpos direcionados contra os antígenos dos núcleos celulares. Caso necessário, esses autoanticorpos antinucleares específicos podem ser evidenciados como: Anti-DNA nativo, anti-histona, anti-sm, anti-Ro, anti-La etc. Nesse caso, detecta-se um determinado autoanticorpo específico de determinado fragmento (antígeno) do núcleo celular. Assim, diz-se que esses autoanticorpos específicos são um tipo de FAN.
Quando solicitar?
O teste identifica os anticorpos antinucleares (ANA), que é um grupo de anticorpos presente em pacientes com doenças autoimunes como lúpus eritematoso sistêmico (LES), hepatite autoimune, artrite reumatoide etc.
Dessa forma, o exame é solicitado no diagnóstico de lúpus, esclerodermia, hepatite autoimune e doença mista do tecido conjuntivo. A positividade em títulos ≥ 1:80 é um critério obrigatório para o diagnóstico de LES. No entanto, deve-se deixar claro que o FAN pode ser positivo em outras condições autoimunes.
O FAN também pode ser solicitado para auxiliar no diagnóstico de Síndrome de Sjögren e polimiosite / dermatomiosite, bem como ser utilizado para monitorização e definição de prognóstico em artrite idiopática juvenil e Fenômeno de Raynaud.
Dessa forma, o exame pode ser positivo em diversas doenças, sendo:
- 95-100% dos casos de LES
- 60-80% dos casos de esclerodermia
- Cerca de 100% dos casos de hepatite autoimune
- Cerca de 100% dos casos de doença mista do tecido conjuntivo
- 40-70% dos casos de Síndrome de Sjögren
- Cerca de 30-80% dos casos de polimiosite / dermatomiosite
- 20-50% dos casos de artrite idiopática juvenil
- 20-60% dos casos de Fenômeno de Raynaud
E lembrando: cerca de 10% – 15% da população saudável pode apresentar FAN positivo – geralmente em baixas titulações.
Quais os valores de referência?
É realizado com a mistura do sangue do paciente a uma cultura de células humanas (Hep2). Valores normais são reagentes em titulação até 1:40-1:80. Para positivo, é necessário reagente em titulação ≥ 1:80 (isso é: 1:80, 1:160, 1:320, 1:640…).
Diferentes tipos de FAN
É possível identificar diferentes padrões (tipos específicos) de FAN, e isso pode auxiliar na investigação diagnóstica.
A positividade se dá por imunofluorescência. Nesse sentido, padrões de imunofluorescência podem nos dar pistas de quais autoanticorpos específicos estejam envolvidos, para direcionar a investigação. Os principais padrões de maior relevância clínica são:
- Nuclear pontilhado centromérico: anticentrômero.
- Nuclear homogêneo: anti-DNA nativo, anti-histona.
- Nuclear pontilhado grosso: anti-SM, anti-RNP.
- Nuclear pontilhado fino: anti-Ro, anti-LA, anti-Mi2.
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Leia também: Lúpus: como utilizar os critérios diagnósticos da EULAR/ACR.
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Referências:
Pagana, KD; Pagana TJ. Mosby’s Manual of Diagnostic and Laboratory Tests. 6 ed. – Elsiever – 2017
Caquet, René. 250 exames de laboratório: prescrição e interpretação / René Caquet; tradução de Laís mEDEIROS, Bruna Steffens e Janyne Martini – 12. Ed. – Rio de Janeiro – RJ: Thieme Publicações, 2017.