Avaliação de febre em pacientes em UTI: diretrizes de 2023

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Em outubro, a Sociedade de Medicina Intensiva e a Sociedade de Doenças Infecciosas da América publicaram uma atualização das diretrizes para a avaliação da febre em pacientes adultos nas unidades de terapia intensiva.

Foram determinadas 12 recomendações e 9 sugestões de melhores práticas, destinadas à equipe de cuidados para pacientes gravemente doentes em UTI. Veja mais.

Atualização das diretrizes de 2008

A febre é uma ocorrência comum em pacientes hospitalizados, sendo frequentemente um indicador de infecção. A identificação do agente infeccioso de forma precoce é fundamental, mas sabemos que causas não infecciosas devem ser avaliadas de forma igualmente importante – a fim de evitar terapias excessivas e desnecessárias, como a prescrição inadequada de antibióticos.

A diretriz atual proposta em conjunto por avaliadores da SCCM (Society of Critical Care Medicine) e da IDSA (Infectious Diseases Society of America) é uma atualização das diretrizes de 2008, que avalia febre recente em pacientes adultos em unidade de terapia intensiva (UTI), sem deficiência imunológica grave.

O comitê de avaliação deste ano incluiu 12 especialistas em diversas áreas: cuidados intensivos, doenças infecciosas, microbiologia clínica, transplante de órgãos, saúde pública, pesquisa clínica e política e administração de saúde.

febre

Definição de febre

A temperatura corporal pode variar a depender de diversos fatores – idade, sexo, variação durante o dia. Além disso, segundo os autores que elaboraram as diretrizes atuais, parece que a temperatura normal corporal tem diminuído ao longo dos últimos anos em cerca de 0,03°C. Então, vamos relembrar o que é definido como febre:

  • Para grande parte dos pacientes, a febre ocorre quando a temperatura corporal está acima de 38°C.
  • Em pacientes com > 65 anos que residem em instituições de cuidado de longo prazo, a febre pode ser: (1) uma temperatura oral única superior a 37,8°C, (2) diversas medições de temperatura oral superiores a 37,2°C, (3) diversas medições de temperatura retal > 37,5°C ou (4) aumento de 1,1°C em relação ao basal.
  • Em pacientes em quimioterapia com neutropenia, considera-se medicação única ≥ 38,3°C ou ≥ 38°C mantida por 1 hora.
  • Em pacientes em UTI, define-se com única medida ≥ 38,3°C.

diretrizes 2023 febre

Recomendações para pacientes em UTI

 

Recomendação para avaliação de temperatura

  1. Preferir medição de temperatura em dispositivos instalados para monitoramento da temperatura central – termistores. Sugere-se o uso destes dispositivos também quando houver necessidade de medição precisa para o diagnóstico. Na ausência de tais dispositivos, sugere-se avaliação de temperatura oral ou retal em vez de outros métodos menos confiáveis.

 

Recomendações para uso de antipiréticos

  1. Em pacientes críticos, evitar o uso rotineiro de antitérmicos com objetivo específico de reduzir a temperatura.
  2. Para pacientes gravemente doentes, nos quais o conforto pode ser adquirido por redução de temperatura, utilizar farmacoterapia antipirética, ao invés de métodos não farmacológicos.

 

Recomendações para exames de imagem

  1. Em pacientes graves com febre e na ausência de identificação da etiologia, realizar PET/TC.
  2. Não há evidências fortes o suficiente que suportem a avaliação de leucócitos, na ausência de etiologia determinada.
  3. Em pacientes críticos e radiografia de tórax alterada, realizar ultrassonografia torácica. Sugere-se experiência suficiente para identificação com segurança de derrame pleural e patologia pulmonar.
  4. Em pacientes graves e sem alterações na radiografia de tórax, não há evidências fortes o suficiente que suportem o uso de ultrassom como investigação inicial.

remédio para febre

Recomendações para exames laboratoriais

  1. Em pacientes graves com febre de origem incerta, utilizar métodos moleculares apenas se também for realizada hemocultura.
  2. Em pacientes com febre recente e suspeita de pneumonia ou novos sintomas de infecção do trato respiratório superior, realizar teste para patógenos virais com painéis.
  3. Na ausência de sintomas adicionais e em pacientes imunocompetentes, não há evidências suficientes que suportem exames de rotina para vírus.
  4. Se houver baixa / intermediária probabilidade de infecção bacteriana, e sem foco claro de infecção, sugere-se medir procalcitonina e/ou proteína C reativa + avaliação clínica.
  5. Se houver alta probabilidade de infecção bacteriana, mas sem foco claro de infecção, não utilizar procalcitonina nem proteína C reativa para tomada de decisão.

 

Leia também: Importância da Procalcitonina (PCT) na avaliação infecciosa.

febre

Boas práticas

  1. Sugere-se que para pacientes com febre em UTI seja realizada radiografia de tórax.
  2. Em pacientes com cirurgia torácica, abdominal ou pélvica recente, e na ausência de etiologia prontamente identificada, realizar tomografia computadorizada.
  3. Pacientes com febre sem origem óbvia e com catéter venoso central, realizar hemoculturas.
  4. Em pacientes graves e sem cirurgias prévias ou sem sinais abdominais ou hepáticos, não se recomenda o uso rotineiro de ultrassom como investigação inicial.
  5. Em pacientes graves e cirurgia abdominal recente ou sintomas abdominais suspeitos, realizar ultrassonografia diagnóstica.
  6. Na realização de hemocultura, coletar sequencialmente pelo menos dois conjuntos (~60 mL de sangue) de dois locais anatômicos diferentes, sem intervalo entre as coletas.
  7. Na realização da hemocultura em pacientes com cateter, coletar pelo menos em dois lúmens.
  8. Na presença de piuria e suspeita de ITU, substituir o cateter urinário e realizar urocultura do cateter recém-coletado.
  9. Em pacientes graves com febre recente, realizar teste para SARS-CoV-2 por PCR.

o que é febre

Referências:

O’Grady, et al. Society of Critical Care Medicine and the Infectious Diseases Society of America Guidelines for Evaluating New Fever in Adult Patients in the ICU. Critical Care Medicine 51(11):p 1570-1586, November 2023. | DOI: 10.1097/CCM.0000000000006022

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