A Proteína C Reativa (PCR) é um dos exames mais comuns solicitados na prática clínica. A questão a se perguntar é se realmente sabemos o que esse exame significa e como interpretar de forma correta.
Aqui iremos revisar os principais pontos desse exame de forma rápida e didática.
O que é a Proteína C Reativa?
A Proteína C Reativa (PCR) é uma proteína produzida no fígado em resposta a processos inflamatórios agudos, como no caso de infecção bacteriana e doenças reumatológicas.
Sua função fisiológica é se ligar à uma molécula chamada “fosfocolina” expressa na superfície de células mortas ou lesionadas (e alguns tipos de bactérias) – para iniciar a sua eliminação – ao ativar o sistema complemento e células que fazem fagocitose.
Como interpretar o exame de Proteína C Reativa?
Diante de um processo inflamatório agudo, o fígado produz algumas proteínas, dentre elas a PCR (Proteína C reativa), cujo objetivo é buscar controlar o processo inflamatório ativo.
Pontualmente, a concentração do PCR acaba se elevando principalmente diante de infecções bacterianas, fúngicas, traumas, neoplasias e reumatopatias como artrite reumatoide e febre reumática. Nesses casos, apenas 2 horas após o início do quadro a PCR já começa se elevar. Deve-se ressaltar que os níveis de PCR não aumentam consistentemente com infecções virais.
- Ao contrário das doenças infecciosas (principalmente bacterianas) em que os valores de PCR costumam se elevar 20-30 vezes, nas doenças reumáticas esses valores costumam estar somente um pouco elevados. Nesse sentido, o PCR acaba servindo como um parâmetro de atividade da doença, sendo que valores consistentes elevados refletem piores achados a médio/longo prazo como p.ex mais lesões ósseas, deformidades etc. No Lúpus, no entanto, o PCR não costuma ter relação com a atividade da doença.
- Nas neoplasias o PCR pode ser útil em avaliar possíveis recidivas (diante de uma elevação inexplicada) ou avaliação prognóstica (p.ex no mieloma múltiplo e linfomas, valores elevados podem sugerir um pior prognóstico). No entanto, deve-se deixar claro que em hipótese alguma o PCR deve ser usado para rastreio ou diagnóstico de qualquer neoplasia.
Perceba então que a proteína C reativa é um exame inespecífico, dizendo apenas que há uma inflamação em curso (de qualquer origem), mas não auxilia para dizer o que está causando isso. Daí a necessidade de demais exames complementares para investigação, a depender das principais hipóteses diagnósticas.
Dessa maneira, na prática, o principal papel da Proteína C reativa é auxiliar no diagnóstico inicial de doenças inflamatórias/infecciosas e principalmente para acompanhar a eficácia do tratamento – uma vez que se houver redução na concentração do PCR ao longo do tratamento, quer dizer que o tratamento está efetivo; por outro lado, caso haja aumento ou mesmo não redução, quer dizer que o processo subjacente está ainda ativo.
Qual é o Valor de Referência?
O Valor de Referência d pode variar de acordo com o laboratório em que o exame é realizado. Normalmente o habitual é < 0,3 mg/dL (3 mg/L)
E o que é a PCR Ultrassensível?
Os exames normais que medem a concentração de PCR apresentam um limite inferior próximo de 0,3 mg/dL (3 mg/dL). Assim, caso o paciente tenha um valor abaixo de 0,3 mg/dL (3 mg/dL) no exame estará apenas como “PCR < 0,3 mg/dL (3 mg/L).
No entanto, novas técnicas permitem uma detecção de PCR mais detalhada, permitindo detectar valores baixíssimos (até < 0,03 mg/dL (0,3 mg/L). Essas novas técnicas são conhecidas como “proteína C reativa altamente sensível (PCR-as)” ou “proteína C reativa ultrassensível (PCR-us)”
Mas qual o sentido de querer detectar valores mais baixos? 🤔
Diversos estudos e evidências refletem um importante papel da inflamação na origem de processos ateroscleróticos. Sendo assim, processos inflamatórios silenciosos (que não são detectados no PCR tradicional) acabam se relacionando com maior risco no desenvolvimento de doenças cardiovasculares
Quais são os valores de risco? 🤔
Inúmeros estudos realizados nos últimos 20 anos evidenciam que valores persistentes de PCR acima de 0,1 mg/dL (1 mg/L) reflem um estado crônico inflamatório – aumentando, a longo prazo, o risco de doenças cardiovasculares. Pontualmente (necessário duas medições):
- PCR persistentemente abaixo de 0,1 mg/dL (1 mg/L): baixo risco no desenvolvimento de doenças cardiovasculares
- PCR persistentemente entre 0,1 mg/dL (1 mg/L) e 0,3 mg/dL (3 mg/L): risco moderado no desenvolvimento de doenças cardiovasculares
- PCR persistentemente acima de 0,3 mg/dL (3 mg/L): alto risco no desenvolvimento de doenças cardiovasculares
E se tiver uma infecção subjacente, o PCR estará elevado, assim o paciente terá alto risco cardiovascular 🤔
Não. Quando se visa uma avaliação cardiovascular, o paciente deverá estar assintomático, ou seja, não deve estar passando por um quadro infeccioso/inflamatório de outra origem.
Mas posso usar o PCR ultrassensível para avaliar processos inflamatórios mais graves e agudos, como no caso de infecções bacterianas? 🤔
Claro que sim. O que muda, conforme dito, é apenas a sensibilidade no limiar inferior
Observações
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Referências Bibliográficas
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