Um grupo de pesquisadores brasileiros avaliou o uso de fingolimode no tratamento da COVID-19, através de uma técnica de nanotecnologia, e observou uma inibição da infecção viral – sugerindo uma opção promissora na luta contra a doença.
Na luta contra a COVID-19 a pesquisa brasileira é destaque!
A COVID-19 já resultou em mais de 490 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo. Embora o desenvolvimento de opções de vacinas seguras seja um passo importante para reduzir a transmissão viral e a progressão da doença, os casos de COVID-19 continuará a ocorrer e, para esses casos, um tratamento eficiente ainda precisa ser desenvolvido.
É importante destacar a relevância e o avanço da pesquisa brasileira nesse cenário. Já falamos em alguns posts aqui no nosso Portal sobre trabalhos brasileiros que avaliam eficácia e segurança de novas opções terapêuticas na COVID-19.
Inclusive, o Azvudine, recentemente aprovado na China para o tratamento de pacientes com infecção por coronavírus, tem estudos em desenvolvimento no Brasil.
Um novo estudo publicado na revista ACS Applied Bio Materials propôs uma estratégia de reaproveitamento de medicamentos usando nanotecnologia. O trabalho foi realizo por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto de Ciências Biomédicas em parceria com o Instituto de Física de São Carlos.
Nanotecnologia e encapsulamento de drogas
O redirecionamento de fármacos é uma abordagem valiosa, econômica, rápida e eficiente para as terapias medicamentosas. Em projetos de reposicionamento, medicamentos já utilizados atualmente (para outros fins) são avaliados quanto ao seu potencial para o combate de uma nova doença.
A nanotecnologia e a nanomedicina desempenham tarefas importantes nesse sentido, oferecendo não apenas o desenho de novas estratégias, mas também importantes melhorias nos tratamentos em andamento.
E como funciona?
O uso de nanopartículas permite um encapsulamento das drogas, resultando em alta retenção do seu princípio ativo – cerca de 90% – e de forma pH dependente, é possível controlar a liberação do medicamento.
Já é bem estabelecido que a administração de drogas nanoencapsuladas facilita a entrega eficaz e a reduz sua toxicidade inerente.
Fingolimode para tratar COVID-19?
O Fingolimode (no estudo chamado de FTY720) é um análogo da esfingosina 1 fosfato (S1P) que reduz a resposta imune exacerbada ao diminuir a população de células T do sangue periférico.
Ainda, já foi observado que os esfingolipídios bioativos desempenharam um papel crucial na regulação de infecções virais e respostas pró-inflamatórias envolvidas na gravidade da COVID-19. Portanto, o FTY720 foi recentemente introduzido em ensaios clínicos para determinar seu papel na patologia e potencial imunomodulador.
Com isso em mente, o grupo de pesquisadores da USP propôs o uso de Fingolimode, um medicamento já aprovado para tratar Esclerose Múltipla (EM), no tratamento da COVID-19.
O estudo foi realizado com células humanas e de macacos, derivadas de hepatócitos, adenocarcinoma alveolar, e de epitélio renal. Comparado ao fármaco livre, o uso de Fingolimode encapsulado foi menos citotóxico para todas as linhagens celulares, o que destaca o potencial da nanoencapsulação para melhoria da biossegurança.
Ainda, o medicamento não apenas exibiu atividade anti-SARS-CoV-2 em concentrações não citotóxicas, mas seu potencial biológico para inibição de infecção viral foi quase 70 vezes maior do que o potencial do fármaco livre.
Os autores também comentam que, particularmente no caso do Fingolimode, a nanoencapsulação pode fornecer concentrações do agente ativo no sangue e nos tecidos dos pacientes por tempo prolongado, evitando a necessidade de administrações repetidas e melhorando sua estabilidade em fluidos biológicos.
Dessa forma, a nanotecnologia aliada ao conceito de reaproveitamento de medicamentos indica uma combinação inovadora e valiosa, e pode representar futuramente uma estratégia antiviral para o tratamento da COVID-19.
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Referências:
Miranda RR, Ferreira NN, Souza EE, Lins PMP, Ferreira LMB, Krüger A, Cardoso VMO, Durigon EL, Wrenger C, Zucolotto V. Modulating Fingolimod (FTY720) Anti-SARS-CoV-2 Activity Using a PLGA-Based Drug Delivery System. ACS Appl Bio Mater. 2022 Jul 18;5(7):3371-3383. doi: 10.1021/acsabm.2c00349. Epub 2022 Jun 22. PMID: 35732506; PMCID: PMC9236206. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35732506/
Testes preliminares sugerem potencial de medicamento para esclerose contra vírus da covid. 29/07/2022. Júlio Bernardes. Jornal da USP. https://jornal.usp.br/ciencias/nanomedicina-em-testes-preliminares-medicamento-para-esclerose-mostra-potencial-contra-coronavirus/