INTRODUÇÃO
Anquiloglossia é uma palavra formada por outras duas palavras de origem grega, “agkilos” e “glossa”, que significa língua curvada. No Brasil, conhecemos popularmente essa condição com língua presa. A anquiloglossia caracteriza uma má formação no frênulo lingual, que se apresenta curto e com inserção muito próxima à ponta da língua.
Por conta da anormalidade, a língua sofre uma grande limitação na sua movimentação e não consegue ser projetada para frente dos dentes incisivos inferiores. Com isso, essa anomalia congênita prejudica a sucção necessária para a amamentação no período neonatal, a deglutição e a articulação de palavras necessária para o correto desenvolvimento da fala.
A condição afeta mais homens na proporção de 2,5/1 em relação ao sexo feminino. Essa anormalidade é de certa forma comum, variando na sua prevalência entre 1-10,7%, dependendo da população estudada.
A anquiloglossia pode, em muitos casos, ser acompanhada por outras má formações congênitas como fendas palatinas ou labiais. O caso que aqui será relatado é de um paciente de sexo masculino de 12 anos que apresentava concomitantemente fenda labial e anquiloglossia.
O PACIENTE
O paciente do caso é um menino de origem indiana de 12 anos que apresentava como queixa principal a incapacidade de movimentar a língua da mesma forma que conseguiam seus colegas de escola.
Ao exame físico o paciente apresentava o frênulo lingual inferior inserido a 3 mm da ponta de sua língua. O menino não conseguia realizar a protusão da língua, movimentação lateral e também não era capaz de tocar a ponta da língua no palato. Além disso, quando tentava realizar a protusão da língua a mesma apresentava um formato bífido em sua ponta (semelhante a forma de um coração).
Foi realizada sua avaliação por meio da classificação de Kotlow, uma classificação utilizada para determinar a gravidade da anquiloglossia, e o paciente foi alocado na Classe III que indica anquiloglossia severa (inserção do frênulo lingual entre 3-7 mm. Além disso, por meio da avaliação de Hazelbaker, que avalia a funcionalidade e aparência da língua, foi constatada a necessidade de realização da frenectomia lingual (remoção cirúrgica do frênulo lingual).
O PROCEDIMENTO CIRÚRGICO
Para realização da intervenção cirúrgica foram solicitados previamente hemograma, coagulograma e glicemia. Todos os exames apresentaram resultados dentro da faixa de normalidade e assim a cirurgia pode ser marcada e planejada.
A anestesia do procedimento foi local utilizando 2 ml de cloridrato de lidocaína 0,2% em adrenalina 1: 200.000 em infiltração ao redor do frênulo. O fênulo foi pinçado e removido por meio da utilização do laser de diodo (que possui um feixe de luz que possui um comprimento de onda de 810 nm) sem que nenhum sangramento fosse observado.
No final do procedimento, a sutura foi realizada com um fio de seda 3-0 e o paciente recebeu antibioticoterapia com amoxicilina. As orientações pós-operatórias foram dadas com instrução para retorno em 1 semana para remoção dos pontos e reavaliação.
Na reavaliação, o paciente apresentou boa pontuação quanto a funcionalidade e aparência da língua na escala de Hazelbaker e os pais do paciente foram orientados a levá-lo no fonoaudiólogo para treinamento da articulação das palavras. Após um mês o paciente foi novamente avaliado apresentando resultados satisfatórios.
DISCUSSÃO SOBRE OS TRATAMENTOS
O tratamento para a anquiloglossia varia de acordo com a classificação de Kotlow. Pacientes que apresentam anquiloglossia leve (Classe I de Kotlow) não necessitam da remoção completa do frênulo e normalmente são submetidos a frenuloplastia (alteração e acomodação cirurgica do frênulo). A frenectomia é reservada para as classes II, III e IV (moderada, severa e completa, respectivamente).
O procedimento pode ser realizada com laser ou bisturis convencionais. As vantagens da utilização do laser são a redução do sangramento durante o procedimento, rápida hemostasia e redução do tempo de recuperação.
CONCLUSÃO
A anquiloglossia é uma condição que além de causar distúrbios locais (prejudica a sucção, a deglutição e a articulação de palavras) também causa constrangimento social. Os tratamento cirúrgicos e as técnicas até hoje desenvolvidas apresentam excelentes resultados, principalmente quando associado com acompanhamento com a fonoaudiologia.
Agora, depois de conhecer mais sobre a anquiloglossia, aproveite e leia também o relato de caso de uma paciente que apresentou urina de coloração verde – RELATO DE CASO: EXISTE URINA VERDE?
REFERÊNCIAS
