No fim do ano passado, a Associação Psiquiátrica Americana (APA) publicou uma diretriz atualizada para o Tratamento de Pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline.
A diretriz fornece recomendações sobre avaliação baseada em evidências, planejamento de tratamento, intervenções psicossociais e tratamentos farmacoterapêuticos.
Transtorno de personalidade borderline acomete cerca de 2% da população
Transtornos de personalidade são distúrbios psiquiátricos nos quais emoções e comportamentos se demonstram desviantes do esperado (presente na maioria das pessoas). Dado esse fato, as relações interpessoais começam a se tornar comprometidas.
O transtorno de personalidade borderline faz parte do grupo de “transtornos dramáticos”, no qual há baixo limiar à frustação, intolerância à solidão, tênue limite entre amor e ódio, limite entre neurose e psicose e pensamentos autodestrutivos.
Os indivíduos com transtorno de personalidade borderline frequentemente apresentam mudanças súbitas na identidade, relacionamentos interpessoais e afetos, além de comportamentos impulsivos, raiva intensa periódica, sentimentos de vazio, comportamentos suicidas, automutilação, ideação paranoide transitória relacionada ao estresse e sintomas dissociativos severos.
A prevalência do transtorno borderline na população geral varia de 0,7% a 2,7%, sendo significativamente mais alta em ambientes psiquiátricos. A condição está frequentemente associada a outros transtornos mentais, como transtornos do humor (depressão maior ou transtorno bipolar), transtornos de ansiedade e transtornos por uso de substâncias.
Nova diretriz da APA pode melhorar a qualidade do cuidado com os pacientes
Não há evidências consistentes de que medicamentos psicoativos melhorem os sintomas principais do transtorno de personalidade borderline. No entanto, a farmacoterapia pode ser útil para tratar condições associadas, como ansiedade ou depressão.
Com a nova diretriz da Associação Psiquiátrica Americana (APA), espera-se uma melhora na qualidade do cuidado para pessoas com transtorno de personalidade borderline, fornecendo aos profissionais conhecimento e entendimento sobre avaliação e tratamento baseados em evidências.
Segundo o documento, são 8 recomendações ou sugestões clínicas para pacientes com transtorno de personalidade borderline, divididas em 3 grandes grupos: avaliação e determinação do plano de tratamento, intervenções psicossociais e farmacoterapia.
Recomendações são indicadas pelo número 1, e são aquelas nas quais os benefícios da intervenção claramente superam os danos. Sugestões, indicadas pelo número 2, apontam maior incerteza e, embora os benefícios sejam considerados superiores aos danos, o equilíbrio é mais difícil de avaliar.
Avaliação e determinação do plano de tratamento
Recomendação: A avaliação inicial de um paciente com possível transtorno de personalidade borderline deve incluir:
- O motivo da apresentação do paciente para avaliação.
- Os objetivos e as preferências do paciente para o tratamento.
- Uma revisão completa dos sintomas psiquiátricos.
- Um histórico completo dos tratamentos psiquiátricos.
- Uma avaliação de saúde física.
- Uma avaliação dos fatores psicossociais e culturais.
- Um exame de estado mental.
- Uma avaliação do risco de suicídio, automutilação e comportamentos agressivos.
Sugestão: A avaliação deve incluir uma medida quantitativa da gravidade dos sintomas e prejuízos funcionais que possam ser o foco do tratamento.
Recomendação: O plano de tratamento deve ser documentado, abrangente e centrado no paciente.
Recomendação: O paciente deve colaborar com as discussões sobre seu diagnóstico e tratamento, incluindo psicoeducação relacionada ao transtorno.
Intervenções psicossociais
Recomendação: Segundo a nova diretriz, um paciente com transtorno de personalidade borderline deve ser tratado com uma abordagem estruturada de psicoterapia que tenha suporte na literatura e que aborde as características centrais do transtorno.
Farmacoterapia
Recomendação: Revisar os transtornos associados e todas as terapias já realizadas – farmacológicas, não farmacológicas, que não funcionaram e em uso atual – antes de iniciar qualquer novo medicamento.
Sugestão: Qualquer tratamento farmacológico deve ser por tempo limitado, visando tratar um sintoma-alvo específico e mensurável, sendo um complemento à psicoterapia.
Recomendação: Revisar e readaptar o tratamento pelo menos a cada 6 meses.
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Referências:
Leichsenring F, Fonagy P, Heim N, et al. Borderline Personality Disorder: A Comprehensive Review of Diagnosis and Clinical Presentation, Etiology, Treatment, and Current controversies. World Psychiatry: Official Journal of the World Psychiatric Association (WPA). 2024;23(1):4-25. doi:10.1002/wps.21156.
APA Updates Guidance on Borderline Personality Disorder – Medscape – December 09, 2024.
American Psychiatric Association Publishes Updated Practice Guideline on the Treatment of Borderline Personality Disorder. Dec 10, 2024. https://www.psychiatry.org/news-room/news-releases/updated-borderline-personality-disorder-guideline