Para crianças com alergia ao amendoim, a recomendação padrão é evitar seu consumo na dieta. Porém, um estudo recente buscou avaliar se a imunoterapia oral com amendoim pode induzir a dessensibilização, e até mesmo a remissão após a retirada da imunoterapia.
O estudo foi publicado na revista The Lancet em janeiro desse ano, e os resultados são animadores para essas crianças.
Alergia ao amendoim – uma das intolerâncias alimentares mais comuns
A alergia ao amendoim é uma das causas mais comuns de ataques graves de alergia, sendo a segunda alergia alimentar mais comum em adultos. Os sintomas podem ocorrer minutos após a exposição, e para algumas pessoas, mesmo pequenas quantidades podem causar reações: urticárias, vermelhidão, edema, formigamento, problemas digestivos, falta de ar e, em casos mais graves, anafilaxia – podendo ser fatal.
Em geral, essa a alergia alimentar dura por toda a vida, mas é mais comum em criança. Quando há a exposição, as proteínas do amendoim se ligam a anticorpos IgE específicos. Logo, a exposição subsequente à proteína (geralmente por ingestão oral), desencadeia uma resposta imunológica. À medida que envelhecemos, o sistema digestivo amadurece, sendo capaz de tolerar mais os alimentos. Porém, sabe-se que apenas 20% dos adultos deixam de ser intolerantes com o tempo.
A alergia ao amendoim é a única alergia alimentar para a qual um tratamento foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) – A Palforzia. Existem outros protocolos de tratamento atualmente sendo usados para melhorar a tolerância de um indivíduo, como a imunoterapia oral com amendoim.
Nesse sentido, um estudo recente avaliou a ingestão de proteína de amendoim em crianças por 134 semanas, seguida de 26 semanas de “descanso”, buscando reduzir a sensibilidade e remissão dos sintomas alérgicos.
Dessensibilização e remissão
O estudo foi do tipo multicêntrico, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo – aquele de maior evidência. Os participantes elegíveis eram crianças reativas a 500mg ou menos de proteína de amendoim. Tais participantes foram randomizados para receber imunoterapia oral com amendoim (96 crianças, 2g/dia) ou placebo (50 crianças) por 134 semanas, seguido de 26 semanas de prevenção.
O desfecho primário foi dessensibilização no final do tratamento (semana 134) e remissão após evitar seu consumo (semana 160). Como desfecho secundário, foi avaliado a capacidade de tolerar até 5g da proteína.
No grupo tratado, 71% dos pacientes atingiram o desfecho primário, enquanto apenas 2% do grupo placebo teve esse resultado. Após evitar o consumo por 26 semanas, 20 dos 96 participantes tratados atenderam aos critérios de remissão, comparado a apenas um no grupo placebo. A dose cumulativa tolerada mediana durante a semana 134 foi de 5005 mg para imunoterapia oral vs 5 mg para o grupo placebo.
Indo um pouco mais além, em comparação com placebo, a imunoterapia diminuiu IgE específica e Ara h2, marcadores específicos de alergia ao amendoim. Pacientes mais novos com IgE específica para amendoim mais baixa foram marcadores preditivos de remissão – o início do tratamento antes dos 4 anos de idade foi associado a um aumento tanto na dessensibilização quanto na remissão.
Quanto aos efeitos adversos, a maioria dos participantes teve pelo menos uma reação de dosagem, predominantemente leve a moderada, e ocorrendo com mais frequência em participantes que receberam imunoterapia oral com amendoim (98% vs 80% com placebo).
O tratamento com desestabilizadores baseado em imunoterapia oral com amendoim ainda não é aprovada pela FDA. Porém, os resultados desse estudo (e de outros da área) sugerem uma oportunidade para intervenção em uma idade jovem, a fim de induzir a remissão da alergia ao amendoim.
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Referências:
ClinicalTrials.gov Identifier: NCT03345160. Peanut Oral Immunotherapy in Children: IMPACT Follow Up Study.
Prof Stacie M Jones et al. Efficacy and safety of oral immunotherapy in children aged 1–3 years with peanut allergy (the Immune Tolerance Network IMPACT trial): a randomised placebo-controlled study. The Lancet. Jan 2022. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)02390-4
Esther Landhuis. Imunoterapia oral para amendoim foi segura e eficaz em crianças pequenas, mostrou grande ensaio controlado com placebo. Medscape Notícias Médicas. Fev 2022.