A Parada Cardiorrespiratória (PCR) é a cessação súbita e inesperada da circulação devido a incapacidade do coração em bombear o sangue. Como consequência, órgãos nobres como o encéfalo e o miocárdio não são irrigados, sendo comprometidos em diversos graus. A condição evolui para óbito a partir do momento em que há perda irreversível das funções encefálicas (cérebro + tronco cerebral).
Para a padronização do atendimento em adultos e redução da morbimortalidade, a Sociedade Americana de Cardiologia postula as diretrizes BLS® (Suporte básico de vida) e ACLS® (Suporte Avançado de Vida).
Enquanto BLS® pode ser definido como uma estratégia pré-hospitalar realizada por qualquer indivíduo treinado, o ACLS® é uma estratégia intra-hospitalar, realizada apenas por profissionais de saúde adequadamente treinados.
Nesse artigo, vamos explorar um pouco sobre o suporte básico de vida (BLS®), uma medida que pode salvar vidas caso o paciente não esteja em ambiente hospitalar.
A cada minuto que passa, a chance de reversão de uma parada cardiorrespiratória cai 10%
O objetivo primordial no atendimento da parada cardiorrespiratória é preservar a irrigação corpórea. Isso se através de manobras que visam substituir as funções cardiocirculatórias na tentativa de evitar sequelas devido a isquemia e hipóxia aos órgãos.
A cada minuto que se passa, a viabilidade de órgãos (destaque para encéfalo e coração) permanece cada vez mais comprometida, podendo levar a lesões irreversíveis. Daí a importância na rapidez ao atendimento.
Manobras de ressuscitação precoces e bem-feitas, associada a desfibrilação refletem sucesso entre 40 e 70% dos casos.
Suporte Básico de Vida – BLS®
O atendimento pré-hospitalar é aquele que é feito por qualquer indivíduo com o mínimo de treinamento necessário. É uma medida salvadora de vida e realizada no local do incidente. Diante de um paciente como para cardíaca nessa situação, como proceder?
Postula-se o BLS® – Suporte Básico de Vida (do inglês, basic life support).
1º Passo: Reconhecer a Parada Cardiorrespiratória
Diante de um indivíduo inconsciente, deve-se avaliar a responsividade. Na ausência dessa, assume-se que a função do sistema nervoso central está prejudicada por hipoxia ou baixo fluxo sanguíneo.
Para isso, chama-se o paciente em voz alta, batendo nos ombros de forma vigorosa. Na ausência de resposta, deve-se avaliar rapidamente se o indivíduo está respirando. Na ausência de respiração ou seu comprometimento, para fins práticos, estamos diante de uma parada cardiorrespiratória.
2º Passo: Chamar ajuda!
De fundamental importância chamar ajuda, pedindo o desfibrilador automático externo (DEA). Se estiver sozinho, a própria pessoa deverá pedir ajuda, se existir outras pessoas ao redor – deve-se orientar essas a pedirem (SAMU 192).
Exceção à regra ocorre se o paciente está parada há muito tempo, se o mecanismo é hipoxia ou se é criança. Nesses casos, deve-se antes realizar às manobras de ressuscitação por ao menos 1 ciclo.
3º Passo: Se for profissional de saúde – checar o pulso
Se o indivíduo que estiver fazendo o atendimento for profissional da saúde, deve checar a presença de pulso (carotídeo ou femoral) por até 10 segundos (não mais do que isso), para então iniciar as manobras do 4º passo.
4º Passo: Iniciar a Reanimação cardiopulmonar (na ordem C-A-B)
“C” – Circulação: constitui em compressões torácicas. Posiciona-se a mão dominante sobre a mão não dominante de forma espalmada na linha intermamilar do paciente – mantendo sempre o cotovelos estendidos formando um ângulo de 90º com o plano horizontal. Uma massagem efetiva deverá:
– Deprimir o tórax em 5 – 6 cm.
– Retorno completo do tórax entre as compressões.
– Frequência de 100 – 120 vezes/min.
– Compressões rápidas, fortes e rítmicas.
– “No hands off” – não tirar as mãos do paciente por nada, salvo necessidade como na aplicação de choque.
“A” – via Aérea: deve-se manter as vias aéreas abertas, sendo duas as técnicas possíveis:
– “Head Tilt/Chin Lift”: deve-se fletir a cabeça do paciente para trás e levantar o queixo.
– “Jaw Thrust”: realizar na suspeita da fratura cervical – tracionar a mandíbula para frente.
Nesse momento, deve-se olhar a orofaringe do paciente para ver a presença de corpos estranhos que deverão ser retirados (como prótese dentária). Se houver a suspeição que um corpo estranho está obstruindo a via aérea (hipofaringe), autoriza-se a “Manobra de Heimlich” – súbita compressão da região epigástrica estando o paciente deitado.
“B” – Breath: ventilar o paciente. Deve-se realizar a ventilação na proporção 30:2, isso é a cada 30 compressões torácicas, realiza-se duas ventilações no paciente.
Essa ventilação pode ser feita por boca-a-boca, boca-nariz ou boca-traqueostomia. Essa ventilação idealmente deverá ser feita com anteparos físicos, e, apesar de existir baixo risco de transmissão infectocontagiosa, o indivíduo que está socorrendo não é obrigado a fazer a ventilação. O mais importante na reanimação são as massagens torácicas.
O tempo de inspiratório é de 1 segundo – com volume suficiente para que exista uma discreta elevação da caixa torácica bilateralmente do paciente.
Quando existe mais de uma pessoa socorrendo o paciente, idealmente quem está fazendo a massagem é diferente daquele que está fazendo a ventilação. Na presença de mais de uma pessoa capacitada, o ideal é que a cada ciclo mude-se quem está massageando – uma vez que acaba cansando.
Define-se como um ciclo de reanimação cerca de 5 ciclos de massagens e ventilação – o que dá cerca de 2 minutos.
5º Passo – A chegada do desfibrilador
O grande objetivo das condutas acima descritas é manter o paciente vivo, e com o sistema nervoso central mais intacto possível, até que se chegue o desfibrilador. Chegando o DEA, esse deverá ser colado no tórax conforme instruções presentes no próprio aparelho. Ao ligá-lo, o aparelho avalia automaticamente a necessidade ou não de um choque – realizando assim conforme necessário.
Caso o desfibrilador seja manual e o socorrista seja qualificado, o choque é feito apenas nos ritmos de Fibrilação Ventricular ou Taquicardia Ventricular sem pulso, de forma dessincronizada – com energia de 200 J se bifásico ou 360 J se monofásico.
Importante ressaltar que após a conduta acima – com realização do choque ou não – a reanimação C-A-B deverá ser reiniciada com mais um ciclo de reanimação (2 minutos), para somente a partir de então podermos checar o ritmo e pulso do paciente. Isso porque, mesmo que o paciente tenha saído da parada cardíaca, o coração ainda não contrai de forma totalmente eficaz – necessitando assim de uma última ajuda.
6º Passo – Equipe de Saúde
Os passos acima descritos – com o procedimento de reanimação – devem ser repetidos até que retorne o pulso do paciente ou até a chegada da equipe de saúde treinada que então procederá ao ACLS® – Suporte Avançado de Vida.
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