INTRODUÇÃO
Em 1999, Felix Ehrig e seus colegas, publicaram um artigo sobre um paciente que apresentava uma rara manifestação clínica, a urina verde. Em condições fisiológicas normais, a urina apresenta um tom claro, podendo ser levemente amarelado pela presença do pigmento amorfo urocromo. Algumas condições, como a alteração do pH urinário, medicamentos, alterações na concentração urinária e distúrbios metabólicos também podem gerar a alteração da coloração da urina.
O PACIENTE
O paciente nesse caso apresentado era uma mulher de 56 anos de idade que foi internada no hospital após um quadro agudo de exacerbação de uma colite ulcerativa. A mulher apresentava sinais e sintomas como náuseas, vômitos e diarreia sanguinolenta. Associado a esse quadro estavam outras patologias como pancreatite, pericardite, pleurite, pneumonia aspirativa e má nutrição.
MANEJO CLÍNICO
Com a evolução do seu quadro clínico, a paciente foi intubada e colocada em ventilação mecânica devido ao desenvolvimento de falência respiratória. Vários procedimentos radiológicos com finalidade diagnósticas foram realizados na mulher por conta da severidade de seu estado.
Pelo uso de contrastes para os exames de imagem, sua função renal foi temporariamente prejudicada ocorrendo diminuição da produção urinária, aumento da cretinina e ureia séricas. Após alguns dias, no entanto, sua função renal retornou ao normal.
A equipe hospitalar tratou então suas manifestações gastrointestinais de maneira sintomática associada com antibióticos e corticoides. A alimentação era um preocupação, visto que a albumina sérica da mulher estava muito baixa, e estava sendo realizada por meio de sonda enquanto a paciente ainda estava em ventilação mecânica.
Durante o tratamento, a paciente estava em uso das seguintes medicações: metilprednisolona, piperaciclina, trobamicina, omeprazol, dopamina, dobutamina, morfina e lorazepam.
URINA VERDE?
Depois de 3 dias recebendo alimentação por meio de sonda, a paciente começou a apresentar urina verde. Devido a isso, uma análise urinária foi solicitada, mostrando um pH urinário de 5,0 com traços de proteína e sangue na urina. Além disso, a urinocultura solicitada veio com resultado negativo.
Outro fato interessante é que a paciente também apresentava fezes esverdeadas, o que fez com que a equipe levantasse a hipótese de que a causa dessas alterações de coloração estavam relacionadas ao corante azul utilizado na alimentação via sonda da paciente.
INVESTIGAÇÃO
Após coletarem novas amostras de urina e fezes, a equipe também enviou para a análise laboratorial amostras da alimentação que estava sendo oferecida pela sonda. A análise de todas as amostras mostraram que h
avia sim a presença do corante alimentar, tanto na urina quanto nas fezes e a coloração de ambas voltaram ao normal algumas horas após a substituição da alimentação que estava sendo oferecida.
CONCLUSÃO
Casos de pacientes que apresentam urina com coloração verde são extremamente raros. Entre as causa mais comuns dessa mudança de coloração estão alguns medicamentos (como o propofol), corantes e quadros infecciosos. Nesse caso, a análise do corante utilizado na dieta da paciente indicou que o mesmo foi absorvido pelo trato gastrointestinal da mulher e excretado na urina e nas fezes.
O motivo da adição de corantes no líquido alimentar oferecido por meio de sondas é facilitar o diagnóstico de uma possível aspiração do conteúdo. Apesar de ser azul, o corante em questão se misturou com os pigmentos presentes na urina e nas fezes, tornando estas esverdeadas.
O corante em questão continha: sal dissódico de etil, propilenoglicol, propilparabeno e sulfitos como conservantes.
Normalmente, esse corante não é absorvido pela mucosa gastrointestinal, sendo totalmente eliminado pelas fezes. Contudo, devido ao grave quadro de colite ulcerativa da paciente o corante foi desta vez absorvido devido a maior permeabilidade da mucosa e foi excretado pela urina.
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REFERÊNCIAS
- EHRIG, Felix et al. A case of’green urine’. Nephrology, Dialysis, Transplantation: Official Publication of the European Dialysis and Transplant Association-European Renal Association, v. 14, n. 1, p. 190-192, 1999.
- Boshkovska Spaseski M, Spaseski D. Green Urine. N Engl J Med. 2020 Dec 3;383(23):e128. doi: 10.1056/NEJMicm2017137. PMID: 33264548.