Primeiro Transplante de Tornozelo no Brasil: Um Novo Horizonte para a Medicina Ortopédica

Primeiro Transplante de Tornozelo no Brasil

Em um marco histórico para a medicina brasileira, o Hospital Mater Dei Contorno, em Belo Horizonte, realizou o primeiro transplante de tornozelo do país. Este procedimento pioneiro representa um avanço significativo na ortopedia, ampliando as possibilidades de tratamento para pacientes com lesões complexas e incapacitantes no tornozelo.

Transplante de Tornozelo: Detalhes do Caso Clínico

O paciente Vitor Miguel Pereira Valentim, de 17 anos, apresentou necrose avascular do tálus devido ao uso prolongado de corticosteroides durante o tratamento para leucemia. O uso desses medicamentos, embora essencial para controlar doenças autoimunes e certas neoplasias, pode provocar a interrupção do suprimento sanguíneo ao osso, resultando em morte celular (necrose). Essa condição leva a um colapso articular, manifestando-se através de dor intensa e perda funcional significativa do tornozelo.

Frente à falência das terapias conservadoras e das intervenções cirúrgicas convencionais, o transplante de tornozelo foi indicado como a única alternativa viável para restaurar sua mobilidade e qualidade de vida.

A cirurgia foi realizada pelo Dr. Rodrigo Simões, especialista em cirurgia do pé e tornozelo, em colaboração com uma equipe multidisciplinar de ortopedistas, anestesiologistas, radiologistas e fisioterapeutas. Essa abordagem integrada foi fundamental para o sucesso do procedimento e a recuperação do paciente.

Transplante de Tornozelo

Aspectos Inovadores e Tecnológicos do Transplante de Tornozelo

Um dos diferenciais deste transplante de tornozelo foi a utilização de guias de corte personalizadas, fabricadas através de impressão 3D. Esse recurso assegurou cortes ósseos com precisão milimétrica, garantindo o alinhamento biomecânico correto e o encaixe perfeito do enxerto osteocondral.

O planejamento cirúrgico foi apoiado por modelos anatômicos específicos do paciente, reduzindo o tempo operacional e os riscos associados, além de proporcionar maior precisão na aderência articular e necessidade mínima de ajustes intraoperatórios.

O transplante osteocondral representa uma alternativa biológica que preserva a funcionalidade articular, contrastando com técnicas tradicionais como a artrodese — que elimina o movimento articular — e a artroplastia — que depende de implantes sintéticos.

Adicionalmente, o uso de enxertos osteocondrais alogênicos provenientes de bancos de tecidos evidencia a crescente capacidade tecnológica e logística para a realização de transplantes complexos no Brasil.

Primeiro Transplante de Tornozelo no Brasil: Um Novo Horizonte para a Medicina Ortopédica

Detalhamento do Procedimento Cirúrgico de Transplante de Tornozelo realizado no Brasil

A avaliação pré-operatória de Vitor consistiu em exames detalhados de tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM), essenciais para um planejamento estratégico e a personalização das guias impressas em 3D. O mapeamento tridimensional foi crucial para identificar a extensão do dano osteocondral e possibilitar um procedimento cirúrgico preciso.

Técnica Cirúrgica:

  1. Exposição Articular: Realizou-se uma abordagem aberta pela via anterior do tornozelo, que envolveu a incisão da pele e dissecção cuidadosa dos tecidos subjacentes até a articulação tibiotalar, permitindo uma visualização abrangente da estrutura articular.
  2. Remoção do Tálus Necrosado: Com a utilização das guias de corte impressas em 3D, o tecido osteocondral comprometido foi cuidadosamente ressecado. Esta etapa é crucial para a remoção dos fragmentos ósseos afetados, empregando instrumentos específicos, como serras oscilatórias e curetas, para garantir a preservação do osso saudável circundante.
  3. Implante do Enxerto: O enxerto osteocondral alogênico foi posicionado em conformidade com as guias de corte, assegurando que a congruência articular e o alinhamento biomecânico fossem respeitados. O enxerto foi fixado por meio de síntese interna, utilizando parafusos ou dispositivos adequados que garantem a estabilidade imediata do enxerto enquanto a osteointegração ocorre.
  4. Verificação Final: Uma avaliação intraoperatória da amplitude de movimento e estabilidade articular foi conduzida, utilizando testes de estresse e manobras específicas para garantir que a articulação funcionasse conforme esperado.

Primeiro Transplante de Tornozelo no Brasil

Reabilitação e Cuidados Pós-Operatórios

O programa de reabilitação foi estruturado para promover a integração do enxerto e a recuperação funcional do tornozelo, incluindo:

  • Imobilização inicial para permitir a osteointegração.
  • Carga progressiva sob supervisão fisioterapêutica.
  • Terapias voltadas para fortalecimento muscular e propriocepção, visando a recuperação da estabilidade articular.

O acompanhamento radiológico periódico e as avaliações clínicas regulares foram fundamentais para monitorar a incorporação do enxerto, detectar possíveis complicações (como necrose ou exclusão) e ajustar o plano terapêutico.

Primeiro Transplante de Tornozelo

Considerações Finais

O primeiro transplante de tornozelo no Brasil marca um divisor de águas na ortopedia nacional. Este avanço combina inovação tecnológica, excelência médica e colaboração interdisciplinar, abrindo novas perspectivas de tratamento para pacientes com lesões articulares complexas.

O transplante de tornozelo restaurou a mobilidade do paciente, permitindo que ele retomasse atividades cotidianas e voltasse a sonhar com o esporte. Este caso destaca não apenas o impacto direto na vida do paciente, mas também o potencial de replicação do procedimento para outros casos complexos de artropatias do tornozelo.

Este marco não apenas transforma a vida de pacientes como Vitor, mas também consolida o Brasil como um polo emergente em medicina regenerativa e procedimentos de alta complexidade.

Referências:

CNN Brasil. Primeiro transplante de tornozelo é realizado no Brasil. 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/primeiro-transplante-de-tornozelo-e-realizado-no-brasil/. Acesso em: 20 dez. 2024.

Petrilli, A. S. et al. Necrose avascular do tálus: aspectos clínicos e terapêuticos. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 40, n. 5, p. 320-325, 2005. DOI: 10.1016/j.rbo.2005.08.001.

Fulton, D. et al. Corticosteroid-induced osteonecrosis: pathophysiology and treatment options. The Journal of Bone and Joint Surgery. American Volume, v. 85-A, n. 3, p. 551-561, 2003. DOI: 10.2106/00004623-200303000-00015.

Harris, P. A. et al. Use of 3D printing in orthopedic surgery: revolutionizing the future. Orthopedic Clinics of North America, v. 51, n. 4, p. 577-585, 2020. DOI: 10.1016/j.ocl.2020.06.004.

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Estudante de Medicina na Universidade de Rio Verde Campus Aparecida de Goiânia desde 2020/2. Diretora do Centro Acadêmico (2021-22). Fundadora da Liga Acadêmica de Cirurgia Plástica (2021-22), Liga Acadêmica de Otorrinolaringologia (2022-23), Liga Acadêmica de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (2023-24) e da Liga Acadêmica de Nefrologia (2023-24). Diretora na Federação Internacional dos Estudantes de Medicina do Brasil (2022-24). Participante do Programa de Extensão Educacional em Saúde Integral da Criança e do Adolescente (2023-24). Participante do Programa Institucional Voluntário de Iniciação Científica (2023-24). Diretora do Programa de Extensão Educacional em Saúde Integral da Criança e do Adolescente (2024-25).

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