Menopausa tardia e o aumento do risco de câncer de pulmão

Menopausa tardia e seus riscos associados

Diversos traços associados ao envelhecimento têm sido relacionados à idade de início da menopausa. Consistentemente, a menopausa tardia tem sido associada a um risco aumentado de câncer de mama e de endométrio, mas um risco diminuído de doença cardíaca coronária, acidente vascular cerebral isquêmico e osteoporose.

Entretanto, um grupo de pesquisadores da Stanford University School of Medicine argumenta que parte destas associações pode não ser tão verdadeira assim devido a falhas de amostragem.

Para avaliar corretamente a associação da menopausa tardia e outros fatores, o grupo aplicou uma análise estatística específica, que protege contra estas falhas na amostra. E isso parece ter virado alguns resultados de cabeça para baixo.

Achados observacionais versus análises específicas

O trabalho da equipe de pesquisadores envolveu mais de 200.000 mulheres na pós-menopausa, e a média de idade do evento foi entre 49-50 anos. Foram consideradas informações de menopausa natural e autorrelatada.

A análise observacional dos dados seguiu o padrão das pesquisas passadas. A idade avançada na menopausa (5 anos acima da média) se mostrou associada a um risco maior de câncer de mama, endométrio e ovário. De forma inversa, essa análise indicou que menopausa tardia reduziu o risco de doença coronariana, acidente vascular cerebral isquêmico e osteoporose. E a literatura atual suporta esses achados.

De forma complementar, foi realizada uma forma diferente de análise, chamada randomização mendeliana (RM), e alguns dos resultados foram confirmados. No entanto, para câncer de pulmão o padrão observado foi intrigante.

A menopausa tardia foi associada a um risco aumentado de câncer de pulmão nas análises RM, em contraste com um efeito protetor na análise observacional e no que já é reportado na literatura.

Mas espera aí, qual análise é a certa?

Para entender, vamos precisar falar um pouco sobre estatística. Seremos breves e diretos.

Os estudos observacionais são aqueles que utilizamos ferramentas de investigação epidemiológica. Os dados são coletados, analisados e interpretados.

A randomização mendeliana (RM) representa uma abordagem bem estabelecida para se proteger contra variantes de confusão em um estudo. Nesse caso, a análise genética é incluída e ajuda a realizar inferências mais robustas sobre efeitos causais, quando temos um fator de risco modificável.

No caso desse estudo em específico, os autores avaliaram variantes genéticas e fatores de risco modificáveis durante a vida em relação a menopausa tardia. Temos então dois pontos para análise RM.

Além disso, em geral as análises de RM são utilizadas para confirmar (ou não) os estudos observacionais.

Agora, podemos voltar aos dados do estudo.

Quanto aos achados para fratura e osteoporose, os resultados das análises (RM/observacional) mostraram um efeito protetor, o que já era esperado. A menopausa é acompanhada por uma taxa acelerada de perda óssea bem documentada, decorrente dos efeitos adversos da deficiência de estrogênio nas unidades multicelulares básicas responsáveis pela remodelação óssea.

menopausa

Para doença coronariana, acidente vascular cerebral isquêmico ou doença de Alzheimer, foi observada uma forte tendência associativa entre as doenças e a idade avançada da menopausa, mas não completamente significativa.

O que mais chama atenção na pesquisa é a associação positiva entre menopausa tardia e risco de câncer de pulmão, pois este foi o primeiro grupo a relatar essa associação.

Afinal, o que os dados de câncer de pulmão significam?

Os estudos observacionais mostram uma associação de proteção entre o câncer de pulmão e a menopausa tardia. Mas nenhum estudo tinha avaliado os fatores de confusão, como tabagismo, dieta, exercício e alterações genéticas.

E vamos pensar, encontrar uma associação de risco entre o câncer de pulmão e o aumento da janela hormonal faz mais sentido, certo?

Semelhante a outros cânceres, como câncer de mama e endometrial, o estudo sugere que um maior tempo de exposição ao estrogênio com o aparecimento posterior da menopausa pode promover a transformação das células pulmonares ou o crescimento e disseminação de tumores pulmonares primários subclínicos existentes.

Dando força à esta hipótese, estudos moleculares prévios de câncer de pulmão mostraram que os receptores de estrogênio (ER) estão presentes em tumores pulmonares e a expressão de ER-alfa e ER-beta no citoplasma estão associadas a um prognóstico ruim de câncer de pulmão. Além disso, outros estudos mostraram que a supressão desses receptores reduz a proliferação do câncer de pulmão in vitro.

menopausa

O que levar desse estudo?

Este estudo foi o primeiro a estudar a relação causal entre menopausa tardia e seus desfechos adversos usando uma análise estritamente específica, direcionada a mulheres na pós-menopausa. O estudo também relatou pela primeira vez que a menopausa tardia pode aumentar causalmente o risco de câncer de pulmão.

Por trás de todos os detalhes estatísticos, o trabalho abre novos caminhos para a pesquisa oncológica. Se amplamente replicados, os achados sugerem que as terapias antiestrogênicas podem ser reaproveitadas para a prevenção ou tratamento de câncer de pulmão entre mulheres na pós-menopausa.

Referências:

Genetic evidence for causal relationships between age at natural menopause and the risk of aging-associated adverse health outcomes. Joanna Lankester et. al. (2022).

Older Age for Menopause Raises Risk for Lung Cancer. Medscape (2022).

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