ISRS em transtornos depressivos: PCR baixa pode predizer melhores desfechos

Arcanobacterium haemolyticum

A primeira linha de tratamento para a maioria dos pacientes com depressão é o uso de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS). Porém, cerca de 30% dos pacientes não respondem de forma adequada ao tratamento.

Um grupo de pesquisadores sugere um novo biomarcador preditivo de resposta ao tratamento: a proteína C reativa.

Transtorno depressivo maior – a busca por melhores tratamentos é constante

O transtorno depressivo maior (TDM) é um transtorno de humor no qual o paciente apresenta episódios recorrentes de tristeza, lentificação de pensamento. Em casos graves, o paciente apresenta alterações físicas e pensamentos suicidas.

Para pacientes com esta condição, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) são as opções farmacológicas de tratamento antidepressivo de primeira linha na maioria dos casos. No entanto, os resultados do tratamento com antidepressivos variam consideravelmente em pacientes com o mesmo diagnóstico.

Aproximadamente um terço dos pacientes depressivos que recebem dosagem e duração adequadas para o tratamento antidepressivo não apresentam remissão da doença. Além disso, alguns pacientes apresentam altas taxas de recaída e resistência ao tratamento, resultando em alto risco de suicídio.

Diante deste cenário, a identificação e implementação clínica de biomarcadores que possam indicar a probabilidade de resposta ao tratamento são necessários para melhorar a terapia.

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Perfil inflamatório em doenças psiquiátricas – busca de biomarcadores

O sistema imunológico, especificamente a resposta inflamatória, tem grande impacto na depressão e seu tratamento farmacológico. Evidências revelaram que os marcadores de inflamação são regulados positivamente nos tecidos periféricos e do sistema nervoso central (SNC) de indivíduos com depressão em comparação com controles saudáveis, incluindo concentrações aumentadas de citocinas pró-inflamatórias e mediadores imunológicos no líquido cefalorraquidiano.

Os mecanismos pelos quais a inflamação está ligada à depressão incluem os efeitos da inflamação no cérebro, como alterações no metabolismo de neurotransmissores e interrupções na plasticidade sináptica.

A identificação de associações mais específicas entre marcadores inflamatórios únicos e gravidade da depressão, incluindo sintomas depressivos específicos, poderia apoiar a integração mais viável desse vínculo bem estabelecido na prática clínica diária, com biomarcadores baratos potencialmente capazes de prever melhor opções de tratamento mais personalizadas.

Falamos recentemente de um trabalho que investigou o papel da inflamação e o risco aumentado de suicídio. Se você ainda não conferiu, vale a pena a leitura (aqui)!

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Sabemos que diversas proteínas no sangue periférico podem ser usadas como marcadores de inflamação sistêmica.

A Proteína C reativa (PCR) é uma proteína inespecífica de fase aguda cujos níveis aumentam em resposta à inflamação sistêmica. Nessa linha, evidências sugerem que a PCR é um bom indicador de inflamação que ocorre no SNC, pois os níveis plasmáticos e no líquido cefalorraquidiano são altamente correlacionados.

Níveis elevados de PCR têm sido associados repetidamente ao desenvolvimento de depressão. Um aumento dos níveis plasmáticos de PCR já foi associado ao aumento do metabolismo do glutamato destes pacientes.

Essas observações sugerem que a depressão poderia ser dividida em vários subtipos, com um destes intimamente relacionado à resposta inflamatória, e poderia explicar uma baixa taxa de remissão do tratamento antidepressivo.

 

PCR como biomarcador em transtornos depressivos

Outras evidências já haviam demonstrado que a PCR prediz os resultados do tratamento antidepressivo, porém a restrição amostral sempre foi uma limitação. Agora, um novo estudo buscou verificar se a PCR pode prever a eficácia antidepressiva em um grande número amostral.

Foram incluídos 918 pacientes com depressão que foram acompanhados por meio de consultas para obter informações sobre sua terapia medicamentosa. A eficácia do tratamento foi avaliada pela escala Clinical Global Impressions–Improvement (CGIsingle bondI). Nesse sentido, a terapêutica foi classificada em eficaz vs. ineficaz.

A PCR sérica foi avaliada e os grupos foram divididos em PCR baixa (PCR <1 mg/L, n = 709) e PCR alta (PCR ≥1 mg/L, n = 209).

E o que foi observado?

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Pacientes com PCR alta respondiam levemente melhor ao tratamento com ISRSN (inibidor da recaptação de serotonina-noradrenalina), em comparação aos pacientes com valores reduzidos de PCR. Já os ISRS funcionaram melhor no sentido oposto, para os pacientes com valores reduzidos em comparação ao grupo com altos níveis de PCR.

 

O que pode estar acontecendo à nível celular?

Neurônios, micróglia e macrófagos respondem a desafios inflamatórios ativando vias metabólicas que reduzem a disponibilidade sináptica de serotonina. Esses efeitos da inflamação no transporte de serotonina poderiam constituir um mecanismo pelo qual a inflamação periférica está associada à redução de resposta terapêutica aos inibidores seletivos da recaptação de serotonina.

Outra proposta é quanto aos achados relativos aos níveis de PCR. Valores de PCR são conhecidamente relacionados ao IMC, idade e sexo.

No caso da obesidade, já foi observado por outros trabalhos que pacientes obesos são mais resistentes ao tratamento com ISRS – e estes possuem valores mais altos de PCR. Um trabalho com modelos animais aponta que a obesidade pode induzir neuroinflamação e aumentar a expressão do transportador de serotonina, reduzindo sua concentração.

No entanto, são apenas hipóteses. Embora o grupo relate que as análises foram corrigidas por essas variáveis e não alteram os achados, a proposta do uso do biomarcador deve ser avaliado de forma individual.

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Um novo biomarcador?

Como um biomarcador bem caracterizado de inflamação sistêmica, a PCR é facilmente avaliada em ambientes clínicos de rotina. A medição altamente sensível da PCR está prontamente disponível na maioria dos laboratórios de bioquímica médica, e seus níveis são geralmente estáveis em amostras biológicas armazenadas.

No futuro, quem sabe seja possível estabelecer um valor de corte clínico para os níveis de PCR associados à depressão, podendo prever melhor a gravidade da doença e a eficácia do tratamento.

Referências:

Yuqian Pan, Rui Luo, Shuqi Zhang et al. C-reactive protein could predict the efficacy of SSRIs in clinical practice: A cohort study of large samples in the real world. Journal of Affective Disorders. Volume 313, 15 September 2022, Pages 251-259.

Heidi Splete. Níveis de proteína C reativa podem predizer o sucesso do tratamento com ISRS. 30 de setembro de 2022. https://portugues.medscape.com/verartigo/6508632

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