Inibidores de JAK como opção no tratamento de alopecia areata

alopecia retrospectiva

Alopecia Areata

A alopecia areata (AA) é uma doença autoimune crônica, na qual as células inflamatórias atingem o folículo piloso, impedindo o crescimento de cabelos e pelos. Pode se manifestar em pequenas ou grandes áreas (AA limitada) e, em casos raros, pode ocorrer “alopecia areata universalis”, no qual todos os pelos e cabelos são perdidos.

A AA acomete cerca de 1 em cada 1000 indivíduos, tanto homens quanto mulheres, com pico de incidência até os 30 anos de idade. Por ser uma condição autoimune, pode estar associada a tireoidite, vitiligo, psoríase, lúpus, dermatite atópica, rinite e doença inflamatória intestinal.

Sua etiologia não é completamente elucidada, mas parece ser mediada por células T em associação a fatores genéticos como HLA. Ainda, quadros infecciosos, traumas físicos ou situações emocionais podem desencadear ou agravar AA.

 

Tratamento

É importante orientar o paciente quanto ao curso da doença e a variabilidade da resposta ao tratamento. Não há, atualmente, uma cura para AA. Ainda, é importante destacar que o tratamento não é sempre necessário, e por muitas vezes é estético. Outras opções podem ser incluídas, como perucas. Dessa forma, incluir o acompanhamento psicológico dos pacientes é essencial.

No entanto, não podemos ignorar a importância do tratamento. Embora os pacientes com alopecia limitada frequentemente passem por resolução espontânea, aqueles com fenótipo moderado a grave geralmente apresentam doença mais resistente, afetando de forma significativa a qualidade de vida.

Didaticamente, dividimos os pacientes em três grupos: (i) pequenas e (ii) grandes áreas de acometimento, e (iii) doença refratária.

  1. Pequenas áreas de acometimento: são consideradas duas opções principais de tratamento, injeção intralesional de corticoide ou corticoide tópico de alta potência.
  2. Grandes áreas de acometimento: recomenda-se imunoterapia tópica. Não há uma formulação específica, devendo ser feito em farmácia de manipulação. Ainda, pode ser adicionado um tratamento com corticoide tópico intralesional em regiões específicas para potencializar o tratamento. Pacientes com perda rápida de cabelos e pelos no início do tratamento podem se beneficiar de corticoide sistêmico em associação.
  3. Doença refratária: algumas opções podem ser adicionadas ao tratamento, como antralina, azatioprina, metotrexato, sulfassalazina e imunobiológicos.

Para mais informações quanto a doença, diagnóstico e tratamento, consulte nosso app WeMEDS.

alopecia

Algumas dessas opções terapêuticas podem ser inconvenientes aos pacientes, além de oferecerem resistência a longo prazo. Com isso em mente, muitos estudos focam em novos alvos terapêuticos.

Recentemente, um grupo de pesquisadores avaliou a eficácia e segurança de Ritlecitinibe e Brepocetinibe, dois inibidores de tirosina quinase.

 

Inibidores de Janus quinase: uma nova opção terapêutica

A natureza autoimune da AA faz com que haja a presença de um infiltrado inflamatório no bulbo capilar – em especial, linfócitos T CD4+ e CD8+. Dessa forma, o crescimento capilar normal é prejudicado, resultando em alterações distróficas nos folículos anágenos (aqueles em primeiro estágio de crescimento).

Um papel terapêutico de inibidores JAK (Janus Quinases) já foi proposto em alguns outros estudos, visto que essas proteínas modulam diversas vias inflamatórias. Um ensaio clínico recente avaliou a eficácia e a segurança de dois inibidores de JAK: Ritlecitinibe (PF-06651600, inibidor JAK3) e Brepocitinibe (PF-06700841, inibidor JAK1).

O ensaio clínico ALLEGRO foi do tipo randomizado controlado por placebo, e analisou pacientes com AA, com mais de 50% de perda de cabelo do couro cabeludo e nenhum crescimento capilar nos últimos 6 meses.

Em ambos os tratamentos propostos, os pesquisadores notaram uma melhora no perfil lesional dos pacientes. Com brepocitinibe, a melhora foi observada em cerca de 12 semanas, enquanto com ritlecitinibe, os resultados foram mais robustos em 24 semanas. Esses dados foram identificados a nível molecular, e tais alterações geralmente ocorrem mais cedo do que as respostas clínicas.

Esses resultados fornecem novas informações sobre a patogênese da AA.

O tratamento com ritlecitinibe ou brepocitinibe resultou em regulação negativa significativa, além do eixo TH – incluindo ativação de células NK, linfócitos T, interleucinas 12 e 23, e outras atividades imunomoduladoras. As alterações na semana 24 puderam ser observadas de forma sistêmica, por marcadores TH2 (IL-4R e CCL13) no soro. Isso reforça ainda mais a importância de compreender a extensão da imunomodulação local do couro cabeludo e como ela se relaciona com a inflamação sistêmica.

O grupo destaca que, para aqueles pacientes cuja AA foi caracterizada por episódios ativos mais longos, o tratamento não foi tão eficaz. As alterações nos biomarcadores avaliados foram altamente significativas entre os pacientes com episódios mais curtos de queda de cabelo. Ainda, o trabalho incluiu poucos participantes, o que é uma limitação do estudo. Estudos clínicos maiores e de longo prazo são necessários para suportar os achados. Porém, os resultados são, no mínimo, interessantes.

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Referências:

Emma Guttman-Yassky, MD, PhD. Ritlecitinib and brepocitinib demonstrate significant improvement in scalp alopecia areata biomarkers. The Journal of Allergy and Clinical Immunology. Dec 2021.

Oral JAK Inhibitor Continues to Show Promise for Alopecia Areata. Medscape. Dec 2021.

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