Hipertrigliceridemia mais que dobra o risco de eventos cardiovasculares, mesmo em uso de estatinas

hipertrigliceridemia estatinas

Um novo estudo aponta que, independentemente do tratamento com estatinas, o desbalanço encontrado em pacientes com hipertrigliceridemia foi associado a mais que o dobro do risco de eventos cardiovasculares maiores e AVC de origem aterotrombótica.

 

Dislipidemia – uma condição metabólica que acomete metade da população

Cerca de 50% dos adultos apresentam alguma dislipidemia – hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia ou redução de HDL. Essa condição metabólica é conhecida por aumentar o risco de aterosclerose e, consequentemente, o risco cardiovascular.

A principal consequência da dislipidemia é a formação de uma placa aterosclerótica nos vasos de médio e grande calibre. Isso decorre do aumento do LDL que deposita colesterol no vaso, e redução do HDL, que tem como função retirar lipídio dos tecidos, vasos e circulação.

Os triglicerídeos (TG), por sua vez, acabam acelerando o processo de aterosclerose e é, por si só, um fator isolado de risco de doença coronariana.

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O resultado da formação da placa aterosclerótica é a obstrução do lúmen do vaso local, ou formação de trombos com obstrução de vasos de menor calibre distantes – levando a diversas condições como Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), Acidente Vascular Cerebral (AVC) e Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP).

Todos os pacientes devem ser orientados a manter o tratamento não medicamentoso, constituído por mudança de estilo de vida. Isso inclui reduzir a ingestão de gorduras saturadas, colesterol e evitar ingestão de ácido graxo trans, realizar atividade física regularmente, perder peso e, quando aplicável, reduzir o consumo de álcool e cessar o tabagismo.

O uso de estatinas é a primeira escolha no início e manutenção do tratamento de hipercolesterolemia. Normalmente, quando se trata a hipercolesterolemia, existe uma melhora associada da hipertrigliceridemia. Apenas em casos que os TG se encontram acima de 500 mg/dL, de forma isolada ou associada, o tratamento direcionado da hipertrigliceridemia se torna fundamental.

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A hipertrigliceridemia e o risco de eventos cardiovasculares maiores

Em abril desse ano, pesquisadores publicaram um trabalho na revista Neurology, avaliando a relação entre níveis altos de TG e AVC.

O grupo utilizou registros de AVC de um trabalho observacional prospectivo que está em andamento com 870 pacientes com AVC isquêmico agudo ou acidente isquêmico transitório (AIT), na Tokyo Women’s Medical University.

Para o trabalho, foi considerada estenose significativa das artérias cervicocefálicas casos com ≥ 50% de estenose ou oclusão. Como desfecho primário, foram avaliados eventos cardiovasculares adversos maiores, incluindo AVC não fatal, síndrome coronariana aguda não fatal e morte vascular.

A maioria dos pacientes era do sexo masculino (60,9%) com média de 70 anos, e cerca de um quarto apresentava hipertrigliceridemia – definida como níveis séricos de TG ≥ 150 mg/dL em condições de jejum.

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Como esperado, níveis elevados de TG foram associados a um aumento do risco de eventos cardiovasculares maiores, mesmo após ajustes para os possíveis fatores de confusão.

O que foi interessante destes achados é que um dos ajustes realizados foi o uso de estatinas. Ou seja, independente do uso das drogas, pacientes com hipertrigliceridemia tiveram um risco maior destes eventos cardiovasculares (20,9% ao ano) do que aqueles com níveis mais baixos de TG (9,7% ao ano).

A maior diferença entre os grupos foi observada entre os pacientes com AVC de origem aterotrombótica – taxa anual de 35,1% em hipertrigliceridemia vs 14,2% em níveis normais. Ainda, estenose arterial intracraniana e da artéria carótida extracraniana foram significativamente associadas aos altos níveis de TG. Em contrapartida, não houve relação entre níveis de TG e AVC cardioembólico.

 

Referências:

Hoshino T, Ishizuka K, Toi S, Mizuno T, Nishimura A, Wako S, Takahashi S, Kitagawa K. Prognostic Role of Hypertriglyceridemia in Patients With Stroke of Atherothrombotic Origin. Neurology. 2022 Apr 19;98(16):e1660-e1669. doi: 10.1212/WNL.0000000000200112. https://n.neurology.org/content/98/16/e1660

NEWS.MED.BR, 2022. A hipertrigliceridemia aumenta o risco de AVC recorrente, apesar do uso de estatinas e colesterol LDL bem controlado. https://www.news.med.br/p/medical-journal/1414000/a-hipertrigliceridemia-aumenta-o-risco-de-avc-recorrente-apesar-do-uso-de-estatinas-e-colesterol-ldl-bem-controlado.htm.

 

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