No início de novembro deste ano, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) enviou um ofício à ANVISA, CFM e AMB em posicionamento contrário ao uso indiscriminado do implante de gestrinona para busca de aprimoramento estético e físico de mulheres – o chamado “chip da beleza”.
Em resposta, a ANVISA proibiu a propaganda da substância, alegando que tais produtos são potencialmente “um risco à saúde pública”.
Gestrinona
A gestrinona (Dimetrose®, Nemestran®) é um esteroide sintético, com propriedades androgênicas, antiestrogênicas, antiprogestogênicas e antigonadotrópicas. Só aí já é de se esperar uma gama de efeitos adversos!
Sua principal indicação é para o tratamento da endometriose, mas as informações disponíveis são limitadas. Os estudos mostram pouca ou nenhuma diferença significativa na eficácia em comparação ao danazol (Ladogal®), porém a gestrinona apresenta efeitos adversos um pouco menos intensos.
É importante destacar que, para o uso indicado, a recomendação é via oral. Não há dados disponíveis quanto a eficácia e segurança do seu uso na forma de implantes. Porém, um dispositivo de silicone com o princípio ativo da gestrinona é disponível comercialmente, com a liberação contínua do hormônio, com o “objetivo de melhora na qualidade física”.
Na sua forma disponível via oral, acne, retenção hídrica, ganho de peso, hirsutismo e alteração da voz estão entre os efeitos indiretos mais observados. Porém, casos mais graves como insuficiência hepática, problemas cardíacos, aumento do colesterol e alterações mamárias têm sido observadas com o uso do implante.
Ainda, pela escassez de estudos quanto a eficácia e segurança, muitas das contraindicações são desconhecidas. Pacientes com insuficiência renal, hepática e/ou cardíaca, bem como aqueles com diagnóstico de epilepsia, não devem utilizar a gestrinona. Sem a devida fiscalização, o uso indiscriminado pode ser o responsável por grande parte dos efeitos adversos graves que têm sido observados.
A regulamentação
Em novembro deste ano, a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) junto ao DEFAT (Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade) se mostraram contrários ao uso estético (abusivo) de implantes contendo gestrinona.
Tanto a SBEM quanto o DFAT solicitaram um posicionamento dos órgãos regulatórios (ANVISA), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Médica Brasileira (AMB), quanto ao uso indiscriminado dos esteroides anabolizantes.
Na Resoluçãoº 4.768 de 22 de dezembro, a ANVISA concluiu, junto a Gerência-Geral de Medicamentos e Produtos Biológicos (GGMED), que se trata de produtos sem a devida regulamentação técnica. Ainda, a GGMED argumenta a falta de medicamentos com o princípio ativo (gestrinona) devidamente registrados e validados – sequer pedidos ou aguardando análise de validação.
Dessa forma, não há como alegar sua eficácia e segurança, e seu uso oferece um risco à saúde pública.
Nos anúncios e propagandas, o “chip da beleza” promete o emagrecimento, ganho de massa muscular e melhora na disposição física, e os efeitos colaterais são omitidos. Dessa forma, a propaganda dos produtos também foi barrada, como medida preventiva.
A promessa oferecida é um pacote de benefícios: aumento de massa magra e redução de peso, melhora na disposição física, interrupção da menstruação e até mesmo aumento da libido. Nessas situações, os efeitos colaterais parecem mínimos, ou intrínsecos. Queda de cabelo, acne, alteração do colesterol, mudança da voz – “é o preço a se pagar”.
Mas será que não estamos pagando muito alto pela estética? A longo prazo, os danos gerados são reversíveis?
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Referências:
“Chip da beleza’: Anvisa proíbe propaganda de produtos com gestrinona ao público geral.