Câncer de pele não melanoma
O câncer de pele não melanoma é a neoplasia de maior prevalência mundial. No Brasil, representa cerca de um terço de todos os tipos de tumores malignos. Em geral, apresenta diversas subclassificações, sendo o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular constituindo 99% dos casos.
A exposição prolongada e repetida ao sol aumenta o risco do desenvolvimento ao câncer de pele, pela exposição à radiação UV. A pele a primeira barreira natural do corpo humano contra agressões, estando extremamente exposta a danos – físicos, químicos e até mesmo biológicos.
A exposição diária e sem proteção à radiação UV pode acarretar danos celulares, levando ao acúmulo de mutações, que por sua vez, podem acarretar o surgimento de doenças, como o câncer.
Até aqui, nada de novo, certo?
Um estudo publicado na revista Cell Reports revelou importantes resultados sobre os mecanismos moleculares que sustentam nossas defesas naturais contra o desenvolvimento do câncer de pele. As descobertas oferecem novas pistas sobre o comportamento do câncer de pele a nível celular, abrindo caminho para potenciais alvos terapêuticos para tratar a doença.
O papel do CSDE1 no câncer de pele não melanoma
O estudo realizado no Centro de Regulação Genômica na Espanha mostra a funcionalidade de um gene denominado CSDE1 em queratinócitos. Este gene está relacionado a uma via metabólica intracelular complexa, incluindo eventos de senescência celular.
Relembrando: há etapas necessárias para o desenvolvimento bem-sucedido do câncer (chamados hallmarks do câncer), e de acordo com a atualização feita agora em 2022, a senescência celular é uma delas.
No estudo realizado pelos pesquisadores, os queratinócitos foram manipulados geneticamente para a indução de potencial tumoral. Nas análises, foi observada a influência no gene CSDE1. Quando o gene era silenciado, as células perdiam a capacidade de entrar em senescência ou apoptose – um dos primeiros processos de malignização celular.
Além desta análise, outro experimento revelou que as linhagens celulares que possuíam a supressão do gene CSDE1, quando implantadas sob a pele de camundongos, começavam a desenvolver tumores malignos. Os camundongos tratados com este tipo de célula desenvolviam a doença em cerca de 15 a 20 dias.
Nem tudo é o que parece
As descobertas dos cientistas trazem novos aspectos a serem investigados no futuro, visto a associação do gene CSDE1 com o desenvolvimento de tumores, em especial o câncer de pele.
Em trabalhos anteriores do próprio grupo, os pesquisadores já tinham observado um aumento da expressão desse gene associado a formação de tumores. Inclusive, essas observações foram notadas no câncer de pele do tipo melanoma!
Uma possível teoria que explica por que o CSDE1 se comporta de maneira diferente é que as células normais da pele ou os tumores têm variantes ligeiramente diferentes da proteína que afetam a maquinaria molecular mais ampla de maneiras diferentes. Além disso, precisamos sempre lembrar: a expressão gênica e função molecular é tecido-específica.
Além disso, os pesquisadores propões diferentes funções desempenhadas pelo gene, como a capacidade de influenciar a produção de outra proteína (a YBX1), conhecidamente responsável pela agressividade de tumores.
Mas quanto aos detalhes moleculares, podemos parar por aqui.
O que levar desse artigo?
Algumas considerações importantes devem ser destacadas. Estamos falando de um gene que pode ter influência no desenvolvimento e progressão do câncer de pele não melanoma. Assim como em outros tipos de câncer, a genética pode influenciar no aumento do risco do desenvolvimento da doença, e considerar novas mutações do tipo driver é essencial para a prevenção e diagnóstico precoce em casos de histórico familiar positivo.
Além disso, devemos dar a devida importância as vias moleculares tecido específica, e as características individuais de cada tipo de câncer. Dessa forma, novas opções terapêuticas personalizadas podem surgir.
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Referências:
AVOLIO, Rosario et al. Coordinated post-transcriptional control of oncogene-induced senescence by UNR/CSDE1. Cell reports, v. 38, n. 2, p. 110211, 2022.
GUO, Ao-Xiang et al. The role of CSDE1 in translational reprogramming and human diseases. Cell Communication and Signaling, v. 18, n. 1, p. 1-12, 2020.
How skin cells form a first line of defense against cancer. Center for Genomic Regulation. MedicalXPress. Jan 2022.